domingo, 21 de outubro de 2012

Com todo o amor



Quero-te bem, meu bem
Te amo além
Do que os sonhos fantasiavam
Do que eu sonhava também
Te amo além
Dos meus planos de amar alguém
Amo-te tanto, portanto
E sem porém.

Te amo aqui ou aí, ou ali, além
Em qualquer outro lugar
Amo-te sempre, sem você não sou ninguém
Nem quero ser
Pois você, amor, é o meu lar.

Thaís Carvalho

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Fim


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Me lembro que uma amiga costumava dizer, sobre as dores de amor que às vezes sentia, que não se morria dessas coisas. Foi a primeira coisa que pensei quando finalmente consegui voltar a andar após sair do apartamento dela. Porque eu fiquei suspenso ali por, sei lá, cinco minutos, esperando um chamado que nunca veio. E quando percebi que não veio e quando me dei conta do que viria no lugar, a primeira coisa que pensei foi em não morrer.

Qual o quê.

Talvez tivesse sido mais fácil pra mim se tivessem me dito que a dor de perdê-la me faria doente e meio louco. Talvez tivesse sido mais fácil se tivessem me alertado que parar de trabalhar pra esperar por ela todos os dias durante um mês não ia me fazer mais saudável, nem tampouco a traria de volta. Ninguém me disse isso. Só me davam tapinhas nas costas, riam quando eu dizia que estava à beira da morte e insistiam em dizer que ia passar.

Por um tempo achei que não ia passar nunca e vesti com orgulho minha mortalha. Me transformei em péssima companhia de bar porque estava quase sempre bêbado de dar dó, gritava com casais na rua e fui confundido com um mendigo certa feita em que estava sentado na frente da casa dela esperando ela passar com o noivo – agora já marido – só pra ir pra casa chorar depois. Até que minha mãe, pobre mulher, resolveu que eu tinha ultrapassado todos os limites do aceitável e impôs a condição de eu fazer terapia pra continuar morando na casa dela.

Com o tempo o visual mendigo foi embora, eu parei de frequentar a porta da casa dela, me tornei a companhia de sempre no bar e fui deixando pra lá. Com uns, sei lá, oito meses eu já tava refeito. Voltei a trabalhar, saí da casa da minha mãe e dava festas absolutamente inacreditáveis no meu apartamento.

Era feliz novamente sem amar ninguém.

Até que veio São Paulo. De novo.

E com São Paulo veio a Luísa.

Foi mais ou menos assim: tinha uma reunião do escritório e de lá fomos todos prum bar. E quando eu tava já muito bêbado ela chegou, mais bêbada que eu. Também era arquiteta, tava lá pra encontrar com alguns amigos que, por acaso, trabalhavam no meu escritório. Ela sentou do meu lado e conversamos a noite inteira, sem a necessidade de sermos apresentados. Eu, bêbado, contei toda minha história pra ela, que ouviu com lágrimas nos olhos e se pôs a xingar a ex junto comigo. Já quase amanhecia quando resolvemos ir embora. Disse a ela meu nome, que me disse o seu. Perguntei se ela costumava beber tanto daquele jeito, avisando que se a resposta fosse positiva eu adoraria tê-la como companhia. Ao que ela respondeu que só bebia assim quando o marido viajava, senão ele brigava com ela.

Claro, né.

Mas ficamos amigos. Melhores amigos. Ela tinha sido a primeira pessoa em quem consegui confiar depois do que a ex fez comigo, e isso não facilitava pro amor que teimava em nascer no meu peito. Não lutei, mas não me esforcei pra tirá-lo de lá. Só tentava agir como se ele não existisse, porque eu sabia que se eu dissesse a ela o que sentia, ela certamente se afastaria, por ser boa demais pra me machucar. Então aceitei o posto de melhor amigo feliz, porque era melhor que nada.

Com um ano de São Paulo resolvi me permitir me envolver com alguém, até pra ver se a presença da Luísa no meu peito diminuía um pouco. A moça era bonita, inteligente, gentil e completamente tarada, o que certamente me deixou ocupado por uns meses. E a Luísa sentiu. De início achei que seria somente ciúme normal de amiga quando um amigo começa a se relacionar com outra mulher, e não dei muita bola. Mas as reclamações cresceram e cresceram, e eu não podia falar da moça sem que Luísa soltasse suspiro atrás de suspiro, e percebi que ali era mais do que ciúme de amigo. E me doeu, doeu muito. Ao que me afastei. Ela, percebendo que me perdia, me puxou de volta. E perguntou o que havia. E eu rodeei, rodeei, até dizer que o ciúme dela quase me ofendia, tendo em vista que ela a essa altura já devia saber o quanto eu a amava.

Luísa me olhou como nunca tinha me olhado na vida, o olho cheio de lágrima, o suspiro suspenso. “Eu também te amo”, foi o que ouvi bem baixinho, quase um segredo. Não acreditei, fiquei com raiva, mas ela me puxou pelo braço e disse em voz alta, de maneira que meu peito entendesse bem: “eu também te amo”.

No dia seguinte fiz minhas malas e pedi pra passar um tempo na matriz do escritório. E fui embora sem me despedir. Quando Luísa disse que me amava quase pude ouvir a trilha sonora da minha vida, aquela há muito silenciada, começando a primeira nota. Mas um segundo depois me dei conta de que não poderia ficar com ela, porque veja bem, uma vez uma moça tinha me traído sem que eu tivesse feito absolutamente nada pra ela. E eu quase morri. O marido da Luísa, embora eu não tivesse feito questão de conhecê-lo bem, certamente não o merecia. Então não me cabia fazê-lo.

Passei seis meses sem dar ou ter notícia dela, então achei que seria saudável voltar. E voltei. E uns dias depois do meu retorno, no mesmo bar onde a conheci, um amigo muito bêbado resolveu espalhar a notícia de que eu estava na cidade, e saiu mandando mensagens de texto pra todo mundo. Minutos depois o telefone dele tocou. Era Luísa. Ele confirmou que eu realmente tinha voltado a São Paulo, disse que tinha uns dois dias e disse que eu parecia bem. Ela pediu pra falar comigo. Fiz que não com a cabeça, falei que não queria, que era melhor não. O amigo bêbado insistiu.

__ Alô?

__ Oi.

__ Oi, Luísa. Como você tá?

__ Solteira.

Começa a música. Sobe o letreiro. Fim.