sexta-feira, 26 de março de 2010

Anedotas de um desventurado outrora amado & amante: o telefonema

(baseado em fatos mentirosos, pero no mucho, narrados num boteco obscuro localizado na esquina de sua rua e freqüentado por bacharéis em vida)

Puta calor esse que faz nesse verão/inverno/outono/quiçá, primavera amazônica. A serventia dessa quentura metida à infernal é fazer do meu drama ainda mais sacana. Não faço nada. Sou presidiário sem direito a pedido de revisão de pena ou habeas corpus, pois, para falar a verdade, o carcereiro-juíz sou eu mesmo. Não, na verdade não. É ela! Não lancei nenhum fonema solicitando a promessa. Mas a diabólica acho por bem fazê-la. E agora? Espero ou parto para ação?!

Melhor ficar aqui mesmo, imóvel, de butuca. Se eu me expuser, posso ficar por baixo e na boa, até mesmo os românticos, ninguém quer ficar por baixo, salvo no momento do coito - com a devida alternância de posicionamento, claro. Ela tem palavra, vai cumprir. Mas que agonia constrangedora é essa da espera! Vou. Não vou. Vou. Não vou. Pá pu! Não fui.

Mas há de ser castigada, essa ingrata. Na terra, no céu ou no inferno, ela ainda vai pagar por esse mal. Não carecia criar tamanha quimera, mas agora já era. “Mô, te ligo amanhã.”, “Que horas?”, “Não sei... hum... às cinco da tarde”. Tolo, estou aqui. Já são cinco e vinte cinco. Tempo suficiente para eu ter perdido o pão quentinho da padaria da esquina. Vou comer o pão duro, mas ela vai comer o pão que o diabo amassou.

Engraçado. No futebol, vinte e cinco minutos não são quase nada. E dura noventa. Essa relação já tem pouco mais de sete meses, e esses vinte e cinco minutos tão fazendo a diferença. Quando foi que me tornei tão ansioso? Preciso desabafar isso com a psicóloga ou com o garçom do bar. Algo tem que ser feito.

Olha, cansei. Que se foda com força! Não quero mais saber dessa mujer que faz pouco caso da necessidade de ouvir sua voz. Vou sair. Vou ser livre. E vou fazer agora!

(trecho acima extraído dos pensamentos mais íntimos de um desventurado num passado nem tão distante, nem tão remoto.)

(telefone toca e ele corre para atender)

“Alô? Oi, amor! Não, não tava te esperando. Fazendo o quê? Nada... Só estava de bobeira... E você está bem?”

(...)

(Fim do primeiro ato)

5 comentários:

  1. hahahaahah
    O telefone nessas horas parece com o ultimo nº da cartela de bingo, vc fica apreensivo esperando, esperando até gritar de emoção e correr pro abraço!

    Massa hein! rá

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  2. Muito bom Helder, é exatamente assim que se sentem os pobres apaixonados... é o que dizem... rs.. coitado deles!

    ;)

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  3. Hahaha! O quarto parágrafo é um fino!
    Fã.

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