quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Da despedida forçada, ou como lidar com um sofrimento inevitável

Daí que moro em terra estrangeira há mais de quatro anos. Foram quatro anos inteiros com o desejo maciço e permanente de voltar pra casa. Mas o momento nunca chegava. Chorei sozinha, quis fugir, cheguei a pegar o carro e dirigir até o aeroporto com a mala no banco do passageiro, mas voltei a tempo de repensar e decidir que não se morria dessas coisas.

É claro que em quatro anos nasceu um monte de gente na minha vida, um monte de pseudo-amores que coube a mim, com o tempo e com a razão, transformar em amores de fato ou apenas experiências de crescimento. Sempre deixei meu céu aberto pra invasão alheia, porque a saudade de minha casa me cegava pra um fato: o que eu ia fazer desses amores quando fosse a hora de voltar em definitivo?

Estive tão afundada no desejo maciço e permanente de voltar pra casa, pros meus, que deixei no modo espera o fato de ser, hoje em dia, absolutamente dividida em duas cidades. Ignorei que mesmo morando em terra estrangeira eu tenho casa, minha casa, o peito do homem amado que me abriga há dois anos. Ignorei que aqui fiz amigos reais e pra vida toda, apesar da distância física diminuir os ímpetos sentimentais. E agora, agora tudo veio à tona.

Sim, vou embora, cedo ou tarde. E a solução mais prática e menos indolor era, claro, levar todo mundo embora comigo, fundir minhas duas vidas numa só. Mas não é possível, ou é? Alguém tem o resultado favorável dessa fórmula matemática?

Então me peguei pensando, já com uma dor latente, no tanto que eu perco. Porque amizades à distância se mantêm, mas e meu amor? O porto seguro que nadei, nadei e quase me afoguei tentando encontrar? Meu lugar preferido, como fica?

Vou me preparando então para, obrigatoriamente, esquecer. Esquecer alguém não por ter me feito mal, e sim por ter me feito a pessoa mais feliz do mundo. Esquecer alguém não por desamor, mas por amor puro e intenso. Esquecer alguém simplesmente porque um capricho do destino fez com que ele tivesse nascido no Acre e eu em Brasília.

Esquecer os gestos, o cheiro, o sabor. Esquecer das palavras de afeto, dos momentos duros que enfrentamos, momentos meus e momentos deles. Esquecer o quanto um fez pelo outro. Porque viver com uma lembrança dessa é aprender a morrer, e eu não quero. Saudade só faz sentido quando se pode matá-la na saliva. De resto, é virar viúva de alguém que ainda vive. É se enrolar em uma mortalha pro resto dos dias.

E fica a pergunta: quando é que se poderá amar assim de novo? Quem vai me chamar de babe e viver cada momento íntimo que a gente viveu? Quem vai me ensinar a ser o melhor que eu posso ser, todos os dias? Com quem vou fazer cinema? Até nossos momentos íntimos em que somos um casal feliz e retardado, onde vão parar? Com quem farei a secreta dança da vitória?

Haverá uma resposta para isso e para tudo. No mais, vou aqui fingindo que não me preocupo com isso, e que tudo vai dar certo no final.

Enquanto isso, vou redecorando as palavras de Chico Buarque, que sabiamente diz que “a saudade dói latejada, é assim como uma fisgada num membro que já perdi”.

Se dependesse do que diz Chico nessa canção, esse post seria só o vídeo. Porque ele basicamente diz tudo, né.

4 comentários:

  1. Diz sim. E o Chico tá lindo aí, hein? Poxa vida. Sendo bem otimista eu creio que tudo pode dar certo antes do final. É meu lema do semestre. É minha cara...vamos mesmo deixando, abrindo mão do que é bom e do que não é (ainda bem). Esse amor vai ser perfeito enquanto durar. Um abraço.

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  2. Lindo texto, também já me vi assim, quando saí do Acre de volta para Cuiabá. Tive vontade de trazer todo mundo comigo, fundindo minhas duas vidas.
    Abraço

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  3. Sonhei com o Chico por causa desse post. Maldade!

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  4. Também vivo isso. Até hoje, quando penso em ir à farmácia, faço o caminho que fazia no Rio de Janeiro. Tá vendo? Tenho saudade até do caminho para a farmácia. Maluquices de quem convive com ela.

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