segunda-feira, 1 de março de 2010

Tratado Geral do Ciumete – Parte III: Ciúme é a miopia do amor

Eis que me vejo numa daquelas conversações entre macho e fêmea, onde ambos querem pular a burocracia amorosa, mas, por convenção humanista, considera-se de bom grado tentar encaixar uma habilidosa conversa fiada. Eu, doido pra sentir aquele cheirinho de perfume doce aliado – muito bem aliado, por sinal – àquele beijo temperado com mordidas levianas, me encontrei obrigado a dissertar sobre o que era “ciúme” na visão helderiana da coisa.

A bem da verdade foi ela que se lançou primeiro no erro de abordar o que até mesmo Aurélio Buarque teve que se virar nos 30 pra conceituar. “Acho que ter ciúmes é normal, todos têm que ter”, afirma a perversa. “É... por um lado concordo, mas não considero fundamental”, repliquei como um ateu carregado das opiniões formadas. Mas aquilo ficou girando na minha cabeça. Como pode alguém defender o cactos do ciúme? E por que diabos essa maldição da ciumeira crônica não perdoa nenhuma classe social, emprego, gênero, raça, entre outras sub-divisões pós-capitalistas?

Foi então que arquitetei a seguinte questão: para se ter aquele egoísmo exagerado sobre a parceira, não é quesito obrigatório a provisão de beleza. Em miúdos, os feios, além de amarem, arrumam tempo na agenda para se enciumarem. Vocês enxergam, com o perdão do trocadilho, a beleza disso?

Quando moleque, no bar do saudoso Helder I, vulgo meu pai, lembro de um episódio peculiar que ilustra bem essa verdade. Entre os fregueses mais fiéis, havia um mineiro daqueles detentor de uma prosa boa, mas de um fígado que provavelmente deplorável, em razão das doses cavalares de cachaça que ele entornava. Mas o sujeito era muy de buenas. Como este escritor não devia ter mais do que 10 anos, não podia se aprofundar nas “conversas de adulto” entre ele e meu velho, sendo que tinha que apurar tudo baseado no rumo dado por eles pra confabulação.

Certo dia, a senhora desse senhor resolveu dar o ar da graça no estabelecimento e interromper uma das tradicionais horas de lazer etílico do mineiro. Que me desculpem os puritanos leitores deste blog, mas o adjetivo que melhor definia aquela donzela era “escangalhada”. Chegou berrando no boteco que o cidadão devia tomar vergonha na cara, entre outras questões moralistas. O cristão levantou da cadeira e partiu pra cima da dona. Pegou-a pelo braço e resmungou: “Vamos pra casa, Rita! Aqui só tem homem e estão lançando olhares de gavião pra cima de você.” Até hoje me pego imaginando se ele hablou sério. Se alguém fitou a mujer do cabra, foi com a dúvida de quanto ela cobraria pelo serviço de assustar um quarto de 5m². O fato é que a cena de ciúmes me fez notar que os mal-diagramados também são objetos de posse.

Se o amor é cego, o ciúme é a miopia, a catarata que nos faz pensar que nuestra amada, independente de ser uma Scarlett Johansson ou uma Ruth Ronsi, sempre será a última bolacha água e sal do pacote. Diga lá se isso não é romântico? Então, dou o braço a torcer: ciúmes, você é um mal necessário para todos.

6 comentários:

  1. KKKKKKK!!!Sensacional, Helder!! Ciúmes é realmente fundamental, mas na dose certa! Realmente, o ciúme é a miopia! Afinal, ninguém estaria com uma pessoa se não visse nela beleza alguma, ainda que só a pessoa veja. rrsrs. Ótimo texto!

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  2. pra quem só entende de sobrancelhas,escrever muito bem rs
    abraços!

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  3. nada com como um míope para atestar essas verdades..
    Vc eh o cara... hahaha
    muy bien.
    =)

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  4. Ameiiii...como os anteriores, adoro esses tratados.

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  5. Muy bueno, estoy maravilhada....besos para ti...rsrsr

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  6. kkkkkk
    Helder, foi perfeito! o cactus do ciume pe fundamental pra qualquer relacionamento,até mesmo no dos "desajustados",seja pra esquentar ou pra destruir. ora, bolas!

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