sábado, 31 de outubro de 2009

Dicas de um bom papo



Temos vagas abertas para o projeto de uma vida.
Com esse anúncio no outdoor da ladeira da maternidade, Arthur de Távora colocou seu projeto de vida à disposição para a tampa da sua panela. Como ainda não a conhecia, ousou colocar algumas observações em letras miudinhas no cantinho do anúncio.
“Preferencialmente com um belo sorriso, disposição para aventuras, pensar por si mesma e inquietude. Interessadas entrar em contato através do acaso: por amigos em comum, no supermercado, no tacacá do final de semana, show de rock ou no Happy Hour das sextas-feiras”.
Muito inteligente essa propaganda do nosso amigo Arthur. O blog entra na moda e daqui por diante dará sugestões de lugares ideais em Rio Branco, para que as interessadas encontrem seus Arthur’s, e carametades afins.
“Dicas de um bom papo” é o espaço destinado à divulgação (gratuita) dos bares (melhores, piores e quebra-galho), restaurantes, e dois e quarenta e noves dessa nossa pacata Vila Rio Branco. Continuem aqui.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Do direito ao silêncio


O que? Vocês terminaram?
-sim

Mas vocês se davam tão bem, ainda vão voltar.
-Não

Mas você ainda gosta dela, não?
Nesse momento, você obviamente tem duas respostas possíveis: sim ou não.
Entretanto, jamais falará a verdade, observe:

-Sim, gosto.
Será mesmo? Acho que se gostasse de verdade já teria ido procurá-la.

-Não, não gosto.
Será mesmo? Acho que um amor de tanto tempo não acaba assim do dia pra noite.

Lutemos por nosso direito constitucional ao silêncio!

Pedinte


Amor é um direito que depende de escolha. Eu não tive escolha. Repare só nesse entrave sociológico-sentimental que vivi. Pra começar e fazer com que você me entenda, é preciso abancar a história não só pela primeira página, mas pela capa.

A culpa não é de ninguém. É culpa sem dono. Pensando bem, talvez se meu pai não tivesse brigado com o Agenor Castilho, seu antigo sócio e que três anos após desfeita a parceria, tornou-se o mais bem sucedido empresário do ramo de luvas de borracha, hoje eu estaria com outra vida. Aí sim, ela repararia em mim. Não me importa se por interesse ou não, eu seria feliz com ela.

Eu a vi antes. No começo, nada de mais me chamou a atenção. Continuei com a mão estendida, já pela segunda hora seguida, em busca de mais 85 centavos que inteirara minha quarta “granada” – modo como é conhecida a “Caninha da Roça” entre meus colegas de trabalho. Foi aí que ela veio até mim. Deu-me uma moeda de 25 centavos e duas de 10. Insuficiente em relação a minha meta anterior, mas muito além do que eu esperava. Disse: “Pega, seu moço.”, e eu automaticamente repliquei com “Deus te abençoe.” Ela foi embora, sem saber que eu não falei retoricamente. Era sincero. Era amor.

Por baixo dessa barba e cabelos com medidas além da conta, existia um menino tremendo como vara verde só de recordar dos olhos azuis, quase cinzas, que insistiam em abusar do contraste com o cabelo ruivo e as sardas. Ela nem reparou quando minha boca ficou aberta e minha mente fez a volta ao mundo cinco vezes em 3.1 segundos. Normal. Quem faria diferente?

A repetição dessa cena se deu pelos meses seguintes. Deu pra reparar que ela gosta de vestidos floridos e perfumes adocicados. Não usa jóia e prefere sapatos sem salto. Tem furinho na bochecha quando ri e um olhar imperceptivelmente vesgo. Deu pra reparar...

Depois de muito tempo, ao comer um pão com manteiga com um pingado na padaria do seu Abraão, encontrei de bobeira uma matéria sobre um trabalho de caridade. Já vi vários desses, mas algo ali me deixou um tanto quanto triste. Na matéria havia uma foto com a seguinte legenda: “Há 7 anos, Irmã Elizabeth chefia trabalho de caridade com doentes terminais sem família”. Ela ficou tão bonita naquele retrato...

Não tenho o hábito de cultivar pena de mim mesmo, mas até que não resisti. Foi então que resolvi usar meu último recurso. Peguei as moedas que ela me deu – não havia gastado nenhuma sequer, apesar de muitas vezes ter passado fome por essa razão – e comprei o mais bonito buquê de flores. Eram silvestres, mas não sei o nome delas. E ela passou de novo. Quando estendi a mão, ela já foi procurando na bolsa alguma esmola. Nesse instante apresentei as flores e dei para ela. Ela corou e riu. Com o mesmo furinho na bocheca...

Namoro-Fantástico*

Por que as pessoas acham normal ter ou ser posse de outra pessoa? Até hoje não consigo entender aquelas situações em que um casal briga por alguma bobagem qualquer e, pelo menos, uma das partes não chega e diz: "-Por que nós não nos encontramos apenas quando estivermos bem?, e Por que ficar mantendo uma relação de estresse e rotina?".

A conclusão que posso tirar, de todas as experiências que vivi e as que me confidenciaram, é que o ser humano é carente de atenção e sente a necessidade de ser o(a) mais importante personagem na vida de alguém. Em busca desse alguém, nós acabamos por admitir as situações mais absurdas. Fazemos chantagens, manipulações, invasões de privacidade etc. que só nos deixam mal.

Mas depois de dias, meses e, até mesmo, anos refletindo sobre esse assunto, cheguei à solução: namorar somente nos domingos. É claro!!! Oras, se é óbvio que nós todos precisamos de um tempinho para nós mesmos, não há por que insistir, tentando tornar eterno um pequeno momento.

Atualmente, as pessoas levam uma rotina muito agitada. Você estuda e trabalha durante o dia inteiro e ainda tem que bancar o super-herói, tendo que arranjar umas horas pra namorar. Não estou dizendo que namorar é ruim - muito pelo contrário - você ficar com a pessoa que você escolheu é a melhor coisa que pode acontecer. Mas você vai estar em condições para ser você mesmo? E será que ela também vai estar? No domingo sim!

E se você tinha uma vida agitada quando era solteiro... Como não sentir aquela vontade de sair com uns amigos, sem ter a obrigação de agradar a ninguém?

Quando me refiro ao domingo, não quero dizer especificamente ao domingo. Estou fazendo alusão a um relacionamento em que as duas partes não têm obrigação, mas sim, um prazer de ficar juntos. Se o domingo cai na segunda, na sexta ou todos os dias, tanto faz, o importante é você estar feliz (e por que será que isso soa tão ridículo?). Como diz o Dalai Lama: "O apego é cheio de parcialidade. O amor e a compaixão são imparciais.", ou seja, seja livremente feliz.

*Texto escrito em 2004, ou seja, tinha 19 anos. Alguns pontos e reflexões contidos nele já não são os mesmos para mim. Mudei, mas é interessante ler como eu pensava. Deixo para vocês avaliarem se estava certo ou errado.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Quando não se tem muito tempo para fazer crônica

É sempre a mesma coisa, o professor pede um trabalho e o aluno hiper-ocupado, eu, se aterroriza (mesmo que não pareça) com sua escassez de tempo para fazê-lo, a dúvida passa a ser se acordará mais cedo amanhã ou emenda numa madrugada qualquer à base de coca-cola e bolachas cream cracker.

A bola da vez é fazer uma crônica, inspirada em outra de autoria nada mais nada menos, que Arnaldo Jabor, que possui além das suas excelentes crônicas próprias, outras inúmeras boas crônicas não-próprias, ou seja, alguns desocupados (que de antemão eu os invejo) escrevem sobre diversos assuntos, e usam principalmente na internet a seguinte estratégia de circulação: colocam o nome Arnaldo Jabor no final.

Resolvi então me inspirar nessas pessoas (as que eu invejo), que apesar de talvez não possuírem a pressão de uma faculdade noturna, produzem e simplesmente doam a autoria para o “mago” Arnaldo Jabor. Esse capitalismo é mesmo muito injusto, o Arnaldo Jabor não precisa de crônicas! Eu sim! Já que não tenho tempo cronológico (sacaram a dubiedade?) para fazê-la.

Resolvi então criar a campanha: “Doe Crônica! Doe Vida!”, para sensibilizar todos do grupo CNO (cronistas não ocupados) para que colaborem com os estudantes de jornalismo, e deixem de encher a bola do “Arnaldão” com crônicas que ele nunca pediu. Logo após o lançamento da campanha, serão espalhados postos de coletas (clandestinos), com identificador de professores e baterias anti-google, para maior segurança dos alunos hiper-ocupados. Participe! Sensibilize um CNO, e ganhe desconto de 10min de atraso na disciplina que preferir.

Com a certeza do apoio da maioria, desejo a todos boa sorte! “Doe Crônica! Doe Vida!” Ah! daqui por diante sou Arnaldo Jabor, e como vocês sabem, a minha inteligência e sagacidade não permite que eu escreva bobagens, na verdade permite sim, mas como sou o Arnaldo, essa bobagem fará você refletir e pensar, e então não será mais tão bobagem assim.

Ah! O romantismo virá... aguardem! =)

domingo, 25 de outubro de 2009

Noites despretensiosas

As aventuras e desventuras de um modesto rapaz em baladas noturnas

Risos sem motivos. Ou melhor, com muitos motivos. O bar era perfeito. Um pub, daqueles com personalidade forte. Sobre o som? Ah, o som era exatamente como devia ser. Duas bandas, uma com as melhores coisas feitas por nossas bandas tupiniquins e outra com tudo melhor já feito. Beatles, mais Beatles, mais Beatles ainda, Rolling Stones, The Temptations, Kiss (isso mesmo, Kiss! Foi complicado segurar a lágrima), Deep Purple etceteras mais etceteras que, injustamente, resumi em "etc.’s".

As companhias eram precisas. Não podiam ser outras. Cada um se completava. Eu fazia o "louco que cantava todas as músicas, bebia além da conta e puxava conversas com tons sarcásticos até a medula"; Regis era o "cara que nos empolgava com piadas e sacadas de dar arrepios, o cara do ‘time’"; e a Mayara "nos completava com uma feminilidade sem frescura, bom humor e bom gosto pra cervejas". Parecia que havíamos saído das linhas escritas por algum bom dramaturgo. A mesa era, estrategicamente, a do canto. Óbvio que não podia ser outra, afinal de contas, de lá tínhamos a visão de todo o bar. E todos nos fitavam. À minha esquerda estava a banda, à direita o bar, mais à direita ainda a mesa de sinuca (posicionada no alto de uma escada traiçoeira) e no meio estava ela: a loira.

Tratava-se de um legítimo exemplar de "mulher madura", daquelas que parece saber com três dias de antecedência o que você pode pensar. Impossível não se sentir atraído. Nós, homens, sentimos uma profunda atração pelo incontrolável. Vai saber como isso se deu nos milhares de anos que fizeram nossa espécie descer das árvores e partir para a mesa do bar da esquina... Mas voltando, o baixista da segunda banda é amigo do Regis e passa o relatório digno de FBI, CIA, KGB e outras siglas que você nunca saberá o que significa: professora de inglês nas horas vagas e dona do imaginário dos alunos em tempo integral.

Aquilo estava além das minhas capacidades. Desisto da utopia de cara, sem nem mesmo tentar. Não se tratava de covardia, apenas avaliei que não valia a pena arriscar um pouco a noite excepcional com delírios pouco prováveis… Além do mais, havia um indivíduo sentado ao lado dela que fazia uma marcação individual duríssima, lembrando aqueles beques “cabeça de bagre” do antigo futebol, apesar do semblante de fracassado.

Dilemas

O papo na mesa era algo fora de sério pela sintonia espontânea dos seus integrantes. Lembro que eu estava, mais ou menos, entre terceiro ou quarto gole do terceiro copo, quando ela me encarou. Retribui, é claro. Como se fosse um nocaute em uma luta de boxe, iniciei a contagem. Cheguei aos dez quase sem fôlego. Mayara me disse que os olhares dela já estavam me buscando há algum tempo. Era difícil de acreditar.

Mantivemos a troca de olhares, com alguns acenos com o copo insinuando brindes por uns longos instantes. No entanto, não deixávamos de dar atenção aos nossos parceiros de mesa. Aquilo era charmoso. Tive que fazer um esforço descomunal para segurar minhas pernas que insistiam em afirmar o quanto eu era um imbecil por não ir lá e puxar um assunto.

Porém, a maior dificuldade em se acreditar não era pelo interesse dela, mas pelo meu remorso. Estava com um baita receio de fazer algo logo no dia do aniversário da minha, na época, namorada. É engraçado como certas situações só acontecem quando você não espera e, de certo modo, não quer. Sempre achei que destino combinava com ironia, mas aquilo já atingia o nível de absurdo! Fui para outra cidade fazer um concurso e, assim, tentar um emprego melhor, e acabei em um conflito ético.

Às vezes me pego pensando em como agimos na forma de duros censores sobre nossas próprias vontades. Não sei de onde consegui escrúpulos para não cair em tentação, mas o meu palpite favorito é que foi graças aos meus amigos mais íntimos no dilema daquela noite, ou seja, os copos de cerveja que me acompanharam até momento da prova no outro dia…