quarta-feira, 13 de abril de 2011

O bar e seus debates

ou o Manifesto pelo Vale-Boteco


Dia desses estava aqui, frustrado, pensativo na razão do sumiço de pautas sobre romances, relações, besos arretados, dentre outras safadezas cordiais que compõem o meu catálogo de assuntos abordados nesta Confraria. Nessa cabeça y corazón, num passe de mágica para os otimistas e num revés de azar para os realistas, me vi sem nada para contar.

“Cadê tu, inspiração?!”, pergunto e incorporo o escritor-mequetrefe metido a ter bloqueios criativos. Balela, amigos y amigas. Bastou uma análise mais sincera, uma crítica menos regada de auto-piedade para enxergar o que se fazia óbvio. Há tempos não visitava os meus mosteiros de pensamentos românticos: os botecos pés-sujos.

Vejam que cheguei a culpar o excesso de trabalho ou a temporada de enamoro que vivi. “Bullshit!”, diria o xerife do velho-oeste após desferir uma cuspida de asco e tomar de uma lapada só a sua tequila no Saloon. Nada disso é causa pra tal escafedo. A culpa era do intervalo de jogos de futebol na televisão, razão para que todos os domingos e algumas quartas-feiras, quintas-feiras e sábados, batesse meu cartão de ponto no Bar do Papagaio ou Bar dos Papudos.

Lá, naquelas mesas com cadeiras de plástico desbotado ou de ferro comidas de ferrugem – quando não é um tamborete – escuto e desabafo sobre as mujeres e suas façanhas, juntamente com meus comparsas e os entrosados que sentam nas adjacências, porém, nem por isso, inibidos em se achegarem nos debates.

É lá, mirando se a breja vem com a aparência de uma canela-de-pedreiro (abre-se parêntese para explicar que não se trata de um termo pejorativo, mas sim uma justa homenagem aos trabalhadores que edificam nossas casas), que o sujeito é obrigado a desempenhar os papéis de conselheiro e de aconselhado. Relembra os feitos e as derrotas, e com elas aprendem.

É lá, inclinando o copo para evitar a espuma indesejada, que o cabra se sente confortável em expor os chifres próprios e alheios, as conquistas, a cantada de canalha revisada e atualizada, a mais nova piada sobre o amigo que não sai mais de casa sem o alvará da patroa lavrado em cartório. É o divã etílico.

Para tal liberdade, confesso, nossas protagonistas não podem se fazer presentes. Nessas horas, os hombres são acanhados perante um rabo de saia. É preciso que sejam pessoas do mesmo gênero, para que a palestra sobre fêmeas seja irrestrita. De preferências, amigos que joguem no mesmo time na pelada de sábado. Assim existe confiança.

Espero que com esse relato, possa esclarecer a importância que o boteco pé-sujo de estimação tem na vida do seu cônjuge, minha cara leitora. Relaxe a pena, emita um habeas corpus e ‘copus’, e libere o seu amado. De lá, sairá a próxima artimanha do cidadão para te agradar. É preciso ter fé no seu taco, senhora.

E assim desfecho o Manifesto pelo Vale-Boteco com a reflexão conflituosa por ser canastra e sincera de uma vez só: Mais vale um sujeito que freqüenta o botequim e por isso é ajuizado de como ameigar a própria cara metade do que um prisioneiro que mete as mãos pelos pés na hora do afago com a patroa.

4 comentários:

  1. Então, Sr. Helder Jr. está de volta á todo vapor. Nem preciso dizer que meu homem será o seu companheiro assíduo dos butecos de nossa cidade, né?! =)
    Besos.

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  2. Conheci o bar dos papudos e passei umas belas saias justas com comentários nonsense dos bêbo de lá.
    Botecos são ambientes magníficos que se restrigem a não ir acompanhado, definitivamente.

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  3. Marcada seja a próxima conferência. Sabores disponíveis: conversas francas e improváveis. Mas sempre de assuntos conhecidos e desejáveis. Senhores botequeiros (não confundam essa leitura, pelamordedeus), oremos pelo desencontro das formalidades e pelo encontro da absoluta verdade.

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  4. cara, fiquei sem palabras... bora pro bar? haha

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