sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Um lanche a dois

Estava anoitecendo quando ele a convidou para um lanche. Eram vizinhos há poucos anos, mas só ultimamente vinham trocando algumas palavras. Ela, a princípio, tentou recusar o convite. Disse que precisava acordar cedo, que tinha medo do que os outros pudessem falar ao saber que os dois haviam saído juntos. Mas, para a satisfação de ambos, ele não desistiu. Não eram mais crianças, era só um lanche, que mal haveria? E não voltariam tarde, para que ela pudesse dormir no horário de sempre. Ela aceitou enfim.

Ele pensou em algum lugar mais reservado (era mais seu estilo), mas imaginando que isso não fosse impressioná-la, mudou de idéia e perguntou o que ela achava de lancharem no shopping. Os olhos dela brilharam. Depois, mais uma vez, quis recuar, pois era muito movimentado. A fila da lanchonete seria longa e demorariam a conseguir comer. Ele, sentindo-se envaidecido de ver que provocava nela uma espécie de timidez e insegurança, quis confortá-la. Não seria um problema esperar. Poderiam conversar enquanto isso. E, além do mais, era um feriadão, não teria tanta gente assim. Ela sorriu e consentiu.

Chegando lá, como ele mesmo predissera, não tinha tanto movimento. Pediram o lanche. Ela quis uma água, ele também. Ficaram assim, numa conversa discreta. Algumas vezes ele arriscou gracejos, aos quais ela respondeu com um leve ar aborrecido seguido de um risinho frouxo. Faziam um belo par e algumas pessoas nas mesas ao lado até mesmo pararam, ao menos um instante, para observá-los tímidos, porém concentrados um no outro.

As horas voaram, como acontece realmente quando se está com alguém querido, e ele observou ela olhar discretamente para o relógio. Sabiam que aquele encontro estava chegando ao fim. Ele tentou arriscar. Colocou levemente sua mão sobre a dela e pôde senti-la tremendo. Ela levantou aos olhos de encontro aos dele, depois os baixou novamente e foi puxando de mansinho a sua mão. Foi então que ele resolveu fazer a pergunta que estava o atormentando há dias. Respirou fundo e soltou: "Eu preciso saber, existe mais alguém? Alguém que você não possa esquecer, alguém que mereça tua atenção a tal ponto de você ficar tão esquiva?"

Ela mudou de cor. De repente seus olhos marejaram e teve que confessar que sim: "Existe! É alguém que me toma a maior parte do tempo. Acordo pensando nele e é desse modo que eu durmo também. Sinto não ter dito antes. Mas preciso dizer que nem por isso deixo de pensar em você. Todos os dias."

Agora era ele que estremeceu. Tomou o último gole d'água e com os olhos implorando, perguntou: "Eu o conheço"? Ela, envergonhada disse: "É alguém que me faz me sentir a mais velha das minhas amigas, porém a mais feliz também... Meu bisneto que nasceu no mês passado."

Ele num misto de alívio e surpresa soltou uma bela gargalhada que fez todos ao redor se voltarem para olhar. Ela entristeceu: "me achas mais velha agora?"
- De forma alguma. Te acho mais bonita agora.

O mais não posso contar-lhes porque seria extrema falta de consideração da minha parte para com esse casal que me permitiu saber tais detalhes. Só digo que, se virem por aí um jovem casal idoso trocando sorrisinhos adolescentes, lembrem-se que os bisavôs também amam, também sonham, também namoram...

E gostam de lanchar de vez em quando no shopping, como todos nós, reles adultos.



5 comentários:

  1. Reflexão interessante pro começinho do ano..
    parabéns! ;)

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  2. eiii eu conheço essa gata a thaís é minha amiga... parabens GATA..AMEI... BY-danyela catarina

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  3. Obrigada meus amigos!
    rsrsrsrs,valeu Dany!

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  4. Deu vontade de ler um romance sobre eles...

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  5. Que texto lindo!!
    gostei amiga. VocÊ como sempre, Caprichou!!!
    bjus ;)
    Nany

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