domingo, 28 de novembro de 2010

Chuva Fina


Era um dia cinza e frio. Entrei no ônibus e sentei-me num daqueles bancos altos, sozinho. Fiquei olhando pela janela a chuva fina molhar a cidade toda aos poucos, sem pressa. Duas moças sentaram-se à minha frente e uma delas ouvia passiva a outra relatar suas dores de um amor distante.

O que mais me cativou não foi a história da moça em si, e sim a pergunta que ela fazia para si mesma em voz alta: ‘Como é possível sentir saudade de um beijo que nunca ganhei?’ Naquele momento me senti tentado a corrigi-la. Quis dizer que havia um equívoco na pergunta. Ela deveria dizer que desejava muito o beijo, pois não haveria como sentir saudade do que não viveu.

Ainda bem que não disse nada a ela, pois o equivocado certamente era eu. Afinal de contas o sentimento era dela, ninguém melhor do que ela para descrevê-lo (ou mesmo questioná-lo). Visto que a amiga apenas sorriu, provavelmente a julgando tola, ela se calou. Eu também me calei. Na realidade, nem estava falando. Mas calei o pensamento.

Pude entender que ela realmente devia sentir saudade. Olhei para fora e percebi que a rua estava completamente molhada, mas a chuva continuava fina. Sem pressa, como tudo nessa vida necessitava ser. Desci duas paradas depois da que eu deveria descer. O pensamento de ter saudade do que não vivi tomou conta de mim de tal forma que já nem sabia direito pra onde estava indo antes. Só que agora eu já sabia onde queria chegar.

Thais Carvalho

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