sábado, 7 de novembro de 2009

Estação


Chegou, sentou-se ao meu lado, indagou as horas. Parecia tarde, mas ainda era cedo. Calou-se. Depois, inquieto no silêncio, puxou assunto. Eu, a contragosto, respondi pouca coisa. Desde pequena aprendi a não falar com estranhos. Mas, depois de alguns minutos, já não me parecia tão estranho assim.


Resolvi perguntar seu destino. Confesso que, tentando lembrar agora, acho que nem entendi muito bem pra onde ele estava indo. Só sabia que ele estava ali, e isso já fazia todo o sentido. Horas se passavam, conversas infindas, e o trem não chegava... Esperara tanto, mas naquele momento o que eu menos queria era partir. Trocamos endereços, telefones, e-mails... acabávamos de nos tornar amigos de infância! Tantas coisas em comum... rimos juntos de pensar que parecíamos personagens de um filme. Protagonistas, pra ser mais exato.


Contou-me um resumo de sua vida, perguntou da minha. Mais coincidências! Quem quer que fosse, vendo-nos assim juntos rindo da vida, concluiria que nos conhecíamos há muito tempo. Era só química? Não sei. Nossas conversas giraram ainda pela geografia, matemática, música, literatura...


O tempo (nosso algoz!) tratou de passar rápido. Foi quando me surpreendi com ele me dizendo que não queria mais partir. Havia mudado o plano. Era possível adiar um pouco mais. Estava tão bom ali na estação. Sorri. Mas sabia que em breve o meu trem chegaria e tive dúvidas do que eu deveria fazer. E tive certeza que não era só mais um encontro. Éramos muito bons juntos. E, do nada, isso parecia nos bastar.


Entretanto, como todo filme tem um final, feliz ou não, o trem dele chegou antes que o meu. Ele, encabulado, disse que pensando bem era melhor partir aquela hora. E eu concordei meneando a cabeça, e sorrindo amarelo. - Eu te ligo! - Não, eu disse, deixa que eu te ligo... Deixa que eu te ligo...


Deixa... e foi assim, deixando-me, esse estranho conhecido, que eu percebi que o meu trem ainda demoraria muito pra chegar. Percebi que ele não ligaria, eu muito menos. E ainda estou aqui, aguardando o próximo trem. O verão passou, o outono também, o inverno chegou... e espero, ansiosa, que as flores se abram logo, e me tragam o colorido que sumiu!



Thaís Carvalho.
(uma genial amizade de Cuiabá -MT) =)

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