quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Se cuida

Nada planejado. A pergunta. O sorriso tímido. A junção de 5 sílabas. Fora o bastante.
O carro não tinha espaço o suficiente e o barulho lá vindo de fora era pertubardor. Ele preferia o silêncio. A quietude e mansidão de algum lugar para aproveitar a única oportunidade boa que a vida lhe dera em décadas. Suas mãos nervosas não sabiam repousar depois de trocar a marcha e logo aprendeu a usar somente uma mão para guiar o carro... A mão direita segurava firmemente a dela. Unificando o tempo que ainda tinham juntos... Aumentando a veemência daquela noite que nenhum dos dois jamais esqueceria. Passearam pela cidade, até encontrar um lugar em que pudessem repousar a frustração um do outro. O silêncio entre eles nunca existira, nem mesmo em um olhar. Havia muito a ser dito, e sentido, em apenas algumas horas e se privar de tamanha benção seria errôneo demais. Não queriam pensar no depois, no amanhã. No peso que carregavam nas costas. Estavam sendo jovens, imprudentes, imaturos guiados pelo sentimento, vontade – bem longe de qualquer razão - e conseguiam sorrir e regozijarem com isto.
Suas mentes foram pra bem longe. Podia-se dizer que o alter-ego de um guiava o do outro. A troca súbita de ‘conhecimento’. Alcançavam a paz interior.

~

P -

Os toques delicados beirando pinceladas. As coxas estendidas sob o lençol branco. Os gemidos que faziam com que a mente não quisesse estar em outro lugar a não ser ali. Guardando aquelas expressões no lugar mais seguro que tinha em seu âmago.

E -

O corpo sobre o seu. Esforçando-se para provocar algo mais intenso a cada segundo, a cada investida. As mãos tocando seu rosto, os lábios sugando o seu suor. Os olhos penetrando a sua alma. Como nunca ninguém fizera antes. Como ninguém nunca se importara em fazer...

Não tinham a mínima idéia de quanto tempo ficaram imersos em carícias e sorrisos bobos. Duas bestas sentimentais. Vivendo pela primeira vez, juntos, algo inusitado. Inesperado demais. Tão completamente novo que fazia-se tornar seguro. Mesmo que o mundo os chamasse de volta com pequenos alertas – imperceptíveis.

Foi ele que voltou a si. Lembrando do quanto era antiquado, do que esperavam que ele fizesse depois. -De como devia agir. As palavras que devia usar. A rotina que deveria seguir. Apenas aquele momento, pra ser completamente o que queria. Com ela.

Fotografou o rosto redondo e macio pela última vez. Contemplou aquele par de petecas marrons e voltou à realidade. Sem se permitir sofrer.

As mãos continuaram juntas até o destino. Ela sentia o cansaço tomar conta do seu corpo. Mas sabia que tudo aquilo seria multiplicado, na manhã seguinte, em sua cabeça. Beijava-lhe as mãos. Queria manter o cheiro dele em sua pele. Eternizar tudo em lembranças. Guardou em seus ouvidos cada música que parecia expressar completamente o que acabara de acontecer. Mais tarde iria chorar por não ter dito o que devia.

O Adeus foi breve. Quase a despedida de dois saudosos amigos.

‘’Se cuida’’ - Disseram um ao outro. O último beijo. A última união dos lábios chorosos de vontade.

O início do fim. O que poderia ter sido e não seria. Jamais. O tempo passado antes de chegar. As vidas seguidas como se nada tivesse acontecido… Um devaneio passageiro.

A vida normal os esperava lá fora.

‘’Too young to hold on and too old to just break free and run…’’


Texto é da Fany Dimytria do blog Cold Water. Eu (Helder) não via a Confraria sem um texto dela, no caso feito especialmente para nosso blog. Espero que ela não demore para enviar o próximo.

3 comentários:

  1. Tive um filme mental digno de rir e chorar.
    Te amo boneca e achei lindo o texto.*-*

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  2. Minha Fany, o texto está perfeito. Parabéns, sua linda. Digno de como disse a Gaby, de passar um filme em nossas cabeças.
    =*

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