quarta-feira, 2 de março de 2011

Gambiarras


Dias desses, sentado num banco de praça, assisti ao show capaz de apertar o coração até mesmo de um texano cowboy mastigador de abelha: o semblante da mulher que estabeleceu sua morada oficial em Desiludidanópolis.

Era uma amiga de longa data, pero que há tempos não sentávamos pra falar do tudo e mais nada. Estávamos ali de bobeira, e eu hablava a respeito da minha recente paixão, enquanto flagrei a bichinha com seus olhinhos pro chão e com bico torto. Deu uma dó da gota.

Questionei o que se passava, afinal, essa menina não partilhava dos hábitos e manias daquelas aves de mau agouro, com costume de se enfezar com a alegria alheia. A querida decretou:

- Helder, acho que nunca vou encontrar o meu par perfeito...

O que dizer para essa aspirante à princesa de contos-de-fada órfã de príncipe encantado? Na situação, as palavras corretas saíram pra comprar cigarros e não tive resposta. Só ofertei o calejado ombro e torci para que suas propriedades terapêuticas & consoladoras fizessem efeito na carente moça.

Mujeres, quem avisa amigo é: desistam de procurar nas oficinas mecânicas da vida, a peça perfeita para a engrenagem do “felizes para sempre”. O amor é a capacidade de se fazer as melhores gambiarras.

Si, si, mi hermosas compañeras... Esse talento tupiniquim não pode ser de jeito maneira negligenciado. É o jeitinho brasileiro, no sentido bom da expressão. Alguns amores só andam após uma ligação direta. Mãos ao improviso, aconselho.

Se usted é daquelas que fãs do som sertanejo, não vá julgar um infeliz por sua camisa do Iron Maiden. Se fores daquelas mulheres descritas por Chico Buarque que faz cinema, não se apoquente se o sujeito sugerir um cine pipoca com a série de “Um Tira da Pesada”. Por baixo desse cobertor de clichê, o cristão pode te surpreender.

“Ah, mas ele é muito diferente...”, denuncia a leitora, que também possui seu apartamento em Desiludidanópolis. Aceite as diferenças. Sem dúvida, para tudo há um limite e a senhora sabe muito bem o seu. Só peço um pouco menos de rigor, só pra ver no que dá. Se o pretendente continuar a frustrar as expectativas, aí sim, apresente o bico do seu calçado de preferência.

Paciência, minha linda. Faça como a Mônica e ensine coisas sobre o céu, a terra, a água e o ar. Mas sem exageros. Não mude seu hombre, pois numa dessas, acaba que você consegue.

9 comentários:

  1. Parabéns Helder! Cabra bom! O senso comum diz q isso é costumeiro só nas 'hermosas compañeras', mas debaixo da carapaça dos 'brutos hombres' mora tmb o sentimento de encontrar a muchacha perfeita, eles escondem, mas no fundo da alma, possuem escondidos apartamentos na periferia de Desiludidonópolis (cidade vizinha Desiludidanópolis), rs.

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  2. Sensacional.Como já é de costume, arrasou!

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  3. Até por que a palavra "perfeito" não existe para seres humanos, han?? Perfeito mesmo só os textos desse hombre!! :D

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  4. Seus textos estavam fazendo falta por aqui!

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  5. Um dia desses eu senti falta dos teus textos.. dei uma volta por aqui e nada de novo encontrei.
    Hoje eu matei a minha saudade!

    Bueno, hombre...

    besos

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  6. Droga, Helder! Acabou com meu discurso dramatico.

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  7. COncordo com a Tese. AFinal, um "trocador de peças" nao pode receber o título de Mecânico, esse sim sempre faz uma boa gambiarra. hehee

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  8. Enfim, o grandíssimo Helder volta a dar as caras nesta Confraria! E nos oferece leituras muuuuuito sensacionais! Helderico, meu caro, usted es demais! Yo soy tu fã! E também tenho meu apêzinho nessa cidadela aí... A gente se encontra por aí (ou por lá)... beijooo

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