quarta-feira, 17 de março de 2010

Tic-tac



2h e 15 marcava o relógio velho e descompassado que contrastava com os móveis da sala e a palidez do meu rosto. Minha respiração nada tranqüila, minha mente a mil trabalhava para esquecer que um dia fui tua, que um dia me pertenceu.
Tentava esconder-me nos becos escuros, mas relembrava a tua face sempre que fechava os olhos. Dias e dias sem te ver, para ti algumas horas. O frio me fazia lembrar que não estava ali, eu me remexia inquieta, mas ávida por adormecer. Já não era eu quem velava teu sono, já não podia te ter e de companheira só a solidão.
Como era custosa aquela noite, relembrava o dia em que te vi nascer no meu peito, tentava esquecer-te, mas me traía. O primeiro convite, os momentos em que ríamos juntos um mesmo riso, e o cheiro, ah o cheiro! Esse havia ficado nas roupas de cama, nos livros, era tudo que restava de ti.
Olho pro lado e te vejo, mas já não estás presente, já não sou eu quem dá corpo aos teus versos, nem desejo aos teus sonhos mais íntimos. Olho pra parede, o relógio ainda marca 2h e 15, essa noite o tempo também não passou para ele, já não quer trabalhar, e nem eu, me entrego à dor e deixo que ela passe por mim.

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