sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Viva La vida*


“Eu ouço os sinos de Jerusalém tocando”, como diria ColdPlay; há quem prefira a trilha sonora de Vivaldi em Primavera de As Quatros Estações. Verdade que quando se está apaixonado, qualquer coisa faz lembrar a pessoa amada. Verdade também que a paixão augusta se tornou rara em nossos dias. Nada mais de suspiros, de olhar a lua juntos, de flores, ou de declarações afáveis. Afinal de contas, onde estarão os “sinos” internos dessa nossa geração? A atualidade tornou as coisas práticas demais. O flerte se resumiu a segundos (e quando há).E Assim as coisas correm sem as complicações dos arrufos de corações “absinticos”.
Vale dizer, a paixão arrebatadora e descomposturante é rara sim, mas não está em extinção. Um dia ela nos chega e nos faz ver um mundo novo de delicias multicolores; o futuro não nos interessa, o presente é imprescindível (principalmente nos momentos a dois) e o passado se torna algo longínquo, sem sentido... O problema é quando tudo isso acaba e nos vimos em um quarto escuro, debaixo do edredom escutando Bruno e Marrone. Ah! Lembro-me agora dos saborosos versos de Vinícius, “de repente fez-se de triste o que se fez amante, e de sozinho o que se fez contente”. Aí temos de aprender como sair de uma situação que lembramos vagamente como entramos.
Mas a idéia é simples. Quando aparece o The End, isso indica a hora de se acender as luzes, levantar a bunda da cadeira e ir pra casa. Mas agente não faz isso, não é? Não. E o que se faz diverge de individuo para individuo, incluindo depredação de bens, catatonismo, melancolia, voluptuosidade, alcoolismo, loucura... (a lista segue). Tudo confirmando a lei ação x reação.
A dor de cotovelo, acredite, é um aprendizado como a maioria das outras dores. Ao nascermos sentimos a dor aguda e imprescindível do ar adentrando os nossos pulmões. Por isso, não fuja, aprenda. Avalie-se e amadureça. Caso se sinta só, compre um conhaque. Depois disso você estará mais forte (ou mais bêbado); apto a valorizar mais o The End, tanto quanto o começo.
Depois de uma dor de cotovelo qualquer um passa a valorizar mais o chope com os amigos. Viva La Vida!
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* Texto inaugural do romântico Denner G. Lopes.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Da arte de DR’s


Temos profunda admiração pela advocacia e seus benefícios para a vida em sociedade, mas pensando bem, sem tirar o mérito da classe, não é tão difícil assim convencer um juiz utilizando regras claras (uma constituição ou um código regente), difícil mesmo é a vida de quem “bate DR”.

Na Discussão de Relação não há regras, aliás, a regra que diz que após duas premissas temos um argumento, é totalmente descartada nesse momento.
- “Mas você não se importa comigo.”
- “Me importo sim. Lembra quando sai daquela reunião pra te levar ao médico?”
- “Tá jogando na minha cara? Era grave!”
- “Não estou jogando não, mas é que...”

Pronto! Um bom sinônimo para DR seria Dízima Periódica, tamanha é a infinidade do debate. Há inclusive relatos de pessoas que passaram meses puxando o fio do novelo da paciência. E assim como a dízima, o desfecho de uma DR nunca é exato, alguns saem dessa batalha mais leves e confiantes, cantarolando para a vida e dizendo: “nada como um bom diálogo para esclarecer as coisas”. Já outros, ao encerrar a encrenca, querem passar semanas incomunicáveis justificando o seu desgaste verbal.

Boa ou ruim, a DR é um fato da vida amorosa que necessita de bons argumentos. Nos parece tão necessária para uma relação duradoura, quanto à lembrança de um ano de namoro, ou seja, de DR em DR sincroniza-se os interesses, apara-se as arestas de uma relação que tem a intenção de durar para sempre (utopia?) ou termina-se o que não deveria ter começado.

O tribunal da DR é o amor (ou ausência de). O comprometimento de cada um, o respeito mútuo deve guiar um bom debate, afinal, ninguém discute horas com outra pessoa sem gostar dela, nesse caso simplesmente ignora-se. Quem não suporta, é bom acostumar-se ou talvez procurar uma faculdade de direito.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Uma vez mais*

Nutridos no mistério, levados pelo instinto, encontram o desejo mais aguçado, desinibido.
Nas verves rápidas desse instante, solto... leve. Os músculos ecoam pedidos incessantes, é o grito da fome, da sede.
Nessa sina de ser um estranho ímpar, o toque é a mais voraz necessidade, é preciso estar lado a lado, colados, pares.
Sentem a brisa ao vento, cavalgam nas emoções, em palavras soltas, rabiscadas no lençol de seda vermelha. Mas fome, mais sede.
Nesse instinto caçador, são minhocas enroscadas nas raízes do desejo.
Dessa poesia ao verso, a sublevação, à subversão, a conspiração.
Dessa lira à cólera insaciável, se confundem cantos numa ternura gritante.
Nessas paredes sem rasuras ou fissuras, por entre os espinhos, com apenas uma certeza: a de sentir a felicidade em existirem, uma vez mais.

*Este é o primeiro texto (de muitos, espero) da amiga e excelente jornalista, Andréa Zílio, para a Confraria. Mais uma romântica que escreve como poucos...

domingo, 24 de janeiro de 2010

PECULIAR

Outro dia, despretensiosamente, li um pequeno pedacinho de um texto, “mais pequeno”, que um pequeno dicionário amoroso, nessa contemporaneidade de novas mídias que eu nem conheço bem, acho que tratava-se de uma “tweetada” romântica contendo palavras de desejo. Desejo de que todos tivessem algo para amar, e que esse algo (ou alguém_ grifo nosso) para amar fosse possível ser amado profundamente.

Falava de um tipo de sentimento que parte do âmago dos seres amorosos e não de qualquer coisa superficial, como os frutos das influências oriundas de alguma propaganda bem bolada por um publicitário. Daí eu não saberia dizer o porquê pensei naquelas situações em que se tem algo ou alguém para amar do jeito que se ama o pão de queijo da padaria do seu Manoel, casos em que as propagandas sobre o pão de queijo da padaria do outro lado da cidade não partem de mestres da publicidade e nem de comerciais fantásticos, só partem do que se sente particularmente ao comê-los assim como são particulares os sentimentos únicos de quem ama alguém (ou alguém coisa).

Talvez seja por isso que alguns pensadores dizem que todo encontro é único em si mesmo, como diz o famoso ditado, “cada um com seu cada qual”, e que esses encontros únicos, mediante uma vida de longos caminhos e percalços, sejam desastrosos, eventuais, furtivos, engraçados ou ao acaso, mas que sejam sempre maravilhosos e especiais.

sábado, 23 de janeiro de 2010

Carta com pedido deste cafajeste: não se dispa para mim


Uso este blog para te impetrar: meu amor, não me espere nua. Quero que você me receba vestida. Nem se precipite em tirar a calcinha. Se faça de preguiçosa. Ou melhor ainda, dê-se por desentendida. Isso mesmo, finja que não é nem contigo. Gosto desse jeito desleixado de encarar as minhas taradices. Deixa qu’eu tiro para vós mercê, mujer. Não, não é incomodo algum. O prazer não é todo meu, porque faço questão de dividir com usted.

Quando te dispo com os olhos é graças à vontade de te despir com as mãos e dentes. Sua nudez é o resultado, mesmo assim ainda quero descobrir o valor de “x” dessa equação. Vamos lá, não seja má de me tirar essa alegria. Se possível, use aquele sutiã DeMillus com presilhas. Demorei longas noites e inúmeras tentativas até aprender, mas hoje sou perito na arte de abri-los. Consigo com apenas uma mão, deixando a outra liberta para o trabalho mais aprazível. Se tenho essa habilidade, é lógico que quero te mostrar. Não pergunte onde aprendi, somente aproveite. Quero me exibir para você.

Mas não sou o senhor deste território. Existem técnicas das quais ainda sou aprendiz. E como GOSTO de aprender! O som do teu risinho quando me embaraço para desabotoar aqueles benditos novos modelos de calças jeans é orgástico. Zomba, malvada! Mas pense que se trata de um aprendizado deveras fueda de bom...

Se o tipo de roupa é de total conhecimento deste amante, confesso que finjo, vez ou outra, ignorar como é que se tira. Assim, você vem com aquele ar professoral me ensinar como é se faz. Você fica por cima. E eu também.

Comigo já deixaram pulseiras, colares, escapulários, brincos, calcinhas e, até mesmo, calças jeans, admito. No começo, pensava ser culpa de falta de fósforo no organismo das desmemoriadas. Foi então que, antes de recomendar uma alimentação a base peixes, descobri que nada é por acaso. Aquilo que se tira com a dedicação e o desejo que tenho, passa a ser um presente a minha safadeza.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Epifania mal-interpretada

Era tarde. Quer dizer, à tarde. Eu caminhava pelo deserto semi-árido que é Brasília no período da seca, entre o Palácio do Buriti e o Memorial JK. Tinha perdido um ônibus, eu acho. Ou sei lá, acho que ia até o Sudoeste a pé, justamente por ter perdido o ônibus, isso. Ia passar na casa dela por algum motivo que não me lembro agora, só que era um motivo doído. Tipo acertar os detalhes da separação. Tipo pegar a caixa com as minhas coisas essenciais ("os quadros deixa aí que eu coloco pra vender numa galeria depois" - ela disse, muito vaca. Comprei aqueles quadros de um artista vanguardista que ela adorava a um preço absurdo, dá pra entender a revolta?). Enfim, eu tinha rompido com a mulher da minha vida, o ser humano a quem mais amei na face da terra e por quem briguei com minha mãe e fui banido de todos os almoços de família para sempre. Deus, como eu amava aquela mulher. Mas ela, bruxa má do oeste, percebeu que em algum momento eu a sufocava e quis dar no pé. Quer dizer, dar no pé é só pra ilustrar a situação, porque quem ficou sem carro e sem apartamento fui eu. Porque eu jamais deixaria a mulher amada e desamparada na rua da amargura. Sendo que a rua da amargura dela era um outro cara no meu apartamento. Que agora era dela. Não sou um monstro, sou um romântico burro e incorrigível.

Voltando. Perco o foco às vezes, desculpem aí.

Estava debaixo daquele calor inclemente de Agosto caminhando em direção à casa que um dia foi minha ouvindo uma das musiquinhas mudernês que ela gostava. Nem sei o nome da banda. Tinha colocado no meu mp3 porque me fazia lembrar dela, e sou desses que gosta de se torturar após um fim de relacionamento. Eu não gostava daquele tipo de música até ela aparecer na minha vida. Ela era mudernê, entendam, eu era um classicista chato, extremamente preconceituoso e sem vontade de conhecer nada novo. Brigávamos horrores por conta disso, porque ela queria ir pras festas de discotecagem mudernê da cidade e eu nem queria ir e nem queria que ela fosse, porque ficar sem ela por algumas horas me deixava em completo desespero. Eu emburrecia sem ela. Sabe como? Não sabia o que fazer das pernas. Mas ela queria ir, e batia o pé, e dizia que se sentia um pássaro aprisionado na gaiola comigo. Eu também odiava essas metáforas, ela era a rainda das metáforas, mas como eu a amava eu suportava isso. E depois que ela me deixou eu virei o rei das metáforas também, mas perdi meus amigos por conta disso. No fim das contas ela acaba indo pras festinhas mudernês e eu ficava em casa macambúzio olhando pro relógio de minuto em minuto esperando seu regresso. E quase sempre colocava um brega sofrido no som porque era assim que eu me sentia, um cara brega que sofria.

Vou tentar desenvolver o tópico sem resgatar esse tipo de lembrança dolorosa. Bom, era a tarde de um dia quente e eu tinha perdido o ônibus e então eu decidi ir caminhando até a casa dela pra buscar qualquer coisa minha da qual ela queria se livrar. Era agosto. Em Brasília. Isso significa que nessa época do ano faz um calor desgracento e o tempo seco e a baixa umidade não ajudam em absolutamente nada, apenas no pôr-do-sol mais bonito que já vi na vida. Então era agosto, e como é final do período da seca, costuma chover de uma hora pra outra, chuva das fortes mesmo, repentinamente, como ela me deixou, r-e-p-e-n-t-i-n-a-m-e-n-t-e. Então eu ia caminhando quando olhei pro céu e percebi que lá no horizonte ele estava mais carregado que o meu peito (eu disse que tinha virado o rei das metáforas). Ia chover em cinco minutos, no máximo. Vocês conhecem Brasília? Na região central existe apenas um descampado com cerrado seco, sem árvores, sem prédios com marquise, sem absolutamente nada que possa fazer um pobre coitado se abrigar da chuva. A maior parte do tempo eu amo Brasília, mas nessas horas ela me dava um pouco de raiva. Ia cair um temporal e eu estava completamente desabrigado, obviamente sem guarda-chuva, porque ao sair de casa pela manhã estava um sol insano. Eu me sentia a criatura mais tola e infeliz da face da terra, caminhando no sol e depois na chuva só pra ver por dois minutos a mulher que me largou. E muito embora em tempos outros eu conseguisse ver poesia e beleza nisso tudo, nessa hora só um alarme apitava na minha cabeça, como se dissesse que eu estava deixando de fazer sentido.

A chuva chegou antes do previsto (como eu disse, r-e-p-e-n-t-i-n-a-m-e-n-t-e), mas não me pegou. Curiosamente, no exato ponto em que eu estava, não chovia. Como num desenho animado, só que ao contrário. Olhei para o céu, como se pedindo clemência, ou até mesmo agradecendo por não estar encharcado, e vi a metáfora de mim mesmo. Parado ali, com uma nuvem negra ao meu redor, e só havia luz sobre mim.

Talvez eu não tenha entendido direito a coisa. Saí do spot de luz que Deus tinha me dado por breves momentos, como uma epifania bizarra e completamente palpável, e caminhei ainda mais decidido à casa da mulher amada. Obviamente peguei muita água no caminho, porque o spot de luz ficou lá, paradinho, sem me perseguir (no momento achei que isso fosse acontecer, ainda como num desenho animado, sabe como? Só que ao contrário, no desenho animado chove sobre você, e esse não era o caso). Depois de quase meia hora de caminhada e encharcado até os ossos, toquei a campainha do apartamento que era meu, virou nosso e agora era dela. Ela abriu a porta e sequer se dignou a me oferecer uma toalha, só pediu pra eu esperar que ela já voltava com as caixas. Quando voltou, perguntei se ela podia me dar uma carona, porque estava chovendo, ela se desculpou e disse que não podia por estar muito ocupada. Ficou parada à porta me olhando com cara de "por que você ainda não foi embora" quando eu desperdicei toda a epifania que Deus me deu naquele momento anterior, aquela coisa toda da luz e da chuva. Pedi a ela que voltasse pra mim, pelo bem da minha saúde. Prometi a ela que a deixaria respirar, como se eu garantisse que abriria a gaiola pra ela dar uma voltinha e quem sabe fazer as fezes longe do jornalzinho (não disse isso, mas soou como se eu tivesse dito, o que pensei depois ser uma grande estupidez). Prometi que seria o melhor marido do mundo e faria dela a mulher mais feliz e amada da face da terra. Ela só me pediu pra ir embora. Mais nada. Só disse "por favor, vá embora". Joguei a caixa com meus pequenos pertences no chão e a abracei pela cintura, desesperado mas sem chorar, e disse que não sabia o que fazer da vida sem ela. Ela se afastou, foi tudo tão rápido, ela se afastou e o punho cerrado do cara que eu não conhecia e morava com ela atingiu meu nariz com tanta precisão que na hora nem senti dor. Fiquei pensando "Deus, que golpe preciso, será que ele luta?" até cair no chão. Senti o sangue quente escorrer pelo rosto e aí doeu, porra, doeu muito. Ela não se mexeu, ficou lá em pé parada com cara de vaca ainda esperando que eu fosse embora. Eu me levantei, limpei o nariz sangrento na camisa de maneira absolutamente inútil e fui embora com minha caixa com meus pequenos pertences e deixando pingos de sangue pelo corredor.

Quando saí do prédio já não chovia mais e o calor abismal tinha voltado. O sangue secou no meu rosto e coçava. E eu olhei pro céu com raiva de Deus, porque na minha cabeça aquela luz sobre mim indicava que, se eu pedisse com carinho, ela me aceitaria de volta. É, eu não era bom em entender sinais.

Apareci na casa da minha mãe a cara do abandono. Ela se encheu de pena, quis me dar banho, disse que ia matar a vaca e essas coisas que mães falam. Fui pro quarto que ainda era meu, mesmo depois de banido, me joguei na cama e chorei com tanto gosto que até desanuviou o peito. Uns dez minutos depois, minha mãe abriu a porta e disse, toda alegrinha "veja pelo lado positivo, agora você pode participar dos almoços de domingo".

Texto da amiga e romântica Daniela Andrade. Essa mujer escreve demais...

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

O Amor me Incomoda*

Eu sou uma letra da Carla Bruni. Pelo menos, é isso que sinto cada vez que a vejo entoar as mais belas notas musicais que me apertam o peito e me fazem exclamar “Porra! Isso foi feito para mim”. Mas não era sobre isso que eu ia falar. Ou até era, mas não dessa forma. A questão é que eu sou uma música especifica, chamada L’amour, ou O Amor. Mas não pense, caro leitor, que você encontrará nesta letra as mais bela entonação de enamorados, falando de todas as maravilhas e belezas deste sentimento, pois não é disso que se trata. É exatamente o oposto. Trata-se da obscuridade deste sentimento. Não é sobre como ele acontece perfeitamente, mas de como ele não encaixa. Onde o “Para Sempre” não foi feito para durar todo esse tempo, porque se não, qual seria a graça de amar? Desculpem-me os mais conservadores, mas está não é minha forma de amar. Eu amo o momento, as pequenas coisas, os poucos feitos. Eu amo vários, de diversas formas. Sempre diferente. Sempre igual. Todo verdadeiros, porém, com prazo de validade. Porque na verdade, eu não fui feita para flores, estou mais para... hum... Frango desfiado. O meu amor não se passa em praias, castelos ou com príncipes encantados. Ele está mais num domingo chuvoso, lendo livros, com aquele gostoso silêncio cúmplice. Para mim o amor não está nas coisas que temos em comum, mas exatamente naquelas que não se encaixam. O amor “não me cai perfeitamente”, ele me desconforta e me inquieta. Deixa-me com aquele aperto chato no peito, aquela dor aguda no estômago. Machuca-me e cansa-me. O amor me cansa. De chorar sozinha no escuro. Cansa-me de eu pedir para não mais amar, e depois sentir falta do sentimento e começar a procurar de novo. O amor, para mim, não é amor sem isso. É acabavel, mas nem por isso deixa de ser mais importante, porque, veja bem leitor, eu não meço o amor pelo seu tempo de duração, mas pela a intensidade de sentimentos que ele me fez sentir. Porque o amor, ah, o amor, ele engloba tantos outros sentimentos. A felicidade, a dor, a loucura, a saudade, a tristeza, as angustias, a euforia, o medo. E veja bem, eu sou uma garota que ama. Amo os momentos, os fugazes, os tempos em tempos. É isso, o amor, para mim, não é este amor antigo, escrito em livros, mostrado em filmes, onde no final, vivem-se felizes para sempre. Meu amor é de sangue. É “o gosto estranho e suave da pele dos meus amantes.” Eu prefiro este amor, àquele antigo. Eu prefiro muito mais o amor de Carla Bruni, porque o amor, ah, o amor... Este eu não quero. Ele não me serve. Mas eu gosto é do incomodo.

Este texto é da romântica Veriana Ribeiro. Ela avisa que o texto foi inspirado na música de Carla Bruni que você pode ler a letra clicando neste link aqui.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Eu te amo, mas...


A edição nº 149 da revista Bravo! publicou na sua lista do, digamos, mais interessante do mês, a idéia da dupla inglesa Alex Holder e Ross Neil - que para mim foi "o bicho da goiaba" (adoro essa expressão!).

É o seguinte: o amor é mesmo cego? Para provar que não, os caras criaram o site "I Love You But..." [www.loveyoubut.com], que conta com 59 caricaturas de pessoas comuns associadas a frases curtas e divertidas sobre coisas pequeninas que incomodam e que nunca são ditas, ou quase.
Segundo a Bravo! o álbum virtual "flagra aquele momento das relações em que um dos parceiros percebe não amar completamente o outro por enxergar nele algo desconcertante."

Dei uma passada na página e logo descobri que essa verdade é dita, melhor, escrita de modo bastante carinhoso. Há romantismo ali, sim. Ou seja, "não é qualquer defeito que vai me fazer te deixar, meu bem", já dizia minha prima para o namorado viciado em canjica e futebol na TV aos domingos.

E já que o meu inglês medíocre me impede de deixar minha contribuição no site dos gringos, faço-a por aqui mesmo:

eu amo você, mas odeio quando cita Nietzsche e Cazuza na mesma frase.


O espaço do comentário está aberto, caso queira contribuir também, caro leitor...

domingo, 17 de janeiro de 2010

Dicas de um bom papo - Mercado do Bosque


Assim como o aperfeiçoamento da comunicação está relacionado ao ato da refeição nos antigos conventos, o aperfeiçoamento amoroso na capital do Acre é relacionado ao Mercado do Bosque.

Para quem não conhece, eu explico: o Mercado do Bosque é uma espécie de ponto de encontro dos boêmios nas madrugadas de Rio Branco, onde ficam senhoras preparando iguarias regionais, como tapioca, mingau, bolos, sucos etc. para reidratar os organismos dos baladeiros de plantão.

Mas, vamos ao lado romântico dessa comilança toda. O fato é que aquele singelo lugar funciona como uma carta de intenções dos amantes, se após a festa não acontecer o convite: "vamos ao mercado?" não há interesse algum, e tudo não passou de uma troca salivar.

Mas, por outro lado, se o convite ocorrer e for aceito, acaba de nascer um romance às luzes do mercado e naquele momento, entre o café-com-leite e a tapioca recheada, trocam emails, telefones, MSN, notam amigos em comum nas mesas ao redor, e dizem ao mundo, ou pelo menos à Rio Branco: "estamos juntos".

O Mercado do Bosque é a nossa réplica Veneziana, um lugar enigmático pela própria simplicidade. Pessoas importantes, de candidato à presidente até rock star, são sempre levadas pelos guias para saborear os quitutes culinários do acreano, sem saberem que a deliciosa comida servida não passa de mera coadjuvante.

O que escolho...



Talvez eu não seja a pessoa certa para falar de amor ou coisas do gênero. Palavras me fogem ao falar sobre isso. É difícil. Sou do tipo de pessoa que não demonstra fraquezas, tristezas, raiva ou qualquer emoção parecida. Dou sempre o melhor de mim para qualquer um (Por favor, não sejam ambíguos. hahahhah). Não sou do tipo que pede alguma coisa em troca. O amor deve ser assim, não é? Bom, ao menos essa é minha maneira de ver as coisas.

Uma vez convencida que já não tinha mais coração, conheci alguém. Amei-o, ou melhor, ainda o amo. Entreguei-me e fui fundo no relacionamento. Como qualquer outro. Sou muito intensa em tudo que faço. Não entendo como um sentimento tão simples pode complicar tanto nossas vidas. Mas quem disse que eu me importo? As coisas nunca foram fáceis para mim mesmo.

No dia que amei verdadeiramente alguém que não fosse minha família, vi a diferença de amor e paixão. Paixão como o próprio nome sugere, é algo passageiro, avassalador, não nos permite pensar em nenhum minuto, faz com que nossos pés não encostem no chão, nossos olhos fiquem cegos, ouvidos surdos e nossa boca muda. Quando se ama é algo mais sutil. De forma mais suave, algo mais tímido, mais contido... a razão não se faz presente a todo momento, mas ao menos quando está, permite que pensemos no que fazemos ou no que iremos fazer.

Entre o amor e a paixão, prefiro a primeira opção. Mas quando fiz essa escolha, não foi porque achei que esse sentimento não iria me fazer chorar ou poupar lágrimas, que não iria fazer com que eu sofra ou me descabele menos. Não fiz essa escolha pensando nesses motivos e sim... pelo fato dele durar mais. Ao ponto de todas as raivas, avessos e desencontros serem superados. É eterno. Você ama e ponto final.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Dicionário da mulher – Verbete: Ombros

ou A Retratação Anatômica Fetichista

“Como o Kama Sutra ensinou que os ombros e clavículas são zonas erógenas, acredito que isso ficou marcado na cultura indiana e no imaginário sexual.”
Jarid Arraes Singh

Peitos, rostos, bocas, olhos, bundas e, quiçá, pernas são tidas como “os” objetos de devoção para um fornecedor de costelas. Já para outros ordinários, a veneração pende a partes tidas, vai saber a razão, esdrúxulas como pés, sovacos, joelhos et cetera. Mas há, nesse oásis das águas na boca masculinas que é o corpo de uma mulher, artifício que não recebe ou recebeu seus créditos como devia: os ombros. Deixo claro que não venho aqui para desmerecer demais regiões da anatomia feminina. Apenas, peço, é justiça lascívia.

Que vergonha – plausível de, como punição, receber um reverberante “tapa no pé d’ouvido” – para os românticos do mundo real ou literário! Como se encaram no espelho, Regis, Isnard e Ulisses? O que dizes, Cyrano? Parla, Casanova! Let’s on, Romeu! Hablas, Don Juan? Até um conquistador maquiavélico como você, Valmont, deu por despercebido estes suaves ângulos retos que geram em nós, varões, pensamentos tortos.

Pois bem, vamos acabar de vez com este mal-entendido. Ombros, estas retas-curvas têm a capacidade de transformar santas em pecadoras, senhoras em doutoras em concupiscência, pequenas em gigantas da libertinagem. E nós, viramos os lobos-maus no cio, por culpa deles. Admita, rapaz...

Antes o pensamento da avarenta era “Não vou pagar peitinhos, ou usar um decote matador, tampouco mostrar cofrinho. De mim, só o rosto, braços e calcanhares”. Mas eis que o inventor do “tomara-que-caia” – este sem dúvida é dono de uma cobertura no Paraíso com excepcional vista para Copacabana divina – teve a eureka de sua vida e compartilhou com o mundo sua invenção. Aliviou nossa agonia. É a amostra-grátis do layout da dama.

Para elevar ainda mais o grau de santidade dos ombros, apresento agora outra qualidade: a sinceridade. Sim, eles são mais honestos que garis de aeroportos que devolvem todo mês malas contendo milhares de dólares. Assim como o gogó, os ombros de uma donzela são facilmente pontos inconfundíveis com os de um marmanjo. Ignorância do Ronaldo!

Dizem alguns apócrifos que ao castigar Eva, Deus por um trisco não levou seus ombros. Mas eis que ela implorou clemência, pois, desde lá, já sabia do poderio bélico neles contidos. A cobra, em sua estupidez, riu e debochou do pedido. O Todo-Poderoso virou para ela e sacramentou “Maldita seja dentre todos os animais! Rastejarás sobre teu ventre...”, decepando assim tal parte como todos sabemos.

Mas vejam só a generosidade do Criador. De todos os trechos do corpo, este é um dos únicos livres de rugas ou pés-de-galinha. A estátua de Vênus – deusa responsável pelos gozos da vida – é maneta, mas nem por isso Milo fulerou e a desproveu de tê-los. Ombros são eternos. Ombros são ternos. Ombros não envelhecem. Meu amor, não me dê com os ombros. Ou melhor, me dê com os ombros.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Velho Aparelho

Mais um poema antigo...

Não é o toque do telefone
Que me desespera
Ele sempre toca
Mas o que me toca
O que me preocupa
É a espera
São esses longos minutos
Que me tiram o domínio
Esses segundos absurdos
Frios como alumínio
Que não possuem piedade alguma
É essa frialdade da tortura
Cada tic-tac do ponteiro
É um tiro certeiro
É um espinho na carne
É um pulso a mais no peito
É uma farpa
É um aperto
É um calafrio
É um vazio
Que parece não ter fundo
É tudo o que sinto
Enquanto espero
Num só segundo.




Thaís Carvalho

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

O amor acaba

Ofereço a vocês umas das minhas crônicas favoritas sobre o amor (há quem diga que é um conto, mas eu não vou entrar nesta questão porque realmente não entendo nada sobre o assunto: nem de crônica, nem de conto e, muito menos – talvez um pouquinho, quem sabe – de amor). A autoria é do escrito mineiro Paulo Mendes Campos..
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O amor acaba. Numa esquina, por exemplo, num domingo de lua nova, depois de teatro e silêncio; acaba em cafés engordurados, diferentes dos parques de ouro onde começou a pulsar; de repente, ao meio do cigarro que ele atira de raiva contra um automóvel ou que ela esmaga no cinzeiro repleto, polvilhando de cinzas o escarlate das unhas; na acidez da aurora tropical, depois duma noite votada à alegria póstuma, que não veio; e acaba o amor no desenlace das mãos no cinema, como tentáculos saciados, e elas se movimentam no escuro como dois polvos de solidão; como se as mãos soubessem antes que o amor tinha acabado; na insônia dos braços luminosos do relógio; e acaba o amor nas sorveterias diante do colorido iceberg, entre frisos de alumínio e espelhos monótonos; e no olhar do cavaleiro errante que passou pela pensão; às vezes acaba o amor nos braços torturados de Jesus, filho crucificado de todas as mulheres; mecanicamente, no elevador, como se lhe faltasse energia; no andar diferente da irmã dentro de casa o amor pode acabar; na epifania da pretensão ridícula dos bigodes; nas ligas, nas cintas, nos brincos e nas silabadas femininas; quando a alma se habitua às províncias empoeiradas da Ásia, onde o amor pode ser outra coisa, o amor pode acabar; na compulsão da simplicidade simplesmente; no sábado, depois de três goles mornos de gim à beira da piscina; no filho tantas vezes semeado, às vezes vingado por alguns dias, mas que não floresceu, abrindo parágrafos de ódio inexplicável entre o pólen e o gineceu de duas flores; em apartamentos refrigerados, atapetados, aturdidos de delicadezas, onde há mais encanto que desejo; e o amor acaba na poeira que vertem os crepúsculos, caindo imperceptível no beijo de ir e vir; em salas esmaltadas com sangue, suor e desespero; nos roteiros do tédio para o tédio, na barca, no trem, no ônibus, ida e volta de nada para nada; em cavernas de sala e quarto conjugados o amor se eriça e acaba; no inferno o amor não começa; na usura o amor se dissolve; em Brasília o amor pode virar pó; no Rio, frivolidade; em Belo Horizonte, remorso; em São Paulo, dinheiro; uma carta que chegou depois, o amor acaba; uma carta que chegou antes, e o amor acaba; na descontrolada fantasia da libido; às vezes acaba na mesma música que começou, com o mesmo drinque, diante dos mesmos cisnes; e muitas vezes acaba em ouro e diamante, dispersado entre astros; e acaba nas encruzilhadas de Paris, Londres, Nova Iorque; no coração que se dilata e quebra, e o médico sentencia imprestável para o amor; e acaba no longo périplo, tocando em todos os portos, até se desfazer em mares gelados; e acaba depois que se viu a bruma que veste o mundo; na janela que se abre, na janela que se fecha; às vezes não acaba e é simplesmente esquecido como um espelho de bolsa, que continua reverberando sem razão até que alguém, humilde, o carregue consigo; às vezes o amor acaba como se fora melhor nunca ter existido; mas pode acabar com doçura e esperança; uma palavra, muda ou articulada, e acaba o amor; na verdade; o álcool; de manhã, de tarde, de noite; na floração excessiva da primavera; no abuso do verão; na dissonância do outono; no conforto do inverno; em todos os lugares o amor acaba; a qualquer hora o amor acaba; por qualquer motivo o amor acaba; para recomeçar em todos os lugares e a qualquer minuto o amor acaba.
(Paulo Mendes Campos)
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E para você, leitor, quando, onde e como o amor acaba? O amor pode acabar? Já acabou alguma vez?

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Sobre aquele dia...

Escrito há três anos, depois de uma aula de simbolismo...
Quando me pediu que fechasse os olhos, eu fechei. Fechei-os com a confiança de que enxergarias por mim. E por isso (só por isso) permiti que a luz deixasse de entrar.
Assim, na escuridão, ouvi tua voz pedindo que eu não falasse. “Palavras estragam momentos”. Então, nada falei. Guardei os meus ouvidos para que captassem teus passos. Passo a passo. Você me cercava e eu já podia te ver pelo som do teu caminhar ao meu lado. Pelo perfume, pela respiração… Você ainda estava aqui e era a única luz que os meus olhos fechados podiam enxergar.
Quando tocou em meu ombro e ofereceu-me a poltrona… “Senta que a espera não se faz de pé”. Eu me sentei.
“Não ria, que o teu riso não é de alegria”. E eu não ri mais. Não mais aquele riso. Não mais nenhum riso. Não mais.
Agora, eras meus olhos, meus pés, minhas mãos, meus lábios e a única música para os meus ouvidos. Até meu perfume já não era meu. Era seu. Ou era o seu no meu. Seja o que for, o aroma que eu podia sentir pertencia a ti. E assim, sendo mais você que eu, consegui descansar.
Quando acordei, já era tarde. Ao meu redor, a casa em penumbra. Os raios fugidios da lua entravam timidamente pela janela. Pude sentir que meus olhos haviam voltado a ser meus, e me entristeci. Tive a sensação que os meus outros olhos, agora já não mais meus, se dissiparam com os raios do sol.
“À noite, você brilha mais”. Eram os seus olhos que me fitavam. Era você velando o meu sono, os meus sonhos, os meus medos… Então, te pedi que fechasse os olhos, que não falasse mais nada e que deixasse eu te guiar…
Tarde da noite, rimos o mesmo riso… de alegria.



Thaís Carvalho

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

São coisas do coração

"Podem até machucar meu coração, mas meu espírito ninguém vai conseguir quebrar"
(Renato Russo)

Em qual momento da história humana foi convencionado que as emoções e os sentimentos são ligados ao coração, o órgão responsável pela oxigenação e circulação do sangue no corpo? Aliás, como se chegou ao formato de coração daqueles cartões de amor? É que passei muito tempo imaginando um coração dentro de mim num formato romântico, imaginando ainda, ele batendo de um lado pro outro, preso através de uma cordinha, tipo aqueles ponteiros de relógios tic-tac, como em desenho animado.

E tem mais: meu irmão me dizia para não engolir chiclete porque ele poderia fazer o meu coração grudar na parede do meu corpo durante essas batidas. Então, meu coração iria parar e eu iria morrer, pois sem coração funcionando ninguém vive. É verdade, assim como ninguém vive sem pulmão, rim, fígado, pâncreas... Não é? Então poderíamos escrever um bilhetinho de amor e, em vez de desenhar um coraçãozinho, por que não um pulmãozinho? Por que não virar para o seu amor e dizer: “o meu esôfago é seu”?

É verdade que, sendo um fator físico ou psicológico (ou os dois), quando sentimos emoções fortes, sejam elas boas ou ruins, o coração acelera e dói, literalmente dói. Ou acontece só comigo? É como se alguém o pegasse e o espremesse bem forte com a mão. Ou como se ele fosse alfinetado com bastante força, mas não chegasse a furar. Eu costumo sentir isso quando borboletas voam loucamente atrás de mim, afinal, se tem uma coisa que me deixa em pânico, é uma borboleta. Parada ou voando, tanto faz, o coração dói de qualquer jeito. Mas essa é uma situação irrelevante, porque eu sinto isso mesmo é quando recebo uma notícia triste, ouço o que não quero ou coisas do tipo. Vai direto pro coração, como se alguém tivesse um bonequinho de Vodoo e bem naquele momento espetasse o coitado do meu órgão responsável pela oxigenação e circulação do sangue.

Talvez eu tenha faltado alguma aula de Biologia, mas eu gostaria de saber se é normal sentir essa dorzinha chata. Posso estar tendo um ataque cardíaco, e nem sei? Afinal, se eu fosse para o pronto-socorro e explicasse a minha situação, seria improvável que me encaminhassem ao cardiologista, no máximo a um psicólogo, talvez. Aliás, em certas situações, preocupantes e desconfortáveis, pode doer também o estômago, mas, neste caso, o que se tem chama-se: gastrite. Além disso, em algum momento de dor, nervosismo ou ansiedade, quem nunca se sentiu com a garganta atravessada? Ou, ainda, com mãos, pernas e braços trêmulos? Perceba que não é o coração o único órgão afetado pelos sentimentos e emoções.

Uma desilusão, uma tristeza, uma alegria, uma conquista ou derrota atingem todo o corpo, regula ou desregula qualquer organismo e mexe com qualquer processo de ordem vital. Mas por que só o coração é o coitadinho da turma? Dor, em qualquer lugar, é doença, é sinal de uma alimentação inadequada, falta de esportes ou coisas afins. No entanto, se for no coração, que quando resolve doer, dói, dói mesmo, a ponto de quase adormecer e deixar um buraco, é simplesmente coisa que não se explica.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Mais eterno que uma tatuagem

Já de um bom tempo pra cá que, nas rodas de conversas que participo onde o temário gira em torno dos amores passados – ah, esses malditos! –, um erro é tido quase que como unanimidade pela voz de Deus, vulgo “povo”: rabiscar no próprio corpo o nome de la mujer ou del hombre que naquele momento de pouca lucidez te acompanhou na hora do pegapacá. E é o tipo da insanidade que se alastra sem perdoar nenhum. Vai do pagodeiro metido a ser bonito com a rainha da bateria que não precisa ser metida, pois é bonita, até a sua vizinha deliciosa com aquele playbloy que é, sem dúvida, um babaca.

Mas passam-se os anos. Meses. Semanas. Melhor ainda: os dias! E nada como um dia atrás do outro, já dizia o fulano. Aquela cusparada dada com todas as forças da goela para o alto encontra a Lei da Gravidade e vem com tudo para a cara do autor da obra. O relacionamento já era. Escafedeceu-se. Foi tarde. Mas a mancha no braço, antebraço, nuca, cóccix e outras regiões menos bronzeadas, permanecerá lá. Como um alto-falante que grita que aquela pessoa já foi fundamental para você.

Mas eis que vos digo como falou alguém do qual a preguiça de agora me proíbe averiguar: toda unanimidade é burra. Esse povo que fala mal daqueles, que por ingenuidade, se deixaram levar pelo sentimento de afirmar um amor que já passou, não sabem do que dizem. Não amaram mais o outro do que a si. Um erro, admito. Mas é um daqueles erros bonitos, há de se convir.

Existe há muito mais tempo uma marca que é mais devastadora do que uma tatuagem. Sem mais embromations, revelo do que se trata: os apelidos carinhosos. Eles são perigosos, pois são sorrateiros. Ninguém vê mal neles. São até umas gracinhas, dizem algumas senhoras. Mas, ô criatura, já pensaste em criar um filhote de tigre por ser uma belezinha?

São os “Bem”, “Vida”, “Mô”, “Tchuro”, “Amorzim”, “Neném”, entre outros inumeráveis substantivos simples, pero no mucho, ingressam nessa lista de apelidos carinhosos. Olho neles, leitores. Pois são essas palavras que, sempre que mencionadas, lembrarão a (o) ex, que como disse meu amigo Ulisses é “sinônimo de sofrimento, decepção, choro, angústia, depressão, pressão, entre outros e tudo isso aliado a um grande sentimento de perda”.

São palavras que remetem a idéias. Idéias não morrem. Logo, são eternas. Não adianta dar a outro amor. Isso é intransferível. Não dê apelidos carinhosos. Se precisar, faça tatuagens. Ou não faça nada. Mas se fizer, tatue. Sem contar que um nome de ex-amor pode render um ótimo desenho por cima.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Ex-Amor


Na busca de variações do romantismo chegamos à sua total ausência materializada em pessoa, a saber, a EX. Só mesmo um grande poeta, longe desse que vos escreve, consegue criar poesia e romance sobre a criatura que carrega a abreviação de Extermínio da Paz.

Já que o escrevinhador não da conta da poesia, vamos à ironia. Certo amigo costuma falar que “EX boa é EX longe” e com raras exceções, a dita cuja é sim sinônimo de sofrimento, decepção, choro, angústia, depressão, pressão, entre outros e tudo isso aliado a um grande sentimento de perda.

Se criassem uma bolsa de valores de sentimentos de perda, tinha gente falida todo dia. Pessoas que investiram uma vida toda em ações nobres como atenção, carinho, respeito e dedicação até ações corriqueiras como presentes de aniversário, natal e ano novo, são surpreendidas pela quebra dos mercados amorosos.

Nessa linguagem mercadológica tão comum nesses dias, é como se criassem uma bolha em torno do investimento que uma hora ou outra estoura. É a coisa de supervalorizar o que não tem valor.

Inexperiência do investidor? Falta de preparo? Pode ser, mas nem sempre o investimento é de risco, inicialmente pode parecer seguro e com boas referências das agências de avaliação, mas durante o processo de maturação, as coisas vão tomando um rumo anti-romantismo, que convenhamos, a humanidade ainda não conseguiu explicar, apenas falar, através de crônicas irônicas como essa.

De resto, bons conselhos como: acreditar em Deus, manter-se afastado (inclusive virtualmente), respeitar o luto do romance e ser forte ao vê-la com outro, são sempre bons de serem lembrados, porém, é bom ressaltar também que nesses casos, falar é sempre mais fácil que fazer.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Clipping da Confraria

A Confraria dos Últimos Românticos foi citada no site do projeto "Sempre Um Papo", conhecido por oferecer palestras com os maiores escritores do país, e no "Mondo Livro", que é um programa para rádio sobre tudo que gira ao redor dos livros e dos autores, no Brasil e no mundo. Veiculado na Guarani FM (96,5), em Belo Horizonte/MG, às 11h15 e 18h30. Agradeço em nome de toda a Confraria pelos elogios e divulgação.

Aproveito o momento pra fazer umas correções sobre o nome do blog, que no site troca "Românticos" por "Amantes". Mas devo confessar que essas palavras acabam se misturando... Outro ponto é que o site creditou a criação do blog apenas a mim, esquecendo que o Ulisses Lima, vulgo "Guima", é meu parceiro nessa etapa. Ele é o cara. Então, segue aí a matéria e seu link para quem quiser postar um comentário no site do Sempre Um Papo.

Link para o site: http://www.sempreumpapo.com.br/mondolivro/?p=3043
Link para o PodCast: http://www.sempreumpapo.com.br/podcast/podcast-confraria-050110.mp3

Confraria dos Últimos Amantes, no Acre e no mundo

Hoje eu quero falar de um blog à moda antiga. Trata-se da Confraria dos Últimos Amantes, criada pelo jornalista e escritor Helder Cavalcante Jr., de Rio Branco, no Acre.

É um blog onde amigos e colaboradores postam pequenos contos, poemas, crônicas e histórias sobre o amor. Os encontros e desencontros, a vida noturna da cidade, e mesmo os casos piegas são motivo para um bom texto. Mas o mais legal do blog é a interatividade. Hoje não só o Helder que posta. São vários colaboradores e colaboradoras que tem um ponto em comum: a qualidade dos textos. Entrem lá, leiam as histórias dos outros e deixe a sua. Seja um integrante da “Confraria dos Últimos Amantes”, de Rio Branco, no Acre e no mundo, através do site http://confrur.blogspot.com/

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Um lanche a dois

Estava anoitecendo quando ele a convidou para um lanche. Eram vizinhos há poucos anos, mas só ultimamente vinham trocando algumas palavras. Ela, a princípio, tentou recusar o convite. Disse que precisava acordar cedo, que tinha medo do que os outros pudessem falar ao saber que os dois haviam saído juntos. Mas, para a satisfação de ambos, ele não desistiu. Não eram mais crianças, era só um lanche, que mal haveria? E não voltariam tarde, para que ela pudesse dormir no horário de sempre. Ela aceitou enfim.

Ele pensou em algum lugar mais reservado (era mais seu estilo), mas imaginando que isso não fosse impressioná-la, mudou de idéia e perguntou o que ela achava de lancharem no shopping. Os olhos dela brilharam. Depois, mais uma vez, quis recuar, pois era muito movimentado. A fila da lanchonete seria longa e demorariam a conseguir comer. Ele, sentindo-se envaidecido de ver que provocava nela uma espécie de timidez e insegurança, quis confortá-la. Não seria um problema esperar. Poderiam conversar enquanto isso. E, além do mais, era um feriadão, não teria tanta gente assim. Ela sorriu e consentiu.

Chegando lá, como ele mesmo predissera, não tinha tanto movimento. Pediram o lanche. Ela quis uma água, ele também. Ficaram assim, numa conversa discreta. Algumas vezes ele arriscou gracejos, aos quais ela respondeu com um leve ar aborrecido seguido de um risinho frouxo. Faziam um belo par e algumas pessoas nas mesas ao lado até mesmo pararam, ao menos um instante, para observá-los tímidos, porém concentrados um no outro.

As horas voaram, como acontece realmente quando se está com alguém querido, e ele observou ela olhar discretamente para o relógio. Sabiam que aquele encontro estava chegando ao fim. Ele tentou arriscar. Colocou levemente sua mão sobre a dela e pôde senti-la tremendo. Ela levantou aos olhos de encontro aos dele, depois os baixou novamente e foi puxando de mansinho a sua mão. Foi então que ele resolveu fazer a pergunta que estava o atormentando há dias. Respirou fundo e soltou: "Eu preciso saber, existe mais alguém? Alguém que você não possa esquecer, alguém que mereça tua atenção a tal ponto de você ficar tão esquiva?"

Ela mudou de cor. De repente seus olhos marejaram e teve que confessar que sim: "Existe! É alguém que me toma a maior parte do tempo. Acordo pensando nele e é desse modo que eu durmo também. Sinto não ter dito antes. Mas preciso dizer que nem por isso deixo de pensar em você. Todos os dias."

Agora era ele que estremeceu. Tomou o último gole d'água e com os olhos implorando, perguntou: "Eu o conheço"? Ela, envergonhada disse: "É alguém que me faz me sentir a mais velha das minhas amigas, porém a mais feliz também... Meu bisneto que nasceu no mês passado."

Ele num misto de alívio e surpresa soltou uma bela gargalhada que fez todos ao redor se voltarem para olhar. Ela entristeceu: "me achas mais velha agora?"
- De forma alguma. Te acho mais bonita agora.

O mais não posso contar-lhes porque seria extrema falta de consideração da minha parte para com esse casal que me permitiu saber tais detalhes. Só digo que, se virem por aí um jovem casal idoso trocando sorrisinhos adolescentes, lembrem-se que os bisavôs também amam, também sonham, também namoram...

E gostam de lanchar de vez em quando no shopping, como todos nós, reles adultos.