quinta-feira, 13 de maio de 2010

conto

Ele a pegou em seus braços, deu-lhe um longo e profundo beijo, daqueles onde se sente a despedida como uma troca doce de sentimentos confusos e amedrontados pelo desconhecido. As pernas tremeram, mas o corpo forte daquele homem lhe dava base para se sustentar, ela sabia que aquele momento poderia ser o ultimo junto ao corpo do seu amado.


Ele a olhou nos olhos e disse “eu era como um pássaro, estava sempre a voar livre sem nenhum vínculo com a terra, mas depois que te conheci, as minhas asas passaram a ter somente uma direção, que é voar sempre para você, assim como meu coração”.


As lágrimas corriam em seu rosto, como ladrões no camuflar da noite esperando o momento certo para atacar. Ela sabia que a única forma dele a deixar, seria lutando em uma guerra, sabia que cedo ou tarde, aquela guerra poderia alcançá-la, logo, ele jamais permitiria isso.


Aqueles passos em direção a porta eram escoltados pelas batidas fortes do coração dela, era desesperador ver a única pessoa de sua vida partir, era como de repente acordar sem metade do corpo.


Quando ele abriu a porta, ela não agüentou. Correu como uma criança perdida que acaba de encontrar seus pais em meio a uma multidão. E o abraçou, entranhando suas unhas no grosso casaco, apertando suas pernas nas dele, juntando cabeça com cabeça numa perfeita união de corpos, que só acontece no abraço.


Numa ultima tentativa desesperada ela disse “você já perdeu essa guerra, pois quando você sair por esta porta, eu já estarei morta. Se você pretende morrer por mim, que seja ao meu lado me protegendo e assim, se o inimigo o acertar, estarei pronta para ir junto com você”.


Ele deixou a arma cair, e um vento forte e impetuoso entrou escancarando a porta rente aos dois, ambos olharam para aquela cena. Aqueles longos e lisos cabelos loiros aterrissaram sobre os olhos vermelhos de dor, cobrindo uma parte do medo que ali existia.


Ele olhou durante algum tempo para o que tinha além daquela porta, ainda sentindo o corpo da sua amada no seu, virou o rosto de encontro ao dela, tirou gentilmente aquelas mechas loiras revelando lindos olhos castanhos, a beijou como nunca havia beijado antes, e em seguida, fechou a porta e tudo que havia fora dali não era nada comparado ao que ficara dentro daquela casa.


Trecho tirado de um conto que escrevi em 2007

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