segunda-feira, 30 de maio de 2011

Pedras no peito

Em um quarto vazio.
A chuva caindo como que querendo anunciar o presságio de algo ruim. A mal-iluminação, a situação e o aperto no peito.
Mesmo que conseguisse afastar aquele peso, não saberia se era o melhor a se fazer.
Alguns de seus velhos cadernos - há muito tempo evitara escrever, afinal, isso só aumentava seu estado de torpor - achados, espalhados á sua frente, todos preenchidos com escritas mal organizadas, desenhos sem sentido e riscos rústicos.
A velha caneta - e a tinta que parecia nunca acabar - tudo encontrado no mesmo lugar, como se tivesse encontrando a paz que parecia sempre querer fugir de sua vida.
Se você esforçar-se somente um pouco e repousa-se sobre a pequena seus olhos, notaria o seu semblante sombrio. Enxergaria seu quase imperceptível desespero gritante.
Ela queria se livrar de tudo aquilo e nunca conseguiu, não consegue e provavelmente não conseguirá.
Suas mãos, trêmulas, vasculhavam seus cadernos á procura de folhas em branco, e quando as encontrou começou o seu discurso sem hesitação:

Hoje, eu morri novamente
Com o toque das
minhas pálpebras
Com o suspiro e a respiração
que somente existem para lágrimas.
As lamúrias constavam mais de mil anos
em meu apodrecido peito.
Eu quis novamente viver
E o custo da escolha foi o meu retorno ás origens...
Aquelas que me separei e mandei embora.
Meu sentir - já tão debilitado - Outra vez ajoelha-se implorando
á mim para sua extinção.
Toco uma última vez na face dessa
desordem
e a deixo á mercê de suas próprias displicências.
Adequa-se á outra - maldita -
não existe mais apego em mim
E eu continuo debruçando sobre meu caos melancólico.
Sobreviverei.

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