quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Dicionário da Mulher - Verbete: A virada de casaca

Volto a fim de engrossar o coro da superioridade feminina, causa justa e capitaneada pelo comparsa Ulisses, tendo o apoio incondicional deste que vos escreve. Bicho-homem é o rascunho da mujer. Somos tão filhos de primos que destinamos o amor ao que não compensa.

Em nosso raciocínio errado, pensamos que a razão pro cabra mudar de mulher, mas não mudar de time é: Se você é traído pela 1ª opção e continua, és corno,  da categoria dos mansos. Um corno domesticado. Já na 2ª opção, você é fiel... Um chute pra fora do estádio, diria.

Lembrei dos versos de Leonardo, cantador de dores cornais como poucos, que afirma categoricamente: “eu deixaria tudo se você voltasse, meus sonhos, meu passado, minha religião”. Atente para o detalhe que não é mencionada a escolha de representante do esporte paixão nacional. Ele não deixaria.

Já uma mulher é mais decidida quando se trata dos assuntos da vida. Ela abre mão de tudo por um amor. A amante, aquela que te recebe com beijinhos após uma jornada na repartição digna de Hércules, não se prende ao um grupo onde onze machos suados correm atrás da pelota. Ela se prende a você.

De tão bem resolvida sobre o que realmente a fará feliz, vira a casaca. Vejam só, a virada de casaca é a prova de amor que nem o sertanejo goiano ousara. Esquece os gritos da torcida, não faz questão de lembrar daquele gol sagrado que findou o jejum de décadas sem título. É a memória seletiva em ação em prol do romance.

Confesso, não sou capaz de tamanha nobreza. Deixo tal gesto fidalgo, digno de Sancho Pança, para as fêmeas mais leais ao coração. Não é pra este são-paulino teimoso. Dedico este texto para todas as minhas amigas que foram valentes a ponto de trocar de time. E também não posso esquecer das flamenguistas, corintianas, palmeirense, vascaínas, entre outras que, por simpatia com este sofredor, passaram a considerar um pouco mais as três cores vermelho, branco e preto, nesta ordem.

Se o abestado reparar e valorizar tamanho sacrifício, quero valer como a fêmea vai jogar um futebol bonito nas quatro linhas do quarto. Abra o olho ou pegarás uma bola nas costas, chegado. Elas não precisam de três pontos. Elas precisam é de cariño. E desse jeito, elas levam fácil esse campeonato de pontos corridos das relações.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Independência feminina

De todas as revoluções por minuto que a humanidade encenou, este blog destaca a maior delas: a independência feminina.

No grito do Ipiranga da criatura costelar, o mundo girou 90 graus. Um vovozinho de 89 anos provavelmente assume que dificilmente sobreviveria nessa atual selva dos relacionamentos humanos.

De fato é tudo muito novo. O que era omitido pelo machismo de outrora, agora nos é revelado de supetão. Mas como ficamos bestializados, pobres homens, com a eloquência de uma mulher ao explicar a divisão de classes marxista! E como nos sentimos pequenos diante de uma correção ortográfica impecável daquela que nasceu com a retórica na língua.
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A inteligência feminina nos seduz, e claro, amedronta. Mas pobre daquele que tente diminui-la com o mais cafajeste dos preconceitos: “mulher não sabe dirigir”. De bate-pronto ela lhe dirá, com fundamentações teóricas, inclusive, da inutilidade de tal sabedoria, “é necessidade criada”, dirá.
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Não tem jeito macharada, rendam-se e aproveitem o lado magnífico das mulheres 2.0, afinal, elas estão cada vez mais dispostas a fazer feliz quem fizer por merecê-las.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Dicionário da Mulher – Verbete: Banho de chuva

Este escritor de hábitos entre brutamontes e donzelas não tem conhecimento se já foi elaborada alguma pesquisa – dessas típicas de cientistas afeitos em analisar cada cena da vida com base em números – mas, arrisco o palpite: não existe um beijo dado durante um banho de chuva forte que não resulte em paixão arrebatadora.

É clara a relação entre a água fria, misturada com ventos que resulta em comichão no peito. Num toró, se usted é bom reparador de detalhes notará, a natureza se encarrega de acentuar, na base da água, a silhueta da mujer. “Eu me rendo”, é o máximo que o pobre diabo pode reconhecer dada a situação.

As gotas de água, que num daqueles fatos que provam a existência divina e não por acaso caem do céu, servem como cola para os tecidos que realçam os benditos formatos das vergonhas da fêmea. Ô lá de cima, gracias pela vista.

Aqueles que nunca beijaram sentido o sabor da mistura água das nuvens e saliva da amada são desconhecedores do gosto que supera o melhor dos drinques já criado.

O coito sob grande volume líquido entra sem dificuldade como capítulo de destaque no livro “Grandes momentos de nós dois” de qualquer casal. Recomendo que beije na nuca, nessa hora. Apenas recomendo. Se molhe. Larga mão do embaraço.

É na chuva que a paixão nasce. Brota, como um arremedo de uma planta. Vinga.

sábado, 25 de setembro de 2010

Soneto XXIII Sempre mais que antes


A cada nosso encontro um pouco mais se expande,

Mais pra diante lança a sua última barreira,

O que sinto por ti, que é já bastante grande,

Tendo dimensões como coisa passageira.



Qualquer breve gesto que a circunstância mande,

Qualquer sorriso, qualquer simples brincadeira,

É já razão para que ele mais longe ande,

Mais abrangendo do que a forma derradeira.



Se uma hora acho não poder te amar além

Do que já amo, nem mais, nem com mais fervor,

Que o seu limite, essa minha emoção já tem,

Algo acontece, algo aparece em teu favor,



E o meu amor, em expansões constantes,

Mostra que me engano, sendo sempre mais que antes.



*José Danilo Rangel

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Detalhes tão pequenos de nós dois - os cheiros

Há que se amargar a lembrança, vez ou outra, e nem é por querer. Porque o que eu queria mesmo era te esquecer. Mas ando impossibilitado disso.

Há que se amargar a lembrança por tudo que te traz de volta. Ando perdendo minhas horas por aí e nada de você desalojar. Sinto seu cheiro. Seus cheiros. Em todos os lugares.

Seu perfume eu sinto toda vez que entro na loja de perfumes, e peço pra moça borrifar um pouquinho do seu cheiro no meu pulso. Daí eu saio da loja abraçado ao pulso, me olham como doente, e eu sigo de olhos fechados lembrando de cada segundo que tive esse cheiro só pra mim. Eu, ciumento até da luz que a faz mais branca, tendo de me abraçar ao meu pulso porque seu pescoço andava ao alcance de um outro marmanjo que jamais te amaria como eu amei.

Todas as manhãs, quando vou à feira, sinto o cheiro do seu pastel de queijo e do seu caldo de cana domingueiros, e choro copiosa e silenciosamente junto aos bagaços moídos. Preparo uma metáfora fajuta entre os bagaços e meu coração, e falho miseravalmente porque ninguém, nem um poeta delirante de amor, seria capaz de realizar tal metáfora de maneira bem-sucedida.

No restaurante do trabalho, se algum comensal pede suco de cupuaçu, meu olho se enche de lágrimas. Você odiava cupuaçu com todas as suas forças. Você dizia que fedia. E eu me lembro perfeitamente de você dizendo isso, com tanto amargor na voz - "cupuaçu fede, tira isso daqui".

Há que se amargar a lembrança. E sentir cada cheiro seu. Até comprei o mesmo aromatizador de banheiro que você usava, acredita?

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Amores outros e outros modos de amar

Ele mal nasceu e ela também, mal sabem que foram feitos um pro outro, quase isso na verdade, não é que desde sempre fossem peças encaixáveis, porque não nasceram exatamente prontos um para o outro, mas foram assim se concebendo e se construindo, a idéia é que ninguém nasce pronto para nada, muito menos para amar, para ‘eles’ essa é uma lição que se aprende. Mesmo recém-nascidos todos já sabiam que ambos tinham algum tipo de ligação, talvez os dois pequenos não soubessem, mas todo o resto sim. Quando crianças começaram a brincar juntos e sem se darem conta estavam iniciando algo que perduraria por muito tempo de um significado essencial para suas vidas. No pátio central, em torno do qual as casas se dispõe formando um círculo, eles puderam fazer jogos, conversar e se olharem, não era forçado, era natural, estimulado em certa medida, mas ambos não resistiam um ao outro, e em algum momento descobririam que iriam viver juntos e compartilhar muito mais que brincadeiras e conversas. Ainda crianças Ele a chama de “minha futura esposa” e Ela chama a ele de “meu futuro esposo”, talvez não tenham consciência do que isso significa realmente, mas foram ensinados por todos que assim deveriam se referir. Tanto ele como ela não tinham percebido ainda, mas já se conheciam melhor do que a qualquer outra pessoa, ainda eram pequenos, mas já possuíam uma sintonia e uma ligação que ultrapassava muitos níveis. O amor que entre eles já existia antes de seus nascimentos foi costurando desde tenra idade toda uma vida, até que em um dado momento perceberam que haviam estabelecido uma identidade dual, uma noção de pessoa de dois indivíduos, e então se casaram e tiveram filhos. Ele que antes brincava de caçar agora vai fazer a roça e cuidar do alimento para a família, e ela que antes aprendia com a mãe a cuidar dos filhos, estava fazendo cestos para armazenar os peixes que ele pescava.
Bem, o amor indígena não significa casamentos arranjados, fruto de imposição autoritária, mas são experienciados como aprendizados, para depois concretizarem uma espécie de fusão, são amores que se constroem juntos desde muito cedo, são concebidos, o casal aprende um sobre o outro ao mesmo tempo em que vão aprendendo sobre si e, nesse sentido, o ‘eu’ se confunde com o ‘outro’, fazendo do ‘outro’ o eu, subvertendo a matemática, transformando dois em um. O amor deles é fruto de amizades infantis, com sentimentos fraternais que passam com o tempo a ser temperados por “químicas”, por proximidades corporais que não se saciam mais com contatos curtos. E então se dão conta que na verdade eram amigos diferentes, apaixonados sem saberem, com um desejo latente que esperava o momento certo para se manifestar, e que quando se manifesta torna a amizade e a sintonia construída ainda mais potente.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Eu Coleciono Amores Impossíveis


Foi apenas um amor de verão, eu sei. Mas eu ainda vejo o seu rosto quando deito a cabeça no travesseiro (essas vis criaturas que atormentam os corações abandonados). Ainda ouço a sua voz todas as vezes que fechos os olhos, e tenho quase certeza que pude sentir sua respiração no meu pescoço antes de acordar pelo menos umas duas vezes nesses últimos dias. Eu sei que nunca daria certo. Era pra ser apenas mais um dos amores impossíveis que eu colecionei por essa minha vida. Mas mão foi apenas isso. Não consigo explicar, nem tente entender, mas é como se você me abrisse uma porta que eu tinha fechado há muito tempo e já nem lembrava que existia. Ai você vem e escancara tudo de vez, deixa o sol entrar, o vento arejar o ambiente, mas em vez de fazer uma faxina apenas bagunça tudo. A verdade é que eu já tinha desistido disso, sabe. Esse negócio de me apaixonar. De esperar ansiosa por um sms ou ter vontade de fugir no meio da noite, ou largar tudo só para encontrar alguém. Ai você me solta aquela gargalhada, que faz seu rosto ficar todo vermelho, passa a não pela cabeça raspada e me pede uma cerveja, e pronto, está feita a desgraça. Logo eu que nunca acreditei nesse negocio de paixão relâmpago. Uma semana é pouco tempo. Não tem como alguém gosta assim tão rápido. Mas você veio pra fazer tudo cair por terra, mesmo. Quebrar meus paradigmas. Tocar o terror no meu coração. Talvez tenha sido melhor não termos conseguido nos ver naquela noite, porque acho que não conseguiria entrar naquele avião e ir embora. Como deixar para trás o seu olhar carinhoso pela manhã? Você me ensinou que eu ainda sou capaz de amar em uma época em que acreditava que meu destino era de encontros fugazes e sentimentos superficiais. A saudade pode ate passar, e talvez você nem lembre o meu nome em alguns anos, ou nossos momentos se apaguem aos poucos da memória ate serem lembranças distantes. Mas ainda assim, você me fez acreditar ser possível sentir de novo, justo quando pensei que já era a hora de desistir. Eu coleciono amores impossíveis e você foi o maior de todos porque que me fez acreditar que talvez eu possa começar a procurar os alcançáveis.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Saudosa suruba

"Se chove, tenho saudades do sol, se faz calor, tenho saudades da chuva".
José Lins do Rego



“O cabra pode ser valente e chora”, canta a pedra o trovador dessa toada. Faz só metade de hora que arrotei não sentir mais nada pela pequena, e cá estou, achando que nessa vida um sorriso não passará de uma lembrança daquelas que ficaram longe que só. Tento mudar as ideias nessa cabeça.

Passo a mão no meu queixo, até notar a trairagem do acaso: aquele fio de cabelo comprido, presente involuntário esquecido no velcro camuflado de barba por fazer. E ela vai crescer ainda mais.

Para não se sentir largado tal qual o dono, convidará para fazer companhia as olheiras, olhos encharcados, nariz vermelho e boca murcha. É como disse o poeta cantador Fagner e faço questão de repetir “o cabra pode ser valente e chora”.

Tento fugir dessa saudade. Briga perdida. Ela está comigo e não larga. É a nota fiscal de um amor sincero que foi. Ou é. Sim, sim... Ele não morre com palavras esquentadas na frigideira da cólera. É preciso o tempo para matar.

Porém, este piadista de gosto duvidoso resolveu andar a passos vagarosos, só pra ver no que dá. E não dá. Eu a magoei. O que na hora parecia questão de vida ou morte, agora nem cabe na gaveta dos “fuleiros e desimportantes sentimentos”.

Ahora, solo mi riesta terminar essa garrafa de tequila com a Saudade. Essa bêbada desagradável vai dormir comigo nesta noite. E pra completar a putaria bacanesca da minha fracassada biografia amorosa, essa minha amante convidará sua parceira de imoralidade rampeira, a Esperança.

Se a amada se foi, fico aqui, nesse inglório ménage à trois com essas duas vadias.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Haicai do Gosto

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Do transgressivo Ataualpa Pereira