terça-feira, 13 de abril de 2010

Manicomial*

Não esperava dormir sozinho hoje à noite, na minha última noite... Não esperava chegar ao fim do meu dia estraçalhado, derrotado... Não esperava jamais que você me machucasse, jamais! Não contava que as minhas forças agora são suas e só suas. Eu perdi o controle sobre o todo, perdi completamente as rédeas desta história que eu espero que tenha um final feliz, juro que espero!

Estou nu em pêlos, com a alma despida e a cara preparada para levar os tapas, para sucumbir as sua taras, mas você não... Será que algum dia você esteve? Será que toda essa incerteza é só mais uma viagem dessa minha histeria descontrolada? Talvez, apenas talvez, eu possa estar inebriado pela sua companhia. Talvez, mas apenas talvez, eu já tenha entregado mais do que eu esperava e talvez, quase que certeza, você já levou meu coração com o melhor de mim e eu estava dormindo... Nem percebi...

Eu estava dormindo, você estava acordado, eu estava sonhando, você esteve acordado. Eu não era mais eu, você... Ah, você... Era apenas a sombra do que eu pensei que fosse. Você era mais um dos personagens voltando para a minha vida... para me surpreender e me capturar. Ah, como eu senti sua falta, sabia? Eu não sabia!

Não queria, não podia, eu não sentia mais nada, não sabia que ainda sabia sentir e me desvirtuar daqueles caminhos tão certos... Agora tão tortuosos, que me fazem sentir tão embaraçado e cheio de sentimentos incoerentes, sentindo o oposto daquilo que eu temia e afastava pra longe... Eu não, não queria!

Prostitui-me diversas vezes prostrado no absurdo, por tão pouco não me reconhecia... Eu acordava molhado de suor e gozo pelo corpo e vestes e chegava em casa na velocidade de uma bala... Escovava os dentes, tomava banho, pingava colírio e fingia ser uma pessoa melhor. Eu pendia para o pior, você sempre soube. Você não fez nada!

Eu lhe pedi várias vezes, deixei pistas no seu armário, nas suas calças e em toda a sua demência. Você sempre adormecia, sempre me amarrava para me comer com unhas e dentes na manhã seguinte. Eu já não gritava, não expressava, não ansiava mais por nada... Ora, eu havia me acostumado a ser o seu brinquedinho vulgar... Mesmo sem saber se estava correspondendo as suas expectativas, eu gostava de pensar que sim, que sim pelo menos uma vez. Pensar positivamente como se isso fosse afastar todos os problemas e me levar para um lugar comum.

Eu repeti, eu escandalizei, eu lhe implorei que não fosse. Implorei para que ficasse comigo, para que fôssemos nós e não apenas você ou eles... Vendi-me por um pouco de adrenalina e sentei para ver, paguei por ser assim. Por não ter um preço fixo e por procurar sempre quem podia pagar mais... Por quem podia ser mais útil para ocupar os meus espaços vazios e assim, quem sabe, dormir um sono tranqüilo ao invés de ficar acordado.

Você sabe que está com o poder nas mãos... Faz eu me sentir mais desesperado. Faz com que eu roa as unhas e o sangue sem pestanejar... Invade meus sonhos, escarra no meu sexo para depois me tomar como seu... Novamente seu, você sabe, apenas seu. Você gosta! Eu gosto, quem não gosta? Quem não sente? Eu sinto, eu embarco, eu escarneço mas olhando sempre para os lados com um fio de medo. Eu não sei mais o que faço, só sei que você me hipnotiza e as suas mãos encaixam no molde exato das minhas. Nessa hora eu esqueço todo o emaranhado, toda a parte difícil e volto abanando meu rabo para você. Você sabe e você gosta! Quem não gosta? Quem não sente?

* Texto do jornalista e cantor André Lima.

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