sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Amores outros e outros modos de amar

Ele mal nasceu e ela também, mal sabem que foram feitos um pro outro, quase isso na verdade, não é que desde sempre fossem peças encaixáveis, porque não nasceram exatamente prontos um para o outro, mas foram assim se concebendo e se construindo, a idéia é que ninguém nasce pronto para nada, muito menos para amar, para ‘eles’ essa é uma lição que se aprende. Mesmo recém-nascidos todos já sabiam que ambos tinham algum tipo de ligação, talvez os dois pequenos não soubessem, mas todo o resto sim. Quando crianças começaram a brincar juntos e sem se darem conta estavam iniciando algo que perduraria por muito tempo de um significado essencial para suas vidas. No pátio central, em torno do qual as casas se dispõe formando um círculo, eles puderam fazer jogos, conversar e se olharem, não era forçado, era natural, estimulado em certa medida, mas ambos não resistiam um ao outro, e em algum momento descobririam que iriam viver juntos e compartilhar muito mais que brincadeiras e conversas. Ainda crianças Ele a chama de “minha futura esposa” e Ela chama a ele de “meu futuro esposo”, talvez não tenham consciência do que isso significa realmente, mas foram ensinados por todos que assim deveriam se referir. Tanto ele como ela não tinham percebido ainda, mas já se conheciam melhor do que a qualquer outra pessoa, ainda eram pequenos, mas já possuíam uma sintonia e uma ligação que ultrapassava muitos níveis. O amor que entre eles já existia antes de seus nascimentos foi costurando desde tenra idade toda uma vida, até que em um dado momento perceberam que haviam estabelecido uma identidade dual, uma noção de pessoa de dois indivíduos, e então se casaram e tiveram filhos. Ele que antes brincava de caçar agora vai fazer a roça e cuidar do alimento para a família, e ela que antes aprendia com a mãe a cuidar dos filhos, estava fazendo cestos para armazenar os peixes que ele pescava.
Bem, o amor indígena não significa casamentos arranjados, fruto de imposição autoritária, mas são experienciados como aprendizados, para depois concretizarem uma espécie de fusão, são amores que se constroem juntos desde muito cedo, são concebidos, o casal aprende um sobre o outro ao mesmo tempo em que vão aprendendo sobre si e, nesse sentido, o ‘eu’ se confunde com o ‘outro’, fazendo do ‘outro’ o eu, subvertendo a matemática, transformando dois em um. O amor deles é fruto de amizades infantis, com sentimentos fraternais que passam com o tempo a ser temperados por “químicas”, por proximidades corporais que não se saciam mais com contatos curtos. E então se dão conta que na verdade eram amigos diferentes, apaixonados sem saberem, com um desejo latente que esperava o momento certo para se manifestar, e que quando se manifesta torna a amizade e a sintonia construída ainda mais potente.

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