sexta-feira, 19 de julho de 2013

Indelével

adj.
Que não se pode apagar ou desaparecer

Acredito que quase, quase tudo na vida é superável. Superamos a dor, a perda, o engano, a morte. Quase tudo. Acho que a única coisa que eu não superaria seria a perda da minha mãe, por exemplo. De resto...perdemos trabalhos, tempo, amigos, e vamos superando e continuamos a viver. E dá pra viver uma vida cheia e verdadeira, mesmo com todas essas perdas, mesmo com a energia que se despende pra superar as coisas.

Mas falemos de amores.

Amei três vezes na vida. Ao fim de cada amor, achei que fosse morrer, porque tudo em mim doía a maior dor do mundo e eu achei que nunca ia ter fim. E chorei e sequei, mas nem morri. E as dores foram passando, a cicatriz fechando e eu fui voltando aos poucos à vida. Daí depois de um tempo eu me apaixonava de novo, e desapaixonava e seguia, até cruzar novamente com o tal do amor. E superei meus três amores mortos, e sei que posso superar os outros que virão, caso morram.

Mas, sabe o que é? Cicatriz fecha, mas não sai. Cada amor morto deixou uma marca impossível de ser removida. E às vezes, no silêncio da hora mais escura, aquela hora em que faz mais frio, a marca dói. E não dói pelos amores já mortos, não dói pelo que se perdeu ou pelo tanto que se deixou de acreditar. Dói porque é uma coisa ainda viva, esquecida, mas viva dentro da gente. E vem assim, sem menos nem mais, num átimo, porque é viva.

Não tenho medo dessas dores.

Não mais. Não me provocam nostalgia, e se me arrancam lágrimas não é pelo que podia ter sido e não foi (obrigada, Bandeira). São só dores, latentes, esperando uma brecha pra voltarem. E a gente nem consegue controlar porque a maior parte do tempo elas não anunciam o golpe. O golpe vem seco e a gente sente. Daí enxuga a lágrima e, um segundo depois, esquece. Mas ela tá lá. E sempre estará. Ninguém nunca vai saber. Ninguém nunca vai olhar pra você e perguntar: “o que é esse corte aqui?” e você vai responder “foi um amor que morreu”. Não se pode enxergar. Nem remover. Mas se pode inspirar.

2 comentários:

  1. sabe uma coisa que eu admiro em mim? (e olha que é difícil eu admirar algo em mim). é que, mesmo carregando as cicatrizes dos meus amores (que foram tão poucos e tão poucas cicatrizes), eu acabo nem lembrando delas. é que eu olho pros meus amores, olhando ali pra trás, e, hoje, graças!, só consigo enxergar o tanto que eu cresci e aprendi. e se resume às duas últimas linhas: "nem remover. mas se pode inspirar."

    eu, como sempre, seu fã. ;*

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  2. Simplesmente incrível. Não existiria um jeito melhor de escrever esse texto, nem um jeito melhor de entendê-lo do que sentí-lo. Obrigado.

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