sexta-feira, 13 de novembro de 2009

O deixar

Estava a quase 100 km/h, era uma noite extremamente gostosa, fria. Tentava não fechar os olhos com vento que batia no meu rosto ao colocar a cabeça rapidamente para fora do carro. A música estava alta, o som abraçava cada pedacinho daquele automóvel e caminhava pela minha mente despertando sentimentos adormecidos.


Minha vontade era ir para um lugar longe, distante de tudo, queria ficar sozinho ouvindo aquela musica triste. Estava deprimido, queria pegar aquele carro e voar para longe das minhas lembranças, fugir de mim mesmo.


Queria contemplar aquela escuridão infinita da noite e esquecer as tempestades que varreram todos os alicerces da minha emoção. Aquela rua era asfaltada de lembranças que brincavam em cada curva comigo.


Parei em lugar nenhum, senti as gotas caçoarem em seu pequeno trajeto rumo ao chão. Aquela chuva era diferente, ela não regava, não produzia vida, ao contrário, estava esvaziando uma grande parcela dela. Os soluços tornaram grandes trovões que ecoavam no vazio em meu peito.


Provei o gosto amargo de cada migalha contida no âmago das minhas lembranças, mastiguei e cuspi fora tudo aquilo que me fazia querer desistir, era ladrões ensinados por mim mesmo a apanhar a minha alegria.


Lembrei que quando estou fraco então sou forte, pois a fraqueza desperta diante da humilhação pessoal e espiritual a regeneração. Olhei para todos aqueles fantasmas que a pouco possuíam meu corpo e absorvi a primeira remessa de vida nova. Não importava agora se eu estava em lugar nenhum, a estrada que me levou até ali, agora nunca mais seria usada.


3 comentários: