terça-feira, 6 de julho de 2010

Tratado Geral do Ciumete – Parte IV: o telefonema embriagado

“Pelo amor de Deus, tira o telefone da mão deste sujeito”, berra a voz rouca da consciência do bêbado recém-pénabundado. Este grilo-falante sabe bem o poderio bélico de mierdas que o hombre alcoolizado pode desferir durante o choro para a ex-mulher, mas que, no entanto, surge na mente do lascado como atual único amor possível para esta vida.

O indignado resolveu ouvir os conselhos dos amigos, aqueles que disseram “se você ficar em casa é pior”, “mulher é que nem biscoito, vai uma vem oito”, entre outras máximas da auto-ajuda de cabaré. Saiu para a caça. O resgate daquele macho alpha de antes, porém agora domesticado por aquela que a pouco o abandonara.

Para ajudar nessa hora, todo favor é de bom grado. O sujeito desprezado resolve que é hora de recuperar o fluído corporal perdido em formato de lágrimas. E se assim for, que seja restituído com líquidos nobres. Ele chama para se composição da turma os velhos esquecidos Johnnie Walker – velho parceiro de andanças, José Cuervo – chicano invocado, mas chegado, e Vô Luiz – este ancião canalha.

Tudo pronto: que comecem os jogos entre varões & princesas, noturnamente repetidos todos os dias. Ele está de volta! Está nos vaivens mais uma vez! E quer se perder na covinha de algum sorriso convidativo... Recebe as atualizações em relação às gírias e parte pra vida mundana com confiança de quem já foi bom no esporte.

Eis que leva a rasteira do destino. Um golpe nas partes baixas da auto-estima. Ela está ali! Bebendo despreocupações e sorrindo “falta de remorsos” para quem quiser apreciar. E a malvada não está só, tem um brucutu a tiracolo. É o sopro de uma turbina de avião no castelo feito com cartas de baralho que esse abestado montou para se enganar. Ainda a ama, não resta dúvida.

Nada vai animar o nosso herói. A partida foi perdida num xeque-mate pastor. Desgraçada! Entre os instantes em que ele apaga numa amnésia alcoólica e dorme de vez, o judiado rapaz vai procurar o telefone. Quer ouvir da voz dela que já não o quer. Não o julguem, ele não faz ideia de que qualquer uma das respostas possíveis para esta questão o machucará como nunca.

Apesar de ter apagado o número dela da memória do celular, da memória do coração aquela combinação numérica ainda se mantém bastante viva. Caros confrades, é nessa hora que se faz o teste final do anjo-da-guarda do cristão: é torcer que o iPhone – presente do último Dia dos Namorados juntos – tenha caído de bateria até a ressaca do infeliz passar.

2 comentários: