terça-feira, 24 de novembro de 2009

Dicionário da mulher – Verbete: Coragem feminina

Mulher, mulher
Na escola em que você foi ensinada
Jamais tirei um dez
Sou forte mas não chego aos seus pés
Erasmo Carlos

Assim como meus colegas de espaço, Regis e Ulisses, venho a cá neste blog rascunhar preciosas linhas com quem realmente merece: as mulheres. Através da croniqueta de hoje, pretendo outra vez fazer o papel de pôr alguns pingos nos “i”s neste embate da guerra dos sexos. E escrevo me dirigindo principalmente para os barbixas que volta e meia estão de passagem pela Confraria dos Últimos Românticos – o lugar onde é sabido que mulher é tratada como dever ser: com reverência.

Entre aqueles que sabem pelo menos uma migalha da vida, é consenso que não por acaso “coragem” é um substantivo que bate o pé e faz questão de ser feminino. Assumindo a veracidade dessa máxima, caro colega de macheza, você nada mais faz do que reconhecer uma das verdades mais indiscutíveis.

Fico com uma puta vergonha quando me vem um filisteu citando o causo do livro de Gênesis, onde Adão cedeu uma costela para que Deus criasse Eva com tom de cobrança. Amigo, deixe de bestagem! Para tal benfeitoria, o primeiro hombre praticamente não pagou necas de pitibiriba. Uma pechincha divina. Não use mais esse argumento, por favor.

No ramo da lei da natureza, o ato de entregar seu corpo em prol da vida durante nove meses, para no final o novo ser ainda chegar carregando uma dor dos infernos. Não sei vocês, que se dizem os senhores da resistência, mas parir é algo celestial. Quero valer como nenhum fisiculturista, daquele afeito a levantar ferros e passar óleo no quengo, se agüentaria esse repuxo. Isso sem contar que mãe e mãe, e não se fala mais nisso.

Quando o assunto é amor, aí sim é que pegamos um baile. Pode até pairar pelos pensamentos algo como “me apaixonei, tô fudida!”, mas nem por isso ela se priva da entrega no relacionamento. Já nós, varões, trocamos os pés pelas mãos e fazemos dos momentos mais sublimes algo sacana, covarde, imbecil.

Se formos comprometidos, mentimos. Só depois dela se entregar sem freios é que contamos sobre a existência de uma mulher que cuida de nossos filhos enquanto nos espera. Temos medo, mas isso não nos absorve da acusação de canalhismo.

Lembro de um caso bobo, mas que prova por a mais b o que tenho dito. Certa vez, estava como toda quarta-feira no Bar do Papagaio acompanhando algum duelo futebolístico. Eis que, naquele reduto de macheza, uma mulher, cheia de si passou. Como era de se esperar, alguns bastardos inglórios (créditos ao Tarantino) assoviavam como se aquilo fosse postura correta. Ela nem ligou. Passou, deu o beijo no seu namorado e voltou. Entretanto, já perdi as contas dos homens que já vi amarelarem para qualquer reunião de chá de alguma coisa. Não por tédio, mas medo mesmo.

É por isso que saúdo a coragem feminina. Freud falava da inveja do pênis. O que poucos sabem e o pai da psicanálise não admitia é que podia até ter um falo, mas nunca teria tamanha coragem.

3 comentários:

  1. Gostei do texto, Hélder. Tanto o tema, como a escrita... excelente! meus parabéns!

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  2. Lembrei desse dia.. o papagaio tava até de mau humor.. haha
    POdes crêr mestre.. Very good.

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  3. Lembra da pressão que ela recebeu, Guima? Se ela quisesse, casava com ela no ato.

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