Daí que moro em terra estrangeira há mais de quatro anos. Foram quatro anos inteiros com o desejo maciço e permanente de voltar pra casa. Mas o momento nunca chegava. Chorei sozinha, quis fugir, cheguei a pegar o carro e dirigir até o aeroporto com a mala no banco do passageiro, mas voltei a tempo de repensar e decidir que não se morria dessas coisas.
É claro que em quatro anos nasceu um monte de gente na minha vida, um monte de pseudo-amores que coube a mim, com o tempo e com a razão, transformar em amores de fato ou apenas experiências de crescimento. Sempre deixei meu céu aberto pra invasão alheia, porque a saudade de minha casa me cegava pra um fato: o que eu ia fazer desses amores quando fosse a hora de voltar em definitivo?
Estive tão afundada no desejo maciço e permanente de voltar pra casa, pros meus, que deixei no modo espera o fato de ser, hoje em dia, absolutamente dividida em duas cidades. Ignorei que mesmo morando em terra estrangeira eu tenho casa, minha casa, o peito do homem amado que me abriga há dois anos. Ignorei que aqui fiz amigos reais e pra vida toda, apesar da distância física diminuir os ímpetos sentimentais. E agora, agora tudo veio à tona.
Sim, vou embora, cedo ou tarde. E a solução mais prática e menos indolor era, claro, levar todo mundo embora comigo, fundir minhas duas vidas numa só. Mas não é possível, ou é? Alguém tem o resultado favorável dessa fórmula matemática?
Então me peguei pensando, já com uma dor latente, no tanto que eu perco. Porque amizades à distância se mantêm, mas e meu amor? O porto seguro que nadei, nadei e quase me afoguei tentando encontrar? Meu lugar preferido, como fica?
Vou me preparando então para, obrigatoriamente, esquecer. Esquecer alguém não por ter me feito mal, e sim por ter me feito a pessoa mais feliz do mundo. Esquecer alguém não por desamor, mas por amor puro e intenso. Esquecer alguém simplesmente porque um capricho do destino fez com que ele tivesse nascido no Acre e eu em Brasília.
Esquecer os gestos, o cheiro, o sabor. Esquecer das palavras de afeto, dos momentos duros que enfrentamos, momentos meus e momentos deles. Esquecer o quanto um fez pelo outro. Porque viver com uma lembrança dessa é aprender a morrer, e eu não quero. Saudade só faz sentido quando se pode matá-la na saliva. De resto, é virar viúva de alguém que ainda vive. É se enrolar em uma mortalha pro resto dos dias.
E fica a pergunta: quando é que se poderá amar assim de novo? Quem vai me chamar de babe e viver cada momento íntimo que a gente viveu? Quem vai me ensinar a ser o melhor que eu posso ser, todos os dias? Com quem vou fazer cinema? Até nossos momentos íntimos em que somos um casal feliz e retardado, onde vão parar? Com quem farei a secreta dança da vitória?
Haverá uma resposta para isso e para tudo. No mais, vou aqui fingindo que não me preocupo com isso, e que tudo vai dar certo no final.
Enquanto isso, vou redecorando as palavras de Chico Buarque, que sabiamente diz que “a saudade dói latejada, é assim como uma fisgada num membro que já perdi”.
Se dependesse do que diz Chico nessa canção, esse post seria só o vídeo. Porque ele basicamente diz tudo, né.
Diz sim. E o Chico tá lindo aí, hein? Poxa vida. Sendo bem otimista eu creio que tudo pode dar certo antes do final. É meu lema do semestre. É minha cara...vamos mesmo deixando, abrindo mão do que é bom e do que não é (ainda bem). Esse amor vai ser perfeito enquanto durar. Um abraço.
ResponderExcluirLindo texto, também já me vi assim, quando saí do Acre de volta para Cuiabá. Tive vontade de trazer todo mundo comigo, fundindo minhas duas vidas.
ResponderExcluirAbraço
Sonhei com o Chico por causa desse post. Maldade!
ResponderExcluirTambém vivo isso. Até hoje, quando penso em ir à farmácia, faço o caminho que fazia no Rio de Janeiro. Tá vendo? Tenho saudade até do caminho para a farmácia. Maluquices de quem convive com ela.
ResponderExcluir