quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

O tal ponto final

Desistia de tudo pela metade.
Quando achava estar deixando-se conhecer demais , em uma conversa, desvirtuava o assunto.
Acreditava que a felicidade plena não era algo de suma importância em sua vida. Queria tranquilidade, rotina, mesmice, normalidade. O almejo de meros mortais.
Não chorava, tampouco procurava consolo em quem parecia disposto a ajudá-lo. Preferia o canto quente na parede, que parecia acolher seu corpo com prazer.
Agia com descaso na maioria de seus casos. Não saberia lidar com qualquer entrega - completa - que fosse. Assustava-se quando alguém perguntava sobre suas origens. Não sabia contar suas histórias.
-
Aquela tarde parecia comum, como tudo em sua vida.
Mas queria agir impulsivamente. Mesmo que não fosse de sua parte o tal impulso.
Comprou o que havia prometido para a moça. Tentando criar alguma coragem - era algo árduo e demorado a se fazer - mas conseguira.
Discou os 8 números e pediu para esperá-lo em frente ao seu prédio de trabalho.
5 minutos depois estavam juntos. No mesmo carro, rindo das besteiras.
Talvez nervoso - talvez propositalmente para passar alguns minutos á mais ao lado daquela mulher estranha, ele tomara o caminho errado. Mas logo fora avisado.

P - E ae, como ta a vida, cara?
A - Estamos ae, tipo... Normal.
P - E essa roupa, não era pra estar sociável, porque olha... Nunca vi homens do seu tipo tão desleixados, rs.
A - Último dia de trabalho, né, chefe deu um desconto.
P - HAHAHA, claro, claro.
P - E então, esse livrinho, te manca caralho, tu fica distribuindo perversão para pessoas inocentes.
A - UE, mas foi você que pediu.
P - É , pode ser. Mas o Sr. podia ter dito não.
A - Acho que te conheço o bastante pra saber que ia ficar insistindo, ou fazendo drama.
P - Pode ser. Mas você abriu. Era pra ser um presente.
A - Eu não resisti, dá um desconto.
P - Não. Seu fuleiro.

Chegaram ao destino. Ainda era claro.
- o fuso horário daqui é muito engraçado, acho que nunca irei me habituar, ela pensou.
Ele parou o carro. A moça hesitou. Procurou algo olhando aquele par de vidros brilhantes.
Conseguiu ver o que preferia não ter completa certeza de existir: Covardia.
Se demorou ainda, permitindo-se alguns instantes de lembranças.
Saiu do carro, pulando da poça - aquela tarde choveu mais que o esperado, tardes de Dezembro Acreano.
Não olhou pra trás. Era o primeiro passo.
E o resto viria com o tempo.
- Foi uma boa despedida. disse para si.
Não queria mais estragar o que ficou guardado - o bonito do acaso.
Não queria deturpar as boas memórias.

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