quinta-feira, 23 de dezembro de 2010
Por que opostas, atraem-se quando dispostas, as cores...*
Também não compreendo: Eram arabescos sob minhas mãos apertadas, os meus olhos voltando sempre para a fuga, os meus beijos mudos. Eu não queria ser abraçada, mas também não queria dormir sozinha...
Começo?!
Era o verde... Como cheguei, ali, ai, Deusa! Quando eu cheguei? Porque a cor que eu era estava repleta de pragas, e eu sei lá! Eram todas as pragas. Desde o ódio ao tédio.
Ele era o verde! A natureza, a primavera, a juventude, a boa sorte e todas as coisas que trazem desenvolvimento e esperança. Sabíamos que eu era a cor oposta ou o vermelho ao cipreste era apenas atrativo, inebriante?
Também a mim, que devia ser paixão, força, energia, amor, liderança, masculinidade, perigo, fogo, raiva e revolução, chegava a agonia de não entender a outra cor. Eu era o vermelho. Vocês sabem? A cor oposta ao verde...
Aquilo devia ser agonia. O que eu sentia não era exatamente o que as cores opostas, quando misturadas, acometem. Com o Preto e Branco vocês podem compreender melhor. Desponta o Sol sob a beleza de um casal contrário. Na paleta real das cores, primárias e secundárias quando opostas formam Cinza. A cor mais neutra e sem graça que eu já conheci!
E eu não sei por que pecados pago agora nesta noite que mais parece eterna. É cinza o céu. É cinza o meu peito. É cinza a cor da minha alma. Mas é verde todo o meu pensamento.
Pensei esta manhã em pintar de azul os cabelos de uma das cinco mulheres que eu criei sob o espectro de mim. Mas quando dei por mim, todo o resto da tela estava pintado de vermelho, verde e cinza. E cinza não porque eu quis, mas porque as cores opostas quando se misturam caem na mesmice da cor mais neutra e sem graça que eu já vi.
E eu era toda a cor vermelho. Mas quando chegava o verde com o panteísmo e a complexidade, as chamas da minha combustão espontânea prostrada, era vencida pelas desastradas florestas mágicas da tonalidade formada por duas cores primárias como eu. E que verde era aquele? Eu saberia designar para os outros uma infinidade de variantes de musgo, lima, mar, broto, jade, esmeralda, menta, grama, oliva e outras, muitas, muitas outras. Mas aquele eu nunca vi. Era tal a força mística daquela percepção visual quase inexorável de excitação da minha curiosidade.
Eu saberia bem dizer que verde é cor-luz primária ou uma cor-pigmento secundária composta pelo ciano e amarelo. Mas não. Naquelas horas preferia pensar que havia um pouco de vermelho também no azul, formando o índigo. Assim eu não sentia a unilateralidade do meu espasmo.
Ah! Eu também não disse que nunca acaba o meu texto. O início tarda, mas a conclusão também não é meu forte. Afinal, as minhas variações são imensuráveis, e de vermelho em todos os tons, eu vou deixando puírem palavras das mais insignificantes, porque nunca faço sentido. (Explico: Vermelho é ódio e amor. Alegria e dor. Como posso ser inteligível também a mim? Tão contrária, acabo por neutralizar-me. E no verde, então? Escolho um dos lados ou escolho a morte. Acinzentar-me seria sutil demais para a minha significância).
O que será, pois, se eu não findar o texto?
Deve ser trivial que eu conte então, que alguma parte do meu corpo de que eu não tinha consciência agora reclamavam horas de atenção. Eu via o farol luzindo na cor laranja. Devia ser mesmo perigoso. Devia eu manter a atenção. Mas que era o mundo ao meu amor? Que era o círculo cromático à minha retina? Que ordem haveria na freqüência espectral se eu não pensasse no esplendor do mágico respeito pela experiência de deixar o posto rubro e tomar a sem-gracinha tabela de acinzentados?
Eu vi quando encostei a mão na sua mão, sem querer e sem que ele sentisse, Matiz, Luminosidade e Saturação. Tudo num segundo, como nunca, porque eu detestava antes a forma circular nas representações quaisquer.
Mas moço, tenho que parar? Findar o que recordo?
Dize-me como? Se nunca, nunca antes houvera a profusão de um riso em mim, por ser piegas e virar paixão como se fosse como qualquer outro vermelho... Tola, tola, ai, como era tola pensando no respeito pela cor de Deus, a alma emudecida pela atração pelo ininteligível, como desejo, capricho, qualquer coisa que influísse um manto de pureza na minha tonalidade primária.
Aquele tom. Olha... Aquele tom, não é possível que o gerasse outra vez um Deus. Porque incompreensível a paciência de sofrê-lo um pouco mais, delicadamente, outra que não eu.
E silencio! Os beijos mudos? Não sei... Mas ó, paixão que sou e guardo a alma cheia de contrastes felizes e tristes, sem admitir realmente que o apetite é raro pela dor de amar. Silencio! As minhas variações cevando todo esse espaço que é o silêncio, porque a folha já acaba o verso. Canto as cores dos lábios que não toco. Quais não sei, porque os olhos vidram.
A cor não pode ser representada. Porventura, é sem nome! Inexiste. Portanto, é eterna. E não limita o acaso de uma narrativa pormenorizada. Eis um verde inopinável...
*Texto de Clara Campelo do blog Zebra Trash
terça-feira, 21 de dezembro de 2010
Futuro pretérito
Texto escrito em 2008, quando meu relacionamento ainda nascia.
domingo, 19 de dezembro de 2010
A Ponte

As cicatrizes já não doem, nem mesmo em tempos frios. Se às vezes lembro que existem, o sorriso diminui nos lábios por pouquíssimos segundos. Não mais que isso.
As palavras que por toda uma vida se calaram comigo ferem menos do que as que usei para magoar (mesmo que sem perceber) outras pessoas. É um fato com o qual convivo bem.
Não sou do tipo de pessoa que se arrepende só do que não fez. Na realidade carrego um certo orgulho de muitas coisas que evitei.
Assim como tenho certa angústia de lembrar do que poderia ter feito diferente também carrego a tranqüilidade das coisas boas que conquistei ao longo do tempo.
Já sofri decepções como todo mundo nessa vida. Também já provoquei infelizmente sofrimento em outros.
Já desconfiei de pessoas que mais tarde aprendi que podia confiar. E, infelizmente, também já confiei muito em outros que aprendi, a duras penas, que era necessário duvidar.
Não há nenhuma façanha em tudo isso. Passamos, cada um a seu momento, por situações semelhantes. Mas, a grandiosidade de se abrir os olhos para um novo dia e encher os pulmões de ar me faz ver que é muito bom estar viva para escrever.
Um dia ainda conto a história da ponte pra você. Ou talvez não. Na realidade era um pensamento fruto de uma mágoa que um dia tive.
Quer mesmo saber? ...
Bem, a ponte nem mesmo existe, só que aqui, na minha imaginação, era bem alta, sem cordas pra se segurar, balançando sobre um precipício.
Altíssima, estreita, comprida e completamente insegura - eu jamais ousaria passar sozinha por ela! Mas, por diversas vezes me ofereceram a mão para me acompanhar até o outro lado. Quando dei por mim, estava lá bem no meio da ponte... e sozinha.
Sei que parece triste. Só que eis que aparece você, segura firme minha mão e me ajuda a equilibrar. E ainda agora estamos passando pelas inseguranças dessa ponte. Ela às vezes parece uma aventura perigosa, mas com você ao meu lado conquistei essa certa coragem. Acho que isso me basta para enfrentar o medo e sorrir. E só precisamos continuar de mãos dadas assim.
terça-feira, 7 de dezembro de 2010
terça-feira, 30 de novembro de 2010
carta aberta de um incerto apaixonado*
Como te dar certeza, como te prender a mim, se eu não sei? Se não sou sabedor dessa coisa que ainda chamo de mente. Escura mente. Indecifrável mente. Estúpida mente. Como te segurar com minhas mãos, te pedindo que não vá, se não tenho pássaros em gaiolas e os prefiro ver livres para pousar onde acharem que devem? E como não te dizer que te amo se, definitivamente, é o sentimento que me corrói inteiro por dentro? Como te dizer que não te quero, se com meu corpo e alma é isso que desejo? Como posso ser egoísta a tal ponto de te querer pra mim, mas não poder me doar como, indefinidamente, eu gostaria?
Sinto minha voz rouca, meus cabelos desgrenhados, meu corpo desfalecendo à simples percepção de que deixar ir pode significar nunca mais voltar. Sinto minhas mãos abraçando o vento enquanto durmo e tenho sonhos que outrora foram reais. Sinto-me extasiado, demasiadamente cansado, copiosamente lacrimejando ao mero sinal de que o nunca mais não existe pra mim, mas que nada é igual pra todo mundo, e que essa deve ser a conseqüência para as coisas da vida pela qual você se arrisca. Mas e não saber, e não saber, e não saber?
Como resistir à tentação de não te ligar, de não te enviar um torpedo ou de simplesmente olhar em seus olhos? E como olhar em seus olhos, em meio a essa luta interna de sentimento, e dizer que não consigo, que não posso, enquanto quero me jogar nos teus braços, beijar a tua boca e deitar no teu colo? Não posso fingir que você não existe e não me sinto capaz de perceber que pra você eu não existo mais. Será isso o necessário? Será que você vai me apagar, me esquecer e pensar que eu realmente já não existo mais?
*Texto de Jeronymo Artur
domingo, 28 de novembro de 2010
Chuva Fina

Era um dia cinza e frio. Entrei no ônibus e sentei-me num daqueles bancos altos, sozinho. Fiquei olhando pela janela a chuva fina molhar a cidade toda aos poucos, sem pressa. Duas moças sentaram-se à minha frente e uma delas ouvia passiva a outra relatar suas dores de um amor distante.
O que mais me cativou não foi a história da moça em si, e sim a pergunta que ela fazia para si mesma em voz alta: ‘Como é possível sentir saudade de um beijo que nunca ganhei?’ Naquele momento me senti tentado a corrigi-la. Quis dizer que havia um equívoco na pergunta. Ela deveria dizer que desejava muito o beijo, pois não haveria como sentir saudade do que não viveu.
Ainda bem que não disse nada a ela, pois o equivocado certamente era eu. Afinal de contas o sentimento era dela, ninguém melhor do que ela para descrevê-lo (ou mesmo questioná-lo). Visto que a amiga apenas sorriu, provavelmente a julgando tola, ela se calou. Eu também me calei. Na realidade, nem estava falando. Mas calei o pensamento.
Pude entender que ela realmente devia sentir saudade. Olhei para fora e percebi que a rua estava completamente molhada, mas a chuva continuava fina. Sem pressa, como tudo nessa vida necessitava ser. Desci duas paradas depois da que eu deveria descer. O pensamento de ter saudade do que não vivi tomou conta de mim de tal forma que já nem sabia direito pra onde estava indo antes. Só que agora eu já sabia onde queria chegar.
Thais Carvalho
quarta-feira, 24 de novembro de 2010
Do dia que te vi na rua*
Teria sido melhor se eu ao invés de desviar o olhar, desviasse o carro e batesse na primeira latrina, no primeiro poste que estivesse pela frente. Aí sim eu teria motivos para sentir dor. Enganaria meu cérebro, deslocaria as sinapses para a testa batida no volante, ou pra perna amassada pelas ferragens, ou para as orelhas atingidas pelos estilhaços do vidro. Aí sim eu teria motivo para doer à vontade e deixaria minha gastrite quieta pra sempre.
Se eu tivesse escolhido outro caminho, aquele que costumo ir... Mas não, logo hoje decidi fazer um percurso desconhecido só por que ouvi dizer que faz bem para o cérebro. Exercita. Deixa inteligente. Mas eu não quero ser inteligente. Quero só ser eu e em toda a miudeza dos pequenos grandes detalhes e defeitos pré-moldados.
Talvez eu devesse ter saído de bicicleta, mas o pneu dela está sempre murcho. Sempre, sempre, por mais que eu insista em deixá-lo apto para a minha próxima volta. Pensando bem, se eu tivesse saído de bicicleta também tinha te encontrado. Você está em todos os lugares. Nos orelhões, nas calçadas, nas vidraças, nas costas de meninos e homenzinhos em puberdade. Nas camisetas da Hering, nas cores que vejo pelas vitrines. Não adianta eu desviar o caminho. Sempre vai ter um quiosque que vende cachorro quente, sorvete, pipoca doce, pizza, sushi... que você gosta, assim como eu, de coisas que engordam. Pois é, somos dois falsos magros com cérebros gordos, mas eu só queria ser inteligente. É eu sei que disse que não queria ser, mas na verdade, no fundo mesmo, eu queria. Queria poder assistir filmes e ouvir músicas sem conectá-los aos meus sentimentos - olha a pretensão- como se os autores tivessem feito aquilo que vejo e ouço só pra mim. Sou burra, eu sei. Mas todo mundo acha que o que serve como carapuça, foi feito por encomenda.
Eu te vi na rua mas não desviei. Passei por cima e você nem me viu.
*O texto é da escritora Kaline Rossi. Que seja só o primeiro de infinitos por esta Confraria. é o que esperamos.
quarta-feira, 17 de novembro de 2010
Da despedida forçada, ou como lidar com um sofrimento inevitável
Daí que moro em terra estrangeira há mais de quatro anos. Foram quatro anos inteiros com o desejo maciço e permanente de voltar pra casa. Mas o momento nunca chegava. Chorei sozinha, quis fugir, cheguei a pegar o carro e dirigir até o aeroporto com a mala no banco do passageiro, mas voltei a tempo de repensar e decidir que não se morria dessas coisas.
É claro que em quatro anos nasceu um monte de gente na minha vida, um monte de pseudo-amores que coube a mim, com o tempo e com a razão, transformar em amores de fato ou apenas experiências de crescimento. Sempre deixei meu céu aberto pra invasão alheia, porque a saudade de minha casa me cegava pra um fato: o que eu ia fazer desses amores quando fosse a hora de voltar em definitivo?
Estive tão afundada no desejo maciço e permanente de voltar pra casa, pros meus, que deixei no modo espera o fato de ser, hoje em dia, absolutamente dividida em duas cidades. Ignorei que mesmo morando em terra estrangeira eu tenho casa, minha casa, o peito do homem amado que me abriga há dois anos. Ignorei que aqui fiz amigos reais e pra vida toda, apesar da distância física diminuir os ímpetos sentimentais. E agora, agora tudo veio à tona.
Sim, vou embora, cedo ou tarde. E a solução mais prática e menos indolor era, claro, levar todo mundo embora comigo, fundir minhas duas vidas numa só. Mas não é possível, ou é? Alguém tem o resultado favorável dessa fórmula matemática?
Então me peguei pensando, já com uma dor latente, no tanto que eu perco. Porque amizades à distância se mantêm, mas e meu amor? O porto seguro que nadei, nadei e quase me afoguei tentando encontrar? Meu lugar preferido, como fica?
Vou me preparando então para, obrigatoriamente, esquecer. Esquecer alguém não por ter me feito mal, e sim por ter me feito a pessoa mais feliz do mundo. Esquecer alguém não por desamor, mas por amor puro e intenso. Esquecer alguém simplesmente porque um capricho do destino fez com que ele tivesse nascido no Acre e eu em Brasília.
Esquecer os gestos, o cheiro, o sabor. Esquecer das palavras de afeto, dos momentos duros que enfrentamos, momentos meus e momentos deles. Esquecer o quanto um fez pelo outro. Porque viver com uma lembrança dessa é aprender a morrer, e eu não quero. Saudade só faz sentido quando se pode matá-la na saliva. De resto, é virar viúva de alguém que ainda vive. É se enrolar em uma mortalha pro resto dos dias.
E fica a pergunta: quando é que se poderá amar assim de novo? Quem vai me chamar de babe e viver cada momento íntimo que a gente viveu? Quem vai me ensinar a ser o melhor que eu posso ser, todos os dias? Com quem vou fazer cinema? Até nossos momentos íntimos em que somos um casal feliz e retardado, onde vão parar? Com quem farei a secreta dança da vitória?
Haverá uma resposta para isso e para tudo. No mais, vou aqui fingindo que não me preocupo com isso, e que tudo vai dar certo no final.
Enquanto isso, vou redecorando as palavras de Chico Buarque, que sabiamente diz que “a saudade dói latejada, é assim como uma fisgada num membro que já perdi”.
Se dependesse do que diz Chico nessa canção, esse post seria só o vídeo. Porque ele basicamente diz tudo, né.
quinta-feira, 11 de novembro de 2010
A gravidez

quarta-feira, 10 de novembro de 2010
A gente nunca esquece...
terça-feira, 9 de novembro de 2010
Quem ama recomenda
sexta-feira, 5 de novembro de 2010
A sorte
É como se me mostrasse o oásis
E me pedisse prova de merecimento
Julgou-me por critérios desconhecidos
O resultado foi o que se esperava
De quem apenas sentia que podia
Mas não provava o que sentia
A demora e a dor são necessários
Mas a recompensa haverá de curar
Todos os mal entendidos
quinta-feira, 28 de outubro de 2010
Se cuida

Nada planejado. A pergunta. O sorriso tímido. A junção de 5 sílabas. Fora o bastante.
O carro não tinha espaço o suficiente e o barulho lá vindo de fora era pertubardor. Ele preferia o silêncio. A quietude e mansidão de algum lugar para aproveitar a única oportunidade boa que a vida lhe dera em décadas. Suas mãos nervosas não sabiam repousar depois de trocar a marcha e logo aprendeu a usar somente uma mão para guiar o carro... A mão direita segurava firmemente a dela. Unificando o tempo que ainda tinham juntos... Aumentando a veemência daquela noite que nenhum dos dois jamais esqueceria. Passearam pela cidade, até encontrar um lugar em que pudessem repousar a frustração um do outro. O silêncio entre eles nunca existira, nem mesmo em um olhar. Havia muito a ser dito, e sentido, em apenas algumas horas e se privar de tamanha benção seria errôneo demais. Não queriam pensar no depois, no amanhã. No peso que carregavam nas costas. Estavam sendo jovens, imprudentes, imaturos guiados pelo sentimento, vontade – bem longe de qualquer razão - e conseguiam sorrir e regozijarem com isto.
Suas mentes foram pra bem longe. Podia-se dizer que o alter-ego de um guiava o do outro. A troca súbita de ‘conhecimento’. Alcançavam a paz interior.
~
P -
Os toques delicados beirando pinceladas. As coxas estendidas sob o lençol branco. Os gemidos que faziam com que a mente não quisesse estar em outro lugar a não ser ali. Guardando aquelas expressões no lugar mais seguro que tinha em seu âmago.
E -
O corpo sobre o seu. Esforçando-se para provocar algo mais intenso a cada segundo, a cada investida. As mãos tocando seu rosto, os lábios sugando o seu suor. Os olhos penetrando a sua alma. Como nunca ninguém fizera antes. Como ninguém nunca se importara em fazer...
Não tinham a mínima idéia de quanto tempo ficaram imersos em carícias e sorrisos bobos. Duas bestas sentimentais. Vivendo pela primeira vez, juntos, algo inusitado. Inesperado demais. Tão completamente novo que fazia-se tornar seguro. Mesmo que o mundo os chamasse de volta com pequenos alertas – imperceptíveis.
Foi ele que voltou a si. Lembrando do quanto era antiquado, do que esperavam que ele fizesse depois. -De como devia agir. As palavras que devia usar. A rotina que deveria seguir. Apenas aquele momento, pra ser completamente o que queria. Com ela.
Fotografou o rosto redondo e macio pela última vez. Contemplou aquele par de petecas marrons e voltou à realidade. Sem se permitir sofrer.
As mãos continuaram juntas até o destino. Ela sentia o cansaço tomar conta do seu corpo. Mas sabia que tudo aquilo seria multiplicado, na manhã seguinte, em sua cabeça. Beijava-lhe as mãos. Queria manter o cheiro dele em sua pele. Eternizar tudo em lembranças. Guardou em seus ouvidos cada música que parecia expressar completamente o que acabara de acontecer. Mais tarde iria chorar por não ter dito o que devia.
O Adeus foi breve. Quase a despedida de dois saudosos amigos.
‘’Se cuida’’ - Disseram um ao outro. O último beijo. A última união dos lábios chorosos de vontade.
O início do fim. O que poderia ter sido e não seria. Jamais. O tempo passado antes de chegar. As vidas seguidas como se nada tivesse acontecido… Um devaneio passageiro.
A vida normal os esperava lá fora.
‘’Too young to hold on and too old to just break free and run…’’
Texto é da Fany Dimytria do blog Cold Water. Eu (Helder) não via a Confraria sem um texto dela, no caso feito especialmente para nosso blog. Espero que ela não demore para enviar o próximo.
segunda-feira, 25 de outubro de 2010
sexta-feira, 22 de outubro de 2010
Insulto I

Auto-exílio nada mais é do que ter seu coração na solidão"
Conexão Amazônica - Legião Urbana
É discurso fora de moda, vai à contramão da humanidade, do progresso, da liberdade sexual, da vida artística de malhação e novelas das oito. Mas o fato é: o mundo inteiro está infeliz com tanta liberdade.
E boa parte da culpa deve-se as opiniões turvas, e cheias de ênfase, dos auto nomeados intelectuais modernos, que não passam de primatas que usam a linguagem de forma oportunista.
Leia duas ou três vezes a opinião de um antropólogo de araque, aqueles de determinam o lote e o prazo de validade do amor, e perceberá que seus argumentos não suspendem uma pena ao vento. Os cientistas e seus vícios de classificar tudo e todos, reduzem um complexo jogo de sentimentos a algumas ligações de sinapses nas regiões do cérebro afetado no ventre.
O fato é que em situações vexatórias, onde não são analisadas as telas de raios-X do cérebro, até o mais racional dos seres recorre à poesia, ao abstrato, e tudo aquilo que não podemos reduzir a uma função matemática.
A música, a pintura, a literatura e até as imagens do Google, expressam melhor um sentimento do que a opinião de um especialista (os de araque). Uma piada de bar talvez cause tanta reflexão, quanto uma análise da conjuntura sócio-afetiva de um sujeito abandonado.
O discurso fora de moda não descarta o valor do livre pensamento, e da ciência, mas afirma que os valores têm importância maior do que um livro de Engels, que colocar-se no lugar de outrem vale mais que uma leitura de horóscopo, e que respeito não se aprende na faculdade.
quarta-feira, 20 de outubro de 2010
Convivência*
*Texto de Jeronymo Artur. Há tempos ele já escreve. E muito bem.
terça-feira, 19 de outubro de 2010
Dimytria II
Filosofia barata das ambiguidades amorosas
Se você, leitor, assim como eu, vê algum sentido nisso aceitando tal argumento como uma verdade ou pelo menos como uma quase verdade vai se deparar com o seguinte fato: se nós recusamos a ambiguidade em nossas vidas e sendo o amor uma de suas expressões, significa que há uma tendência nossa de fugir dele e recusá-lo também. É importante explicar que o fugir do amor não é necessariamente recusá-lo em seu modo radical, recusar aqui significa uma gama muita variada de modalidades possíveis, por exemplo, podemos dizer que fugir do amor é complicá-lo, colocar condições tolas, adiar sua concretização, enfim quero utilizar o termo ‘recusar’ como todas as estratégias diversas para tentar suprimir e/ou disfarçar essa tal ‘ambiguidade’.
E é exatamente nesse ponto que reside o ponto mais interessante sobre nossa reflexão, pois quanto mais recusamos a ambiguidade, mais ela existe em nós, e por conseqüência quanto mais recusamos o amor mais ele existe em nós. Nesse sentido, o que proponho aqui é que quanto mais inventamos sua recusa sob diversos pretextos mais ele nos afeta e nos atravessa e, portanto, é mais presente; por outro lado, quanto mais se procura pelo amor mais o banalizamos e o esvaziamos - é um movimento dialético no sentido grego, sem síntese. É um mecanismo que funciona inversamente proporcional, ou seja, quanto mais se extingui algo mais se cria, quanto mais se suprimi mais se multiplica; podemos dizer, por essa razão que a invenção sempre contrainveta alguma coisa. Isso, por exemplo, corrobora a máxima popular de quanto menos se espera o amor mais próximo ele está de acontecer, justamente porque você não está a inventá-lo artificialmente ou forçosamente, e o inverso é verdadeiro, quanto mais se procura menos se encontra.
Para concluir, as ambiguidades são fatos, e temos talvez três opções diante delas: uma, recusar por inteiro, outra aceitar completamente, e uma terceira, que me parece a mais inteligente, equilibrar, aceitar em partes a ambiguidade e recusar em partes também, encontrando uma espécie de meio termo, que por natureza não é perfeito, mas satisfaz, traz conforto. Nesse sentido digo, sejamos medianos, pois este pode ser um modo de se equilibrar na inevitável incompletude das coisas e uma maneira de lidar com a ambigüidade sempre presente em tudo e todos.
segunda-feira, 18 de outubro de 2010
Carta à tímida
Querida,
*Apenas para evitar qualquer confusão ou algo do tipo, lembro que é uma ficção, povão. Tanto texto quanto fotos. Nada mais, cierto?
Sujei-o de batom
Naquela sala de espera, no ante-momento que decidiria os próximos caminhos da minha vida que é alheia e pessoal, sujei de batom aquele livro que me destes para ler enquanto o esperava. Como isso veio a acontecer? Pergunta grotesca, desconcertante. Peguei o livro e me entreguei à dança de segurá-lo com uma mão e folhear com a outra que, entre página e outra, também apoiava o queixo e tocava os lábios. Para confessar, na minha inquietude, a cada folha virada, a cada verso olhado e não lido, entre aqueles minutos eternos que você finalizava o seu trabalho, eu também roia os cantos dos dedos (as unhas, jamais) e foi assim que deixei a minha digital rosa na ponta superior daquele papel branco, sobre aqueles contos de teatro marginal.
Em desespero, fiquei. Como poderia aquela marca aparecer ali? Simples e inocente? Era a prova do meu desjeito. Minha reprovação. Minha censura. Tentei apagar com saliva (como a gente faz no colégio, quando borra o lápis e não tem borracha). Piorou. Sujou ainda mais. Era inútil qualquer tentativa de recompor a página branca, lisa, limpa. Marca de batom é marca para a vida toda. Esperei, conforme esperei minha condenação. Até que, na hora do juízo final, passou o livro ao meu pertencimento, com toda a minha culpa: “O livro é seu. Leve-o para você”. Deu-me de presente como a minha inocência vadia. Agora, eu posso sujá-lo verdadeiramente. É meu, mesmo impuro.
terça-feira, 12 de outubro de 2010
Dimytria I
Pegou seu celular e começou a ler as mensagens. Parou em uma:
"Te Amo A Lot Of"
Será que era isso mesmo? Porque nada se encaixava no modo como Pedro se comportava agora. Já não era mais aquele cara que roubou o primeiro beijo e que a tomava pelos braços.
A única certeza que tinha era que o amava ainda mais... mesmo depois de dois anos e de tantas mudanças ocorridas. Desconfiava da sinceridade de todos os " TE AMO" ditos por ele
segunda-feira, 11 de outubro de 2010
Posologia do porre a dois.
domingo, 10 de outubro de 2010
De onde vem esse vazio?
quinta-feira, 7 de outubro de 2010
Amanhecer

Sabe quando a gente perde a direção
Quando os amores já não são mais tão amáveis
E o que passou, desceu rasgando sem piedade
E você pensa, você jura
Nunca mais fazer o mesmo, nunca mais acreditar
E cada novo amor parece espelho do passado
Refletindo cada erro, repetindo cada cena
Sem pausar
E você quer seguir em frente
Reescrever a tua história
Outra vez, ainda mais
Mas te parece que os reflexos to passado
Viram fantasmas sempre prontos
Predispostos a tirar a sua paz
E cada um tem um palpite, uma receita milagrosa
Que te tire desse quarto escuro,
E te liberte dessa dor
Mas, de tudo que já ouvi
Nada mais duro e verdadeiro
Do que o que alguém
Essa semana me falou:
‘Ergue a cabeça, olha pra frente
Que o passado...
Esse... já passou.’
Tanta coisa aconteceu enquanto eu dormia
Mas agora abro a janela
E posso ver com clareza
Que já é dia.
Thaís Carvalho
Hai kai da humildade da fêmea
Acorda, deixe de foba
Pois não te quiero cheia de querer ser
quarta-feira, 6 de outubro de 2010
Dicionário da Mulher – Verbete: A dança
"Ninguém dança sóbrio."
Provérbio latino
De acordo com os ensinamentos de uma amiga, dessas que se tem mais do que amizade, a dança é, nada mais nada menos, do que 70% na hora de tentar o primeiro contato imediato com a intenção de chegar ao terceiro grau. Completando os dados do instituto de pesquisa Data/Romance, ela não me disse, mas arrisco afirmar que os demais 30% ficam a cargo do layout do sujeito, do papo dez e da confiança do abnegado.
É claro que a margem de erro se estica mais que borracha de estilingue, depende da ocasião. Sem verdades absolutas no cabo de guerra do amor. Mas não é por acaso que a minha querida diaba utiliza de métodos similares ao dos pesquisadores para provar que a dança é o atalho mais delicioso para alcançar o ouvido da madame.
Ah nós homens, somos tolos, cheios de embaraço em abrir mão da dureza segura de nossos quadris. Anos de educação negativa nos indicam que isso que coisa para os mais afrescalhados. Mentira. A mulher deseja de seu parceiro não só o acompanhamento, mas a condução dos passos. E para tanto, só sendo um “sem-vergonhi”. Elas gostam de “sem-vergonhis”.
Aos leitores-cinéfilos, não cabe a desculpa de falta de exemplos que provam a eficácia da dança. Vide o personagem do sempre genial Al Pacino, no fantástico “Perfume de Mulher”. Cego excêntrico, mas enxergava há quilômetros o valor do “dois pra lá, dois pra cá” bem executado. Vão de tango, a dança que mistura drama, romance e suspense de uma lapada. Nota-se que a moça, bem mais jovem diga-se, fica sem fôlego perante tamanha segurança. Risos e suspiros tímidos da pequena são os aplausos para o nosso herói.
Com algum tempo de jornada, confirmo que a dança de salão é um dos melhores pretextos para se falar as mentiras sinceras e verdades fantasiosas. É bom que só para flertar.
Não venho aqui enganá-los. Reconheço que ainda não fico nem perto de merecer o título de “Grão-mestre-pé-de-valsa”. Mas sou enjoado. Na minha teima, começo a apresentar sinais de evolução. Homo erectus dá espaço para o homem de swingtherndal. Entre uns passos em falso e pisões nos calçados femininos, vou assimilando a arte do entrançamento musical de corpos.
É sempre um prazer para o homem empunhar com a esquerda a mão delicada, na direita o quadril convidativo e no nariz o perfume de um cangote. O sacrifício de unhas pintadas com esmalte à serviço da dança é a materialização da compaixão superior de uma mulher, digno das deusas.
terça-feira, 5 de outubro de 2010
Mapa Astral

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Que os astros me perdoem, mas quem eles pensam que são para afirmar: “Sagitário não combina com peixes, câncer não combina com quase nada, e não adianta insistir”? Balela! Que coragem afirmar que as combinações amorosas se limitam a ascendência de um mapa astral! Prefiro acreditar na procedência.
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Câncer é emotivo? Errado. Seres humanos são emotivos, uns escancaram, outros engolem o choro. Relacionamentos com Áries é tenso, profundo, rico e desafiante? Pois bem, que relação não é? Será que existe o signo coringa, e ninguém soube ainda?
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De qualquer modo, é bom que exista o horóscopo de revista, o espaço preenchido no jornal local, e que continuem com os conselhos vazios do tipo: “O tempo da decisão chegou”, pode ser que você não tenha nada a decidir, mas é sempre uma leitura divertida.
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Mas por favor, caros leitores, não acreditem em horóscopo! Imagine o fim de um relacionamento, dois amantes chorosos, tristes pelos cantos, reclamando: “por que não nasci noutro mês? Teria dado certo...”. Os ascendentes que se preparem, vai sobrar pra eles.
quinta-feira, 30 de setembro de 2010
Dicionário da Mulher - Verbete: A virada de casaca
Em nosso raciocínio errado, pensamos que a razão pro cabra mudar de mulher, mas não mudar de time é: Se você é traído pela 1ª opção e continua, és corno, da categoria dos mansos. Um corno domesticado. Já na 2ª opção, você é fiel... Um chute pra fora do estádio, diria.
Lembrei dos versos de Leonardo, cantador de dores cornais como poucos, que afirma categoricamente: “eu deixaria tudo se você voltasse, meus sonhos, meu passado, minha religião”. Atente para o detalhe que não é mencionada a escolha de representante do esporte paixão nacional. Ele não deixaria.
Já uma mulher é mais decidida quando se trata dos assuntos da vida. Ela abre mão de tudo por um amor. A amante, aquela que te recebe com beijinhos após uma jornada na repartição digna de Hércules, não se prende ao um grupo onde onze machos suados correm atrás da pelota. Ela se prende a você.
De tão bem resolvida sobre o que realmente a fará feliz, vira a casaca. Vejam só, a virada de casaca é a prova de amor que nem o sertanejo goiano ousara. Esquece os gritos da torcida, não faz questão de lembrar daquele gol sagrado que findou o jejum de décadas sem título. É a memória seletiva em ação em prol do romance.
Confesso, não sou capaz de tamanha nobreza. Deixo tal gesto fidalgo, digno de Sancho Pança, para as fêmeas mais leais ao coração. Não é pra este são-paulino teimoso. Dedico este texto para todas as minhas amigas que foram valentes a ponto de trocar de time. E também não posso esquecer das flamenguistas, corintianas, palmeirense, vascaínas, entre outras que, por simpatia com este sofredor, passaram a considerar um pouco mais as três cores vermelho, branco e preto, nesta ordem.
Se o abestado reparar e valorizar tamanho sacrifício, quero valer como a fêmea vai jogar um futebol bonito nas quatro linhas do quarto. Abra o olho ou pegarás uma bola nas costas, chegado. Elas não precisam de três pontos. Elas precisam é de cariño. E desse jeito, elas levam fácil esse campeonato de pontos corridos das relações.
quarta-feira, 29 de setembro de 2010
Independência feminina

segunda-feira, 27 de setembro de 2010
Dicionário da Mulher – Verbete: Banho de chuva
É clara a relação entre a água fria, misturada com ventos que resulta em comichão no peito. Num toró, se usted é bom reparador de detalhes notará, a natureza se encarrega de acentuar, na base da água, a silhueta da mujer. “Eu me rendo”, é o máximo que o pobre diabo pode reconhecer dada a situação.
As gotas de água, que num daqueles fatos que provam a existência divina e não por acaso caem do céu, servem como cola para os tecidos que realçam os benditos formatos das vergonhas da fêmea. Ô lá de cima, gracias pela vista.
Aqueles que nunca beijaram sentido o sabor da mistura água das nuvens e saliva da amada são desconhecedores do gosto que supera o melhor dos drinques já criado.
O coito sob grande volume líquido entra sem dificuldade como capítulo de destaque no livro “Grandes momentos de nós dois” de qualquer casal. Recomendo que beije na nuca, nessa hora. Apenas recomendo. Se molhe. Larga mão do embaraço.
É na chuva que a paixão nasce. Brota, como um arremedo de uma planta. Vinga.
sábado, 25 de setembro de 2010
Soneto XXIII Sempre mais que antes
A cada nosso encontro um pouco mais se expande,
Mais pra diante lança a sua última barreira,
O que sinto por ti, que é já bastante grande,
Tendo dimensões como coisa passageira.
Qualquer breve gesto que a circunstância mande,
Qualquer sorriso, qualquer simples brincadeira,
É já razão para que ele mais longe ande,
Mais abrangendo do que a forma derradeira.
Se uma hora acho não poder te amar além
Do que já amo, nem mais, nem com mais fervor,
Que o seu limite, essa minha emoção já tem,
Algo acontece, algo aparece em teu favor,
E o meu amor, em expansões constantes,
Mostra que me engano, sendo sempre mais que antes.
*José Danilo Rangel
segunda-feira, 20 de setembro de 2010
Detalhes tão pequenos de nós dois - os cheiros
Há que se amargar a lembrança por tudo que te traz de volta. Ando perdendo minhas horas por aí e nada de você desalojar. Sinto seu cheiro. Seus cheiros. Em todos os lugares.
Seu perfume eu sinto toda vez que entro na loja de perfumes, e peço pra moça borrifar um pouquinho do seu cheiro no meu pulso. Daí eu saio da loja abraçado ao pulso, me olham como doente, e eu sigo de olhos fechados lembrando de cada segundo que tive esse cheiro só pra mim. Eu, ciumento até da luz que a faz mais branca, tendo de me abraçar ao meu pulso porque seu pescoço andava ao alcance de um outro marmanjo que jamais te amaria como eu amei.
Todas as manhãs, quando vou à feira, sinto o cheiro do seu pastel de queijo e do seu caldo de cana domingueiros, e choro copiosa e silenciosamente junto aos bagaços moídos. Preparo uma metáfora fajuta entre os bagaços e meu coração, e falho miseravalmente porque ninguém, nem um poeta delirante de amor, seria capaz de realizar tal metáfora de maneira bem-sucedida.
No restaurante do trabalho, se algum comensal pede suco de cupuaçu, meu olho se enche de lágrimas. Você odiava cupuaçu com todas as suas forças. Você dizia que fedia. E eu me lembro perfeitamente de você dizendo isso, com tanto amargor na voz - "cupuaçu fede, tira isso daqui".
Há que se amargar a lembrança. E sentir cada cheiro seu. Até comprei o mesmo aromatizador de banheiro que você usava, acredita?
sexta-feira, 17 de setembro de 2010
Amores outros e outros modos de amar
Bem, o amor indígena não significa casamentos arranjados, fruto de imposição autoritária, mas são experienciados como aprendizados, para depois concretizarem uma espécie de fusão, são amores que se constroem juntos desde muito cedo, são concebidos, o casal aprende um sobre o outro ao mesmo tempo em que vão aprendendo sobre si e, nesse sentido, o ‘eu’ se confunde com o ‘outro’, fazendo do ‘outro’ o eu, subvertendo a matemática, transformando dois em um. O amor deles é fruto de amizades infantis, com sentimentos fraternais que passam com o tempo a ser temperados por “químicas”, por proximidades corporais que não se saciam mais com contatos curtos. E então se dão conta que na verdade eram amigos diferentes, apaixonados sem saberem, com um desejo latente que esperava o momento certo para se manifestar, e que quando se manifesta torna a amizade e a sintonia construída ainda mais potente.
terça-feira, 14 de setembro de 2010
Eu Coleciono Amores Impossíveis
segunda-feira, 13 de setembro de 2010
Saudosa suruba
José Lins do Rego
Passo a mão no meu queixo, até notar a trairagem do acaso: aquele fio de cabelo comprido, presente involuntário esquecido no velcro camuflado de barba por fazer. E ela vai crescer ainda mais.
Para não se sentir largado tal qual o dono, convidará para fazer companhia as olheiras, olhos encharcados, nariz vermelho e boca murcha. É como disse o poeta cantador Fagner e faço questão de repetir “o cabra pode ser valente e chora”.
Tento fugir dessa saudade. Briga perdida. Ela está comigo e não larga. É a nota fiscal de um amor sincero que foi. Ou é. Sim, sim... Ele não morre com palavras esquentadas na frigideira da cólera. É preciso o tempo para matar.
Porém, este piadista de gosto duvidoso resolveu andar a passos vagarosos, só pra ver no que dá. E não dá. Eu a magoei. O que na hora parecia questão de vida ou morte, agora nem cabe na gaveta dos “fuleiros e desimportantes sentimentos”.
Ahora, solo mi riesta terminar essa garrafa de tequila com a Saudade. Essa bêbada desagradável vai dormir comigo nesta noite. E pra completar a putaria bacanesca da minha fracassada biografia amorosa, essa minha amante convidará sua parceira de imoralidade rampeira, a Esperança.
Se a amada se foi, fico aqui, nesse inglório ménage à trois com essas duas vadias.
terça-feira, 7 de setembro de 2010
terça-feira, 31 de agosto de 2010
Filosofia zecapagodiana
