segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Detalhes tão pequenos de nós dois - os cheiros

Há que se amargar a lembrança, vez ou outra, e nem é por querer. Porque o que eu queria mesmo era te esquecer. Mas ando impossibilitado disso.

Há que se amargar a lembrança por tudo que te traz de volta. Ando perdendo minhas horas por aí e nada de você desalojar. Sinto seu cheiro. Seus cheiros. Em todos os lugares.

Seu perfume eu sinto toda vez que entro na loja de perfumes, e peço pra moça borrifar um pouquinho do seu cheiro no meu pulso. Daí eu saio da loja abraçado ao pulso, me olham como doente, e eu sigo de olhos fechados lembrando de cada segundo que tive esse cheiro só pra mim. Eu, ciumento até da luz que a faz mais branca, tendo de me abraçar ao meu pulso porque seu pescoço andava ao alcance de um outro marmanjo que jamais te amaria como eu amei.

Todas as manhãs, quando vou à feira, sinto o cheiro do seu pastel de queijo e do seu caldo de cana domingueiros, e choro copiosa e silenciosamente junto aos bagaços moídos. Preparo uma metáfora fajuta entre os bagaços e meu coração, e falho miseravalmente porque ninguém, nem um poeta delirante de amor, seria capaz de realizar tal metáfora de maneira bem-sucedida.

No restaurante do trabalho, se algum comensal pede suco de cupuaçu, meu olho se enche de lágrimas. Você odiava cupuaçu com todas as suas forças. Você dizia que fedia. E eu me lembro perfeitamente de você dizendo isso, com tanto amargor na voz - "cupuaçu fede, tira isso daqui".

Há que se amargar a lembrança. E sentir cada cheiro seu. Até comprei o mesmo aromatizador de banheiro que você usava, acredita?

3 comentários:

  1. É assim mesmo, lembranças de cheiros são terrivelmente presente, até mais do que lembrança da presença. Eu sinto a lembrança de cheiros de ambientes, de momentos...

    P.S
    Estou construindo meu blog, passa lá?

    Abs
    Lene

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  2. Tenho sérios problemas com cheiros também. Eu gosto do cheiro de cupuaçu na pele. Demora dias pra sair.

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