terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Um bom motivo







Já não escrevo tanto assim

Não por falta de palavras

Ou mesmo inspiração

Se não escrevo como antes

É por falta de tempo

Não por falta de paixão.

É que o tempo anda escasso

E o que me sobra eu passo

Sem reservas com meu bem

Se não escrevo poesia

Não é por falta de amor

Nem de alegria

É por culpa de alguém

Que me ocupa os pensamentos

Preenche o coração

Alimenta meu sorriso

Já não tenho mais tempo

Perdoem o meu sumiço

Essa vida de correria

Entendam e relevem

Melhor ainda que escrever

É viver... Viver a poesia.



Thaís Carvalho

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

O copidesque da parceira

Todo careta no relacionamento é maldito. Não sabe que, dentre as maiores bestagens, ser caxias com o amor é imperdoável. Vade retro, Lineu Silva! É regrinhas pra cá, chatices pra lá. Sem pestanejar, na hora em que a dama usa teu ombro de travesseiro, não é pra apelar pro cartesianismo. 

Por supuesto, não se formata um chamego com normas da ABNT. Amigos, este conselheiro sentimental paraguaio de araque avisa: não seja o fiscal sanitário do amor. Não fique ali, cri cri que só, procurando o menor vacilo para se vangloriar de percebê-lo e exigir mudança. É claro que vai achar, mas é mais claro ainda que vai encher o saco. Deixa de fazer testes pré-olímpicos na sua relação. 

Em outras palavras, largue mão da sarna para se coçar. Amor não deve ser testado, só vivido. De tanto querer que a parada dê errado, uma hora consegue. Resta saber se é intenção. Se for, seja macho e dê cabo ao envolvimento sem frescuras de querer sair por cima. 

Outro ponto que vale menção é a mania da mudança da parceira. Só os idiotas pagam de copidesque dos hábitos da cúmplice. ¡És la perdición! Corta essa de mania besta de diagramar a saia, as amigas, os gostos musicais, e por aí vai. Invés de conselho, dê afago.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Receita para um relacionamento saudável



Cientistas de alguma universidade importante da Europa, pesquisaram, pesquisaram... e chegaram a uma conclusão, no mínimo, curiosa: a receita do relacionamento saudável. Consiste em medidas exatas de comportamentos, para que não se desgaste o relacionamento a dois.


Aos dados: o “eu te amo” não deve ser pronunciado mais de 5 vezes por mês, segundo eles, isso pode contribuir para a dependência do outro, causa fundamental dos casos crônicos de ciúmes e esquizofrenia.


Nada de rodízios de carinho. Além de ser limitado duas vezes por semana, deve-se evitar mudanças bruscas no modo como agradamos o cônjuge, pois isso evita o tão propagado câncer de carência de atenção. Mas caso você extrapole (ninguém é de ferro), pode balancear com algumas horas de preocupação com a carreira ou com o risco da bomba atômica do Irã.


O segredo da vida feliz consiste, assim, na burocratização do amor. É leitores, burocracia é chata, mas necessária, uma gestão bem feita pode estabelecer o perfeito controle da situação. Sendo assim, beba essas palavras, caso não queira viver.

domingo, 20 de novembro de 2011

Da camiseta



Receio em pedir de volta a camiseta. Medo. Daqueles medos que se tem de saber a verdade por que mais que seja ela ruim. Fingir que é boa também não adianta nada. Ela foi minha, mas tão tua ao mesmo tempo. E não lembro, mas acho que foi de muitos outros antes de nós. Usávamos eu e tu e às vezes ao mesmo tempo. Mas acabou ficando sem mim. Ficava melhor em ti, confesso. Todo cinza é teu e isso nada vai mudar. Está registrado em ata. Se carregas contigo ou se guardas no fundo da gaveta junto com aquelas que estão furadas, com as mangas rasgadas, talvez comida por traças, manchada de água sanitária ou simplesmente apertada, se mandaram-te queimar ou doar para necessitados ou fizeram-na de pano de chão: não me importo. Só queria certificar que ela passa bem mesmo amassada. 

*Texto de Kaline Rossi

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Perigo à vista


Uma menina num jardim fotografa girassóis com cheiro de jasmim. Em sua memória, a imagem de um móbile de peixes, que ela fotografou ontem, na casa de um amigo seu. Ela tenta ilustrar algo que não tem nome. Se o amor existe, afinal, qual é a sua cor? Sua forma e textura? Se não tem nome, será mesmo que existe? Se não existe, o que existe, então? Aquelas flores bem que poderiam ser jasmins disfarçados de girassóis. E aqueles peixes... ah, se fossem pas-as-ri-nhos! Se é amor, pode ter nome, cor e forma que a imaginação permitir. E pode se alterar com os dias... Crescer, se intimidar, ficar de longe e criar uma saudade só para ter o gostinho do reencontro. Pode ir embora só para forçar um beijo mais forte de despedida. E, na noite do dia seguinte, ele vai perguntar: como foi seu dia hoje? Ela vai falar que fez fotos de nove balões voando. Uma parte é mentira, a outra é um convite para voarem juntos. Quando perguntar sobre o dia dele, ele vai falar de política e economia só para calcular, do jeito certo, um sentimento que dispensa cifras e regras. 

[...]

Quando ele abriu os olhos, ela já estava com a mão na chave quase ligando o carro. Ele demorou a voltar ao mundo real e notar que o cheiro de jasmim vinha de um canteiro miúdo e não daquele jardim para o qual foi transportado enquanto a beijava. Tocava qualquer música do Queen, que também podia ser Beatles, The Doors ou Led Zeppelin. E foi apenas um drink de morango com abacaxi, meio sem açúcar, com uma vodka meio aguada, que a fez fechar os olhos e se deixar bailar, enquanto ele brincava com os cabelos e tentava lembrar o nome da música. E ela foi capaz de passar o dia inteirinho lembrando o segundo em que aqueles lábios se tocaram pela primeira vez. “Tudo está nos olhos” – ele pensava. Mesmo sendo capaz de evitar prováveis mal-entendidos (mesmo lembrando que: o que atrapalha um relacionamento é o anterior), ela soube: está tudo perdido. Tentou transverter tudo em literatura para ver se aquele sentimento se imprimia e fugia por entre os dedos e seguia para o mundo da terceira pessoa, daqueles que vão e não voltam nunca mais, até serem reencontrados, por acaso, na gaveta do esquecimento. Mas, o máximo que conseguiu foi traçar algumas poucas linhas em que “ele” e “ela” são os mesmos, com a simples ilusão de que é capaz de dividir, decifrar e decidir. 

*da série de inacabadas. 

sábado, 29 de outubro de 2011

Sentir Saudade

  Aqueles olhos que nasceram para sorrir, que outrora foram locados pela tristeza, haviam voltado ao seu normal. Alí residia a felicidade.

  Agora ao encontrar-se sozinha já não chorava, apenas sentia um aperto no peito, era saudade. Não daquilo que a feriu, mas dos momentos ternos que fazia morada em sua vida há poucas semanas.
Não concordava com camões: O amor não era fogo que ardia sem se ver. Era mais brando, pacífico, era o descanso da sua alma cansada de perambular pelo mundo. 

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Dos Encontros da Vida




 Aquele encontro tímido. As palavras eram medidas, mas a troca de olhares não era capaz de conter o verdadeiro desejo que se fazia oculto naquele momento.  O tremor tomava conta do corpo dela. Ele era como um corpo fechado, difícil tentar decifrar. O coração da menina batia a cada palavra dita pela boca daquele estranho, afinal era a primeira vez que se viam.

  Quanto mais o tempo passava, menos a garota queria se distanciar dele. Sentia um nó na garganta por estar chegando a hora de partir sem receber um ósculo qualquer. Lembrou da recepção que tivera ao se reconhecerem: abraço demorado. Um aconchego que aliviava a cruz que trazia na alma. Afagou-lhe os cabelos, pretos, desalinhado pelo vento que fizera enquanto procurava pela casa do estranho.

  Nessa procura, suas pernas tremiam, tudo que conseguia externar era um sorriso louco, insano, de saber que encontraria finalmente seu cúmplice de conversas e teorias furadas. A medida que buscava pela casa, sentia também medo. Medo de estar se apaixonando por ele. Não poderia saber jamais. Caminhou calmamente, respiração cada vez mais ofegante.

  Alí estava. Abaixou a cabeça para esconder o riso que escapou ao ver que ele estava a sua espera. Como era alto. Olho-a e a menina se sentiu perdida naquela mirada. Fitou-o e foi correspondida com um longo abraço. Era como uma boneca naqueles braços, pequenina, indefesa, apesar da dor que marcava seu âmago. Entraram e conversaram por horas.
  Ele levou a garota para casa e por fim, chegaram ao destino final, despediram-se amistosamente. Os dois seguiram seus rumos. Mais tarde, ao conversarem, umas 2 da madrugada, o garoto faz a pergunta que gelou a menina:

"Se eu for aí, você me dá um beijo?"

 Confirmou a resposta e em cinco minutos lá estava ele, esperando pelo grande prêmio da noite.

  O beijo aconteceu. O tremor que tomou conta dela anteriormente já não existia. Era perfeito.

Ela o amou.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Sobre relacionamentos não vividos


Procrastinar tem sido uma válvula de escape da maioria das pessoas que eu conheço. Imaginar como tudo vai ser, sem ao menos ter uma base das possibilidades do que desejam, acontecer. Parece que quanto mais você quer, menos será possível conseguir. Imagino que 99% de toda a população terráquea já teve algum tipo de devaneio sobre como seria se tivessem coragem de entregar-se para os sentimentos sem pensar demais nas consequências. Mas aí vem o ponto chave dos que criam uma dimensão paralela, e dos que não fazem ideia de estarem sendo ''usados'' em vontades oprimidas - e/ou reprimidas. A grande diferença é simplesmente a racionalidade e o sentimentalismo de ambos - o que deseja, e o ''objeto'' de desejo.

Geralmente eles são completos opostos e , talvez exatamente por isso, não concretizaram-se como possíveis companheiros amorosos.Relacionamentos não vividos são mais complexos que casamentos.
Tanto porque causam aquela ansiedade de ter a pessoa perto e vendo uma aparente estabilidade feliz, tanto pela dependência de imaginar como teria sido se fulano tivesse arriscado, ou se ciclano não fosse tão covarde.
É inevitável não pensar, e até se abater pela tristeza que , vez ou outra, insiste em te puxar pelo pé de madrugada e te colocar no fundo do poço ( ''bad'' para os íntimos, rs ) que você pensou ter saído faz tempo.
Mas a vida não é lá muito injusta, porque se por um lado você sofre por não poder ficar com quem achou amar, por outro em um dia chuvoso e tranquilo, você vai receber uma ligação inesperada , um convite para jantar , de alguém que talvez mereça mais atenção do que ficar remoendo-se em situações bonitas que procrastinou - ou , até mesmo, já viveu .

Acredito que o ser humano é capaz de se adaptar à situações extremas, e se elas ainda não foram superadas é porque você ainda não lavou toda a fossa do peito, amigo! Então tratemos de fazê-lo, antes que todo esse lodo apodreça essa parte tão vital, que nos diferencia de todo o resto.
O romantismo exacerbado pode parecer utopia remota, mas enquanto houver um punhado de pessoas que o pregam com convicção, ainda existirá esperança para superações e recomeços.
Esses ciclos de relacionamentos não vividos duram a vida toda; sucumbir à melancolia enquanto você pode sorrir com algumas lembranças boas, que naquele momento era tudo que você podia permitir-se , é tolice. Se antigamente isso era algo digno e admirável, nesses nossos tempos modernos resume-se a simplesmente uma palavra: fraqueza.
Não seja um mártir de suas história de amor, seja pura e simplesmente o único protagonista.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Detalhes



“Detalhes tão pequenos de nós dois, são coisas muito grandes prá esquecer. E a toda hora vão estar presentes, você vai ver...” cantarola o Rei, inspirando nesse momento cerca de 1292 brasileiros enamorados, maiores de 18 anos.
Tudo bem, digam que isso foi há 30 anos, mas em seguida assumam, os detalhes continuam grandes demais para esquecer, e continuamos com a velha calça desbotada, procurando o retrato antes de dormir.
Quem nega, provavelmente é fruto do amor líquido, objeto de Bauman e não merece, neste momento, dividir atenção com o homem das rosas brancas. Então em frente, com nosso amor e até os erros do meu português ruim, para dizer dos detalhes envoltos nesse troço chamado sentimento.
No seu ouvido, palavras de amor e na agenda o bilhete discreto com palavras de veludo, no celular a musica da banda famosa, feita sob medida para nossos encontros e promessas pro futuro.
Durante muito, muito tempo em sua vida eu vou viver, fazendo confissões difíceis sem medo da longa estrada do tempo.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

O amor

Quando o amor minguar
Vou procurar outra dor
Vou me envolver noutro laço
Vou me perder noutro vício
Vou recolher meus pedaços
Vou retornar ao início

Eu, que ando preso num vácuo
Eu, que não sei nem quem sou

O amor despenteia os cabelos
Deixa o sono intranquilo
É impossível detê-lo
É inútil segui-lo

É o amor quem nos segue
Nos cega
Nos suga
Depois faz que peçamos
Mais

O amor quebra algemas da alma
E enche os copos vazios
Leva o resto da calma
Deixa os olhos no cio

Toda vez que o amor
Te chamar
Te quiser
Bota a casa nas costas
E, asas postas,
Vai

Rodolfo Minari

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Amar é...


Entre tantas janelas,
ver, num pedacinho de céu, alguém. 

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

A música e o amor


A música começa dentro

Depois salta como uma expressão

Transformando o corpo em instrumento


A música é uma atitude

Que transborda em sentimentos

Diariamente provado pelo corpo


O AMOR não é tão diferente

Ele começa com uma atitude

Que resulta em sentimentos


O AMOR é sempre grátis

Assim como a música


O AMOR tudo supera

A música nunca acaba


O AMOR é o tempero

A música o delicioso prato


Quem não tem música

Morreu para o AMOR


E quem não tem AMOR

Jamais fará da VIDA

Uma canção para VOCÊ

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Segredo






Não me leve a mal

O amor tem pressa

De ser feliz

Mas pra mim

Não é assim

Como se diz

Tenho medo

Não me leve a mal

Nem me deixe

Com este segredo

Guardado aqui

Meu coração silenciou-se

Mas ainda bate

Em disparate

Por ti.


Thaís Carvalho

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

A paixão da mulher “moderna”*


Ele destrói suavemente toda essa cara de blasé, de “tô nem aí pra você”. Os olhos ficam moles, o sorriso mais fácil ainda. Dá uma vontade de se ajeitar, quem sabe passar um pó compacto. Uma vaidade misturada com insegurança. Boba, fala um monte de asneira. Fica envergonhada depois. Mas aí já era. E o pior é que ele ri, como se enxergasse algum tipo de beleza nisso. Essa coisa de paixão acaba com a mulher moderna. A palavra-voz vindo de uma mulher moderna apaixonada às vezes é desastrosa. Em vez de trabalhar, ler um livro de filosofia, a mulher moderna apaixonada se iguala a uma adolescente, perdendo seu precioso tempo lembrando-se dele, sonhando, suspirando de saudade. A mulher moderna apaixonada fica mais de 30 minutos tentando escrever um e-mail bonito, que faça com ele ache ela ainda mais interessante. A mulher moderna apaixonada compartilha com ele algumas de suas secretas inseguranças. A mulher moderna apaixonada responde os torpedos dele com poesia, poesia que ela tenta fazer. E o pior, a mais condenável das atitudes, a verdadeira derrota da mulher moderna sob o efeito da paixão: ela começa a ler sobre o campeonato brasileiro e até cogita a possibilidade de torcer pro time dele.

*Texto da amiga e fotógrafa Talita Oliveira.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Sentir...


Na soma de todas as letras, concluo desiludida
Cansei das palavras!
Elas que pareciam tão companheiras minhas
No fim das contas
Mentiam nas entrelinhas
Sim,
Palavras mentem, enganam
Dissimulam
Palavras brincam, criam mal-entendidos
Encabulam.
Elas têm o poder de curar,
mas que força possuem para fazer sangrar!
Não as quero pra mim. Antes, decidida, prefiro olhares.
Quão lindos são os olhos em que se vê
Sentimento
Que refletem o que sentem, sem nenhum armamento.
Quero esses olhos!
Quero abraços sinceros, quentes, confiantes...
Quero abraços que não fujam, não enlacem sem apertar
E que não apertem pra sufocar. Mas, se o sufoco for bom
Que mal há?
Quero olhares, abraços!
Atitudes decisivas.
Pois a maior declaração de amor é não declarar.
É demonstrar. São essas provas vivas, são gestos
Que palavra nenhuma pode registrar.
Os sentimentos mais puros e honestos
São o que não são preciso falar, ou definir.
Basta somente uma coisa:
Sentir...



Thaís Carvalho


terça-feira, 9 de agosto de 2011

Dicionário da Mulher – Verbete: O clima

Ou só “Clima

Se faz calor, ótimo! Agora sim temos a desculpa tropical para atitudes calientes e nudez abençoada, amém. Não façamos cerimônia, meu chamego: essa roupa só é obrigatória no ciclo social, mas agora é supérflua. “Tira! Tira! Tudo que é bonito é pra se mostrar”, explica a letra de um desses axés baratos que caracterizam a perdida década de 90.

- Tô sedenta por um banho!, avisa a bandida. Digo sem medo de errar, tal constatação está entre as melhores posições do ranking de frases feitas para a higiene, mas de cunho pornô-erótico. Bate a vontade de usted e cá estou com a esponja a postos para dar um grau nas tuas costas, tua nuca, tuas coxas, tuas vergonhas e sem-vergonhas. (Momento para mandar um agradecimento especial para o gênio por trás da criação mítica: a banheira)

Que tempo maluco, já começa a ventar deveras forte. Caem as folhas, mas o clima de filme francês sobe. Amigo desta confraria, incorpore o espírito de Serge Gainsbourg nessa hora e parta para o arremate. Vento esperto. Brisa gaiata. Brinca com os cabelos. Vem na velocidade exata para erguer a saia da desejada. Quando dá fé, lá está adaptação não-autorizada da eterna cena clássica protagonizada por Marilyn Monroe. Venta mais, venta!

Curiosas, nesse instante se achegam as nuvens. Escandalosas, não fazem questão do direito de ficarem caladas. Partem pra gritaria trovejante. Brrrruuummmm!!! “É chuva!”, grita o senhor da banca de jornal. Tempestade das boas para se molhar, e como outrora disse por essas bandas, a água cai e faz da roupa o molde do corpo da mujer. Uma aguinha não faz mal, amor. Chove aí que é gostoso.

Aí esfria tudo. Atire a primeira pedra aquele que não desferiu para a dama a célebre proposta: “Esse friozin exige um bom vinho...”. Ou melhor, se nunca o fez, largue as pedras e atire-se nesse delírio. Assistir entrançado a um filme, después partir para a histórica posição de conchinha, jogar umas conversas fiadas audíveis apenas em pequenas distâncias, começar umas sacanagens. Clássico dos clássicos na "sessão friagem" por baixo de edredons.

Este cronista é sempre a favor das mudanças do tempo. Viva à alternância de poder climática! Sendo assim, não é forçoso nem olhar no jornal para saber qual clima está rolando ou que está rolando um clima. Concorda?

domingo, 24 de julho de 2011

Dicas de um bom papo: Rio Acre


O glamour do rio



“Nem Deus afunda o Titanic” disseram alguns comandantes, provavelmente sob efeito de muito vinho e/ou espumantes, em 15 de Abril de 1912. Mal imaginavam eles, ao descer profundamente em algum ponto gelado do atlântico, que um século depois seriam homenageados na capital do Acre, em águas federais brasileiras.



O “Flutanic”, palavra oriunda da mistura de “Flutuante” com “Titanic”, que usarei aqui para substituir o mal entendido apelido, é reconhecidamente o maior ponto turístico-noturno de Rio Branco. Apesar dos concorrentes crescerem como o capim de calçada, (inúmeras boates, pubs, e botequins chinfrins) o Flutanic não perde seu status de “barquinho do amor”, nas águas do rio barrento.




Há quem prefira freqüentá-lo quando o rio está cheio, pois a distância da escadaria até a balsa é menor, e os riscos pós-bebedeira diminuem cerca de0,5%. Outros desconsideram as estatísticas, e se concentram no forró, na cerveja barata, nas danças, e ainda há quem fique curtindo a bela paisagem beira-rio, bem ao estilo “sem-frescura” – “manda mais uma”, e segue o jogo.


O rio Acre é “território” federal, supomos então, que o Flutanic seja o mais brasileiro dos bares acreanos, aliás, é restaurante também. No sobe e desce do rio, tem oferecido aos visitantes o lazer no lugar feito para ser transporte, pode ser que seja esse o segredo do sucesso. E não duvide desse sucesso que já ultrapassa o bairro da base, a capital, o Brasil, o mundo. Ilustrado com a conhecida história do um famoso cantor de rock, que ao chegar a Rio Branco, perguntou ao motorista – Onde fica mesmo o Putanic? (Errrg.. escapou..)

terça-feira, 19 de julho de 2011

Malinculia*



De Antonino Sales

Malinculia, Patrão,
É um suspiro maguado
Qui nace no coração!
É o grito safucado
Duma sôdade iscundida
Qui nos fala do passado
Sem se torná cunhicida!

É aquilo qui se sente
Sem se pudê ispricá!
Qui fala dentro da gente
Mas qui não diz onde istá!
Malinculia é tristeza
Misturada cum paxão,
Vibrando na furtaleza
Das corda do coração!

Malinculia é qui nem
Um caminho bem diserto
Onde não passa ninguém...
Mas nem purisso, bem perto,
Uma voz misteriosa
Relata munto baxinho
Umas históra sôdosa,
Cheias de amô e carinho!

Seu moço, malinculia
É a luz isbranquiçada
Dos ano qui se passou...
É ternura... é aligria...
É uma frô prêfumada
Mudando sempre de cô!

Às vez ela vem na prece
Qui a gente reza sósinho.
Outras vez ela aparece
No canto dum passarinho,
Numa lembrança apagada,
No rumance dum amô,
Numa coisa já passada,
Num sonho qui se afindou!

A tá da malinculia
Não tem casa onde morá...
.........................
Ela véve noite e dia
Os coração a rondá!...
.........................
Não tem corpo, não tem arma,
Não é home nem muié...
.........................
E ninguém lhe bate parma
Pru causo de sê quem é!
.........................
Ela se isconde num bêjo
Qui foi dado ha muntos ano...
Malinculia é desejo,
É cinza de disingano,
Malinculia é amô
Pulo tempo sipurtado,
Malinculia é a dô
Qui o home sofre calado
Quando lhe vem à lembrança
Passages de sua vida...
.........................
Juras de amô... isperança...
Na mucidade colhida!
.........................
É tudo o qui pode havê
Guardado num coração!
.........................
É uma históra qui se lê
Sem forma de ispricação!
.........................
Pruquê inda vai nacê
O home, ou mêrmo a muié,
Capacitado a dizê
.........................
Malinculia o qui é!!!




*Modo sertanejo de dizer "melancolia".

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Feliz Aniversário Ulisses!

Compartilho com vocês, confabulações minhas e do Helder Jr, no final desta manhã, via skype:

[11:54:36] Giselle Lucena: ei
[11:54:41] Giselle Lucena: queria fazer um post pro ulses
[11:54:47] helder.jr: acho justo
[11:55:25] Giselle Lucena: vou ecsrever algo
[11:55:27] Giselle Lucena: e te mando de tarde
[11:56:54] helder.jr:
[11:57:17] Giselle Lucena: mas me ajuda a pensar em algo bem humorado
[11:58:10] helder.jr: acho que devíamos descrevê-lo
[11:58:17] helder.jr: o ulisses é uma figura
[11:58:49] helder.jr: ele é o amigo mais futurista e consevador que tenho
[11:58:54] helder.jr: tem a bunda enorme
[11:59:13] helder.jr: é corintiano, mas nunca pegou nada de ninguém (corintiano tem fama de bandido)
[11:59:38] helder.jr: ele é empreendedor e trabalhador
[11:59:54] helder.jr: e principalmente: gosta de alugar um que nem presta
[11:59:59] Giselle Lucena: ele é o romantico-empreendedor da confraria
[12:00:01] helder.jr: hahah
[12:00:05] helder.jr: isso
[12:00:05] Giselle Lucena: tá bom já
[12:00:08]helder.jr: é quem dá o gás
[12:01:22] Giselle Lucena: esses detalhes sobre o q ele dá, só tu sabe... eu não.
[12:02:30] helder.jr: ui!
[...]

É bom ter você como membro desta Confraria! Parabéns pelo seu dia, por ser quem você é e por estar conosco nesta prosa!

segunda-feira, 11 de julho de 2011

A obra prima

Tinha esfriado no final do dia. Corri pra casa e o encontrei como venho encontrando há meses: enfiado no livro. Guardei meu sorriso. Ele tinha me ligado à tarde dizendo que estava com saudade, perguntando o que estava fazendo, umas bobeirinhas assim que ele nunca tem o costume de fazer. Então eu corri pra casa e achei que a ligação e o frio iriam ajudar. Mas lá estava ele, enfiado no livro.

__ Acabou sua obra de arte?

Ele não levantou a cabeça, mas percebi que só então ele tinha se dado conta da minha presença. E respondeu entre dentes um “o que você acha?” bem mal humorado.

__ Quanto mais tempo você leva pra acabar esse livro, mais e mais ele vai acabando com a gente.

Ele suspirou. Fui pra cozinha, me sentindo a pessoa mais sozinha da face da terra. E é surreal se sentir sozinha quando se mora com alguém. Mas eu me sentia.
Vinha assim há meses. Eu entendia, ou tentava entender o máximo que eu podia. Tinha o livro, que era um objetivo pessoal que ele vinha perseguindo há anos, tinha o trabalho no banco, tinha os problemas familiares (o pai dele é uma “maravilha de pessoa”), enfim. E no meio disso tudo tinha eu. Sem família, sem grandes amigos, sem paciência pra pessoas. E tinha a gente, um relacionamento maravilhoso, a melhor conversa que já tive, o melhor sexo que já tive. E entre a gente, esse abismo.

Me perdi nos preparativos de uma sopa (pra um, os farelos de pão pela mesa me indicavam que ele havia comido) e ouvi o celular dele tocar lá do quarto. Conversa rápida, não mais que cinco minutos, e ele passou pela sala apressadamente avisando que estava de saída.

__ Vai onde? Aconteceu alguma coisa?
__ Não, só o Fábio que me ligou. Vou tomar uma cerveja.
__ Ah.
__ “Ah” o quê?
__ Nada. Só “ah”.

Tinha isso. Eu tinha tanta vergonha disso. Juro por Deus. Ele tinha todas as ocupações com o banco, o livro, a família. Ok. Quando se dava uma folga, ele escolhia qualquer pessoa do mundo pra estar. Menos eu. Deus, como isso me envergonhava.

Tomei minha sopa e me joguei na cama. “Chorei, chorei, até ficar com dó de mim”. Não vi quando chegou, só senti o cheiro pesado de álcool. Devia ser bem tarde. Ou já de manhã.

Acordei quase meio-dia e lá estava ele, imerso no processo criativo de acabar com o que eu sentia por ele. Jurei pra mim mesma nunca mais me envolver com artista bancário, de nenhuma área. Ou, se fosse o caso, me envolveria só com os músicos, porque eles pelo menos deixam claro que são cabeludos, safados e vão comer todo mundo e te fazer sofrer miseravelmente. Mas jamais me envolverei novamente com um poeta que finge ter sentimentos. Rolei na cama sem coragem e quando fui me levantar bati a perna nas costas dele sem querer. E instaurou-se o caos.

Ele me acusou de agressão. Disse que eu vinha agindo como adolescente, que não conseguia entender os processos dele, que ele tinha que cuidar da vida e que o arrastar da minha solidão pela casa não ajudava em nada. Que eu tinha que sair e arranjar umas amigas pra falar mal dele. De repente até arranjar um amante, quem sabe assim eu ficaria quieta e daria a ele o espaço que ele precisa. Disse mais uma série de coisas horríveis, que só de pensar me ruborizam a face de tanta vergonha. Eu me levantei sem chorar, sem vacilar, juntei minhas coisas numa bolsa de viagem e no momento em que pus os pés fora do prédio desabei. Chorei no meio da rua, e eu não chorava na frente de ninguém. O porteiro, seu Geraldo, ficou horrorizado. Quis chamar a ambulância, me levou pra dentro do quartinho dele, pediu pra esposa passar um café bem forte pra eu me recompor. E eu chorava copiosamente. Chorei copiosamente, na frente de estranhos, por umas duas horas.

A esposa do seu Geraldo, dona Bete, me deu um café fortíssimo e sentou do meu lado no sofá com uma cara de pena que me deu dó. Era magrinha, pequenininha, o ser humano mais frágil que já vi. Quase não ouvi sua voz quando ela me perguntou o que tinha acontecido. Hesitei, mas acabei contando como eu vi de mãos atadas meu relacionamento afundar. E de algum lugar no fundo daquela mulher frágil saiu um discurso tão duro e realista que senti vergonha. Não pelo que falei, mas por tudo que permiti que acontecesse nesses últimos meses.

Após uns dois dias a vida já tava voltando à normalidade, mas o discurso da dona Bete não saía da minha cabeça. E era justamente nisso que eu pensava quando ele me ligou. Pediu desculpas, disse que agiu feito idiota, que a casa não era a mesma sem mim, falou falou falou e eu chorei chorei chorei copiosa e silenciosamente. Disse a ele que passaria lá em alguns dias, pra quem sabe conversar, ou só pegar o que de mim restou por lá. E o fiz, naquela mesma tarde. Toquei a campainha algumas vezes, ele não atendeu, então entrei. Ele estava dormindo. No escritório, sobre a escrivaninha, o livro. Fui até a última folha e constatei que estava pronto.
Ateei fogo aos papéis. Tive o cuidado de ir até a cozinha, pegar um litro de álcool e derramar no computador, que obviamente também pegou fogo. Certamente ele teria aquele material no e-mail, mas só o fato de saber que aquilo dificultaria de alguma forma o trabalho e traria um prejuízo mínimo, me senti feliz. Me senti leve, como há muito não me sentia. Depois fui até o quarto, bati, abri um pouquinho a porta. Ele acordou com a luz no rosto.

__ Oi, amor.
__ Oi, meu bem. Sua obra de arte tá pegando fogo.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Entre Datas




Eu nunca fui boa com números. Sempre demoro para decorar telefones, tenho dificuldade em conferir trocos, fazer contas ou ate mesmo decorar datas. Sério, já esqueci o aniversário de todos os membros da minha família. Não é de se espantar que eu sempre me confunda em nossa história. Afinal, qual foi o final de semana que ficamos pela primeira vez? Qual foi o dia do nosso primeiro beijo? Por quantas semanas ficamos juntos? Quando foi nossa primeira briga? Quantas brigas tivemos? As lembranças vão cada vez mais se misturando na minha cabeça, e muitas vezes eu não consigo me lembrar o que veio antes do que. Fico olhando o calendário e me perco em meio aos números.

Só lembro da nossa última vez. Da última vez que me beijou. Foi no seu quarto. Da última vez que dormi em sua casa. Estava frio, mas você não quis me abraçar. A última vez que segurou a minha mão. Já era noite e pegávamos o ônibus. A última vez que me procurou. Estava inquieto e iamos sair. A última vez que me fez raiva. Almoçavamos. E sei exatamente por quantos dias estamos separados. Isso, eu não preciso nem contar nos dedos. Essa é a unica conta que eu não me perco. Não esqueço, por mais que queira, a data do nosso fim.

A verdade é que eu guardei todas as nossas despedidas. Fico cuidando delas porque é a única coisa que me restou. Quando elas começarem a desaparecer, quer dizer que acabou. E eu não sei se já estou pronta para superar você.

sábado, 2 de julho de 2011

O primeiro beijo - o último encontro

Era a quarta série e você deve ter sido o meu primeiro melhor amigo. Tínhamos uma amizade delicada: você se sentava à minha frente, trocávamos lápis de cor e dividíamos o lanche. Você, inclusive, me deixava cuidar do seu “tamagotchi”, até eu ter o meu e a gente cuidar do “filhotinho” um do outro. Posso dizer que era amor do nosso jeito? Na quinta série, veio uma vontade inexplicável de te beijar. E foi na saída de uma aula qualquer, na garagem da escola, que nossos lábios se tocaram e, antes mesmo que abríssemos os olhos, eu – logo eu - te pedi em namoro e você aceitou.

O caminho daquele Colégio Meta I até o escritório do meu pai, de repente, ficou muito estranho. Eu fiz uma caminhada saltitante, leve e, ao mesmo tempo, cheia de medo: será que estava escrito na minha testa que eu acabara de dar o meu primeiro beijo e tinha agora um namorado? Qualquer reação podia ser suspeita... A tarde foi longa, muito longa, muito, muito, muito longa, longa o suficiente para eu chorar perdidamente e me arrepender do pedido que fizera. Me arrependi a ponto de inventar uma mentira e ligar para minha melhor amiga de então – que tinha acompanhado tudo, desde a minha decisão até o fato consumado – e pedir para que ela desse um recado a você: o namoro estava cancelado. Inventei que tinha recebido uma mensagem do além dizendo que aquilo não podia continuar, que estava tudo errado e que um dia nós iríamos entender. Afinal, era a quinta-série, e eu lá sabia o que significava estar namorando, só sabia que não estava pronta praquilo e nem tinha jeito para explicar.

Naquela aula seguinte eu poderia ter fingido uma dor de barriga, forçado algum vômito ou ter paralisado o pé e ficado em casa. Mas não: eu encarei o mundo. Na escola, todos já sabiam do nosso beijo e você passou por mim com um ar boçal que eu nunca tinha conhecido, acompanhado por todos aqueles garotos bobos e idiotas. Minha amiga ficou de dar o recado, mas não conseguia; você, afinal, não queria ouvir a ninguém, apenas curtir o seu momento. Eu fiquei na minha...

Quando a minha amiga te contou que eu não queria mais namorá-lo, você ficou puto e mandou me dizer para nunca mais olhar na sua cara. Exatamente assim. Senti um alívio estranho. Afinal, não estava mais namorando, mas, também, acabava de perder o meu primeiro melhor amigo. De qualquer forma, meu coração ficou tranqüilo, como se soubesse que te guardaria sem dor. Não estudávamos mais juntos e você passou para o turno da tarde. Desde então, nunca mais nos falamos nem nos vimos. E a vida foi passando... (assim como outros beijos e namoros iniciados e inexplicavelmente mal-acabados...)

Cerca de 12 anos depois, é num almoço rotineiro lá no O Paço, que eu te vejo. De blusa listrada, boné escondendo os cabelos lisos que caíam sobre os teus olhos (eu os achava tão lindo: os cabelos e os olhos...). E você ainda de aparelho nos dentes! Você chegou com uma garota loira, de cabelos cacheados, que talvez seja a sua namorada ou qualquer outra coisa. Mas, eu ainda poderia olhar na sua cara?! Eu sei que você me viu, mas eu virei o rosto sabe-se lá por quê. Talvez você nem me reconhecesse. Talvez você percebesse que eu já fui mais bonita ou notasse o quanto meus seios cresceram. Mas eu não poderia sair dalí sem alguma certeza, e sem te mostrar que ainda lembro.

Esperei os nossos olhos se cruzarem mais uma vez e, quando menos esperei, você piscou com um dos seus olhos castanhos e deu um sorriso discreto com o canto da boca. Não seria mentira e muito menos exagero dizer que foi um momento pleno e singelo onde tudo à volta congela e desaparece. Eu queria poder te contar do que eu não esqueci. E da leveza que o seu sorriso e aquele seu olhar (que, eu sei, viram também uma história) me proporcionaram naquele momento.

Eu fiquei com um sorriso bobo, revivendo coisas e imaginando outras... Foi então, que meu irmão fez alguma piada comentando que eu estava rindo sozinha. Sim, eu estava, afinal: lembrar do nosso primeiro beijo – que foi também o nosso último encontro - é sempre bom. Agora, poder lembrar também do nosso mais novo último encontro, será melhor ainda.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Eis que tudo se fez verbo

Já não sei o que sinto,
Mas sinto lá dentro, nas entranhas do peito,
Aperto sem jeito, me leva pra outro lugar.
Que fazes a voltar nesse caminho sem retorno?
De alegrias melancólicas, de palavra sem lugar.

Ai que dor me dá,
Sentir sem o verbo amar,
Sarar sem remédio ter
E viver sem recordação guardar.

sábado, 18 de junho de 2011

Amor*

Neruda diz que dois amantes felizes não tem fim nem morte. Gandhi diz que ele tolera e Camões que ele é um fogo que arde sem se ver. Nietzsche diz que aquilo que se faz por amor está sempre além do bem e do mal.Fernando Pessoa diz que o amor romântico é como um traje. Maiakóvski desconfia que onde tudo é aceito há falta de amor.Abel Bonnard diz que o amor pode morrer na verdade.Tolstoi diz que o amor começa quando uma pessoa se sente só e para Baudeleire ele lhe irrita por ser um crime de cúmplices.Russell diz que temer o amor é temer a vida. François La Rochefoucauld diz que o amor nós faz cometer os erros mais ridículos.Veríssimo que o oposto do amor é a indiferença.Tchekhov diz que o amor mostra ao homem como ele deveria ser sempre.

Einstein diz que só o amor socorre por dentro e Lord Byron que ele é uma coisa a parte. Balzac diz que ele é a poesia dos sentidos e Jabor completa dizendo que é sexo e prosa também. Carl Jung diz que onde ele impera não há desejo de poder e Gandhi rebate dizendo que o amor é a força mais sutil do mundo. Goethe diz que o amor é uma das grandes asas do espírito, uma grande façanha. Walter Scott diz que o amor é um viajante,Pascal diz que ele é cego e Pessoa que é um sonho.

Nietzsche diz que ele revela a qualidade dos sublimes e Schopenhauer que ele compensa a morte. Já Camilo Castelo Branco diz que é condição de felicidade. Samuel Johnson acha que ele é a sabedoria dos loucos e a loucura dos sábios e só tal loucura permitira Stendhal dizer que o amor é uma bela flor à beira do precipício...

eu o acho infinito...

*Texto da Gabriela Oliveira do blog Minha Antena Parabólica

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Quem tem medo do dia dos namorados?

É sempre a mesma história. Você, caro leitor e membro dessa Confraria, já deve ter ouvido impropérios semelhantes por aí. Chega o dia dos namorados e somos bombardeados de solteiros pregando o quanto é maravilhoso ser solteiro e que casal dá ânsia de vômito. De outro giro, também somos bombardeados de pessoas que amam e são EXTREMAMENTE felizes porque amam, mas de uma felicidade que chega a incomodar. E obviamente essas pessoas acham que os solteiros felizes são na verdade frustrados e recalcados que nunca descobriram o amor.

Eu, do alto da minha felicidade normal de ter alguém pra compartilhar o mel e o suor da vida, prefiro ser nem tanto ao céu nem tanto à terra. Porque, olha só, já fui adolescente. Já amei de maneira doentia e incômoda. Tenho a absoluta certeza que devo ter incomodado alguém com a minha felicidade transbordante e delirante de ter um namorado pra quem dar um presente no famigerado dia 12 de junho.

Também já fui a solteira feliz que pregava aos quatro ventos que era uma maravilha fazer sexo com qualquer ser vivente que eu tivesse desejo, que era uma maravilha não estar obrigada a gastar dinheiro em uma dia criado pelo comércio pra se aproveitar dos apaixonados ridículos e tudo isso aí.

O fato é que o tempo e todas as cicatrizes que acumulei nos últimos 27 anos me ensinaram uma porrada de coisa, que tento aplicar não só no meu relacionamento com a persona grata, mas em todos os relacionamentos que eu tenho. Sabe como? Família, emprego, amigos e tal. O lance mesmo é achar o ponto de equilíbrio e levar a vida como se estivesse vivendo de amor e brisa.

Porque amar é legal, é legal pacaralho. Quando é normal. Quando ninguém se consome, quando o excesso não vira o todo. Quando a gente consegue amar a persona grata mas também ter um trabalho, e ter amigos pra beber nos fins de semana. E quando você menina-moça não fica perturbando a paciência alheia postando fotos e musiquinhas e coisas rosadas sobre você e seu "mozão". Se eu te contar que perfis únicos nas redes sociais pra você e seu "mozão" não são legais, cê vai acreditar? Vai não? Houston, we have a problem. Se você trabalha na mesa ao lado e liga pro seu namorado de dez em dez minutos pra saber o que ele anda fazendo, e usa voz infantil em público, WE HAVE A HUGE PROBLEM. Não quero saber o que seu namorado almoçou. Tampouco preciso saber se estava gostoso.

Por outro lado, não amar pode ser legal, mas assume: tem hora que faz uma falta. E nem vem dizer que é o ápice da liberdade poder transar com todo mundo. Primeiro porque eu tenho certeza que você, solteiro profissional, não transa todos os dias com pessoas diferentes. Tem casal que transa todo dia. E uma transa diferente todo dia. Esse papo de sexo de casal que é chato e tal é meio caído. Que todo casal morre na rotina também é meio caído. Até porque rotina, te garanto, não é esse bicho papão que cêis pensam não. Tem coisa mais deliciosa que conhecer tão bem a persona grata a ponto de poder surpreendê-la num estalar de dedos? Tem não. E esse é o tipo de coisa que a rotina proporciona. Conheço casais que têm tanto medo da rotina que sequer suportam estar a sós. E isso não é legal.

Olha, me perdi. Voltando aos solteiros profissionais: você pode, de fato, ser feliz sem um namorado. Você pode, claro, achar um nojo aqueles casais absurdamente felizes. Eu também acho. Mas você não precisa maldizer o amor e todos os namorados do mundo. Porque tem gente normal, sabe? Gente que mora junto e tenta tirar o bom e eliminar o ruim da rotina. Gente que não mora junto e não se fala todo dia.Tem gente, EU JURO PROCÊ, que não faz idéia do que o namorado almoçou.

E o dia dos namorados taí, é um fato. Eu não costumo dar presentes e nem receber. Italo Rocha me fez um quadro uma vez. Eu escrevi pra ele o texto mais bonito e sincero que já tive capacidade. São lembranças. Pequenos gestos que dizem apenas "oi, lembrei de você, porque amo você". Ninguém precisa de rosas caindo de um helicóptero ou carro de som com música da Celine Dion pra provar que ama. Isso, de fato, é um exercício diário. Mas você não precisa ser coração gelado e fingir que não dá pra fazer uma coisinha bacaninha a dois.

E, uma dica: as operadoras de telefonia sempre têm promoções ótimas essa época do ano. Até se você for solteiro dá pra aproveitar. Então sai do cercadinho se joga nos smartphones em promoção, boba.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Pedras no peito

Em um quarto vazio.
A chuva caindo como que querendo anunciar o presságio de algo ruim. A mal-iluminação, a situação e o aperto no peito.
Mesmo que conseguisse afastar aquele peso, não saberia se era o melhor a se fazer.
Alguns de seus velhos cadernos - há muito tempo evitara escrever, afinal, isso só aumentava seu estado de torpor - achados, espalhados á sua frente, todos preenchidos com escritas mal organizadas, desenhos sem sentido e riscos rústicos.
A velha caneta - e a tinta que parecia nunca acabar - tudo encontrado no mesmo lugar, como se tivesse encontrando a paz que parecia sempre querer fugir de sua vida.
Se você esforçar-se somente um pouco e repousa-se sobre a pequena seus olhos, notaria o seu semblante sombrio. Enxergaria seu quase imperceptível desespero gritante.
Ela queria se livrar de tudo aquilo e nunca conseguiu, não consegue e provavelmente não conseguirá.
Suas mãos, trêmulas, vasculhavam seus cadernos á procura de folhas em branco, e quando as encontrou começou o seu discurso sem hesitação:

Hoje, eu morri novamente
Com o toque das
minhas pálpebras
Com o suspiro e a respiração
que somente existem para lágrimas.
As lamúrias constavam mais de mil anos
em meu apodrecido peito.
Eu quis novamente viver
E o custo da escolha foi o meu retorno ás origens...
Aquelas que me separei e mandei embora.
Meu sentir - já tão debilitado - Outra vez ajoelha-se implorando
á mim para sua extinção.
Toco uma última vez na face dessa
desordem
e a deixo á mercê de suas próprias displicências.
Adequa-se á outra - maldita -
não existe mais apego em mim
E eu continuo debruçando sobre meu caos melancólico.
Sobreviverei.