quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Hoje não deu rock

Desci. Desci o elevador, alguns degraus e a rua. Fui e confesso: estava à procura de um amor. Em qualquer bar, em qualquer esquina. A cada olhar que cruzava com o meu, eu dizia: vem! Estava com meu vestido decotado e um casaco que não esquentava nada. Apenas um charminho inútil. Na falta de um drink de frutas, pedi uma ice. Não era como aquela da garrafa de gato, mas tinha o gosto (e a sensação) bem parecido. Na verdade, eu desci em busca de um licor de menta no bar da esquina de cima, onde uns negros de dread tocam reggae a noite inteira. Mas estava fechado, assim como o céu que já não me apresentava estrela ou esperança nenhuma. Fui então seguindo a música. E segui com as minhas botas de salto alto naquela noite fria e bem agitada por aqueles estudantes na melhor época na faculdade. Sempre me recusei a fazer parte daquilo, afinal, era uma coisa que eu simplesmente não conseguia fazer parte. Bando de gente chata, afinal. Mas resolvi sair assim, acompanhada apenas pelo resto da noite e pela madrugada inteira. Me aventurando de cabelos soltos e sem bolsos para esconder as mãos sem jeito. Esqueci a Tv ligada, como sempre, com algum filme que me faz dormir, só para não esbarrar no silêncio quando voltasse. Afinal, eu já sabia que aquele show do Chico César, lá n’outro bairro de nome santo, não tinha hora para acabar. Mas eu segui outras músicas, por outras esquinas. Entrei naquele bar onde tem um jukebox que reúne um pessoal meio esquisito, de jaqueta de preta. Por escadas ainda mais escuras, subi para a boate ao som de um tal “eu quero é ver o oco”. Raimundos não me deixa pensar em nada, nem lembrar, nem sentir saudades. Então, talvez fosse “a batida perfeita” praquela noite. Eu cheguei e me encostei num balcão como numa cena de filme. E não resisti de consultar o celular mais do que o necessário. Deveria tê-lo deixado em casa e de preferência desligado: ninguém me ligaria mesmo, e, assim, eu nem arriscaria ter essa certeza. Resolvi curtir o som, as pessoas e a minha ice. Tudo poderia continuar e terminar tranqüilo se aquela bandinha não resolvesse se aventurar com um Led Zeppelin. Eu devo até ter fechados olhos por alguns segundos e mexido a ponta do dedão do pé. O grupo seguiu com Red Hot Chilli Peppers e Foo Fighters. O detalhe é que tudo isso soava bem porcamente aos meus ouvidos. De início, até me dediquei a não perceber aquelas atravessadas, aquele inglês meia-boca e o repertório grosseiro. Mas, não deu! Talvez eu devesse ter topado o Chico César. Talvez, me deixado levar pelo sono do filme de sexta-feira à noite da rede Globo. Talvez... - Amor, fica para outra noite, esse guitarrista sem coração embrulhou meu estômago e me tirou qualquer remota vontade de me apaixonar. Voltei para casa. Fui dormir, novamente, na minha cama gelada, sem amor, e, pior, novamente com a certeza de que os showzinhos de rock não servem pra nada.

2 comentários:

  1. "O meu rock´n roll morreu"...definitivamente.

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  2. Apesar de tudo; imagina se você não tivesse o rock... Nunca se sabe quando algo vai atravessar nossa vida, mas podemos saber como vai ser nossa conduta

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