terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

O trauma primário: raízes do comportamento masculino*

Lembro-me de quando era apenas um rapazote em que minhas preocupações maiores eram fazer o dever de casa e cultivar amores platônicos, enfim, o cotidiano escolar de um pré-adolescente. Esses amores eram quase sempre compartilhados, diferente de quando se cresce, pois já não se quer dividir. Interessante notar que os enamoramentos nessa fase da vida são eventos coletivos, um menino estava quase sempre desejando uma menina que, coincidência ou não, era a mesma menina que os seus amigos também desejavam. O destino não estava aqui pregando suas peças, pois era como se o grupo do Bolinha elegesse a musa do mês, é possível que em algum lugar deste mundo meninos tenham organizado este sistema até mesmo através cédulas e urnas afim de uma eleição justa.

Até agora falei dos aspirantes a varões, mas pelo o que me lembro as coisas não eram muito diferentes para as meninas, pois elas tinham um processo de amor muito próximo de nós, isso no que diz respeito a coletividade em que se dava esses enamoramentos. E essa talvez seja a única semelhança o restante era tudo diferente, primeiro, muitas meninas consumavam seu amor, enquanto nós meninos nos deleitávamos apenas em pensamentos, contudo tem outra diferença que acredito vir antes dessa: nós amávamos as meninas, mas elas não nos amavam. Vou explicar melhor, a nossa deusa, o alvo de todo nosso desejo, estava ao nosso lado, ou seja, as nossas musas estavam ali na nossa sala de aula, nossos amores eram aquelas garotas com as quais convivíamos todos os dias, com quem fazíamos trabalhos. Talvez a cumplicidade nos encantavam, acho que o fato dividir os mesmos espaços e os mesmos dias colocava fantasias amorosas na cabeça de nós pobres meninos, mas para elas não (e um NÃO bem convicto). Elas preferiam olhar para os meninos mais velhos (não eram velhos, todavia mais velhos o suficiente para serem muito diferente de nós “pirralhos” imaturos). Para resumir a história nós queríamos o próximo e elas queriam o distante.

Talvez isso tenha dado a mim e a muitos outros garotos a certeza de que essas musas estavam sempre com os caras errados. Impressionava o porque de fulana, tão linda, perfeita e única estar com aquele cara que não merecia ela, na verdade nem sabíamos porque não mereciam, mas o fato é que eles não eram bons o suficientes para elas. Era o contraste da inocência quase angelical das garotas meigas e desprotegidas com a bruteza masculina dos caras errados. Eles eram os forasteiros que vinham roubar nosso ouro e, citando Helder, nos indagávamos "Como podem estes abesto-idiotas cativar o bem querer dos justos?" No caso aqui das justas, mas não tão justas, até porque dada a situação valorizava-se outras virtudes: lindas e amáveis. Se tivéssemos, na época, a idéia de fazer uma revolução de suma importância nas nossas vidas, todos bradariam gritos de “Cafajestes deixem nossas meninas”. Engraçado que achávamos que elas fossem vítimas e não vilãs, talvez a ingenuidade estivesse do nosso lado e não do delas.

Sabe concordo com as mulheres, éramos um pouco imaturos mesmo, mas inocentes e acima de tudo românticos.


*Crônica de João Vianna, amigo psicólogo e romântico. O cabra bateu colocado neste texto. Parabéns.

5 comentários:

  1. eh, eu sempre ficava com os mais velhos. É que ver os garotos da minha turma brincando de luta nos intervalos não dava para perdoar...

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  2. É uma pena que a maioria dos rapazotes com o passar do tempo tornam-se os forasteiros desmerecedores do amor das fulanas "lindas e amáveis". Há quem diga que é uma questão das diferenças do sexo. =P

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  3. é verdade viu Clarinha, eles esquecem que crescem e se tornam aqueles que um dia ousaram dizer que não mereciam as musas deles.

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  4. É verdade isso. Sempre gostamos do distante e quase impossível! Muito bom!!

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  5. Amei!!!!muito verossímil...PARABÉNS!!!Concordo Fabiana...kkkk

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