
Campanha do Dia dos namorados 2007
da loja SEMPREPRESENTE
Rio Branco-Acre.
Um ano se passou e muitos foram os desencontros, mas durante esse tempo algo parecia não estagnar. Ele chegou atrasado, inquieto, sem frases prontas e parecia inseguro, como se tivesse 12 anos ao encontro do primeiro amor. Ela estava exuberante, com um sorriso arrebatador de grandes lotes desse latifúndio amoroso.
Esperaram pacientemente à fila quilométrica, riram das peças que à vida os pregara, falaram dos filmes por assistir, do dia quente que migrava para a noite, das interpretações alheias (com o alheio ao lado). Por fim, sentaram na terceira fila do pequeno cinema d’Ávila.
O tempo havia levado a sincronia de intenções e já não se sabia o motivo do encontro, mas àquela altura isso não importava. Estavam juntos, de mãos dadas e sem clareza alguma do futuro.
As luzes se apagam, as cenas começam, uma explosão de informações, sons e imagens especiais fixam os olhares de todos na grande tela. O filme rouba a cena do casal desconhecido, a pipoca e o refrigerante são deixados de lado e os assuntos pendentes são engolidos pela enorme cratera do receio.
Receio esse, que tem cura. Sugerimos a Hollywood que ao invés do fracasso da classificação indicativa, adote imediatamente a Classificação de Intenções nos seus clássicos da sétima arte.
Classificações como: IPAC – Indicado para os Amantes do Cinema ou IPA – Indicado para Amigos, e claro, o IPE – Indicado para Primeiro Encontro, esse em especial deve colecionar aqueles filmes que após uma cena de cortar o coração (geralmente comédia romântica), usam uma tela escura, com uma pausa musical de uns 5 segundos, criando o ambiente ideal para aquele beijo primogênito. Temos absoluta certeza que Hollywood adotará à medida, afinal de contas, o que seria do cinema sem os amantes?
Estava a quase 100 km/h, era uma noite extremamente gostosa, fria. Tentava não fechar os olhos com vento que batia no meu rosto ao colocar a cabeça rapidamente para fora do carro. A música estava alta, o som abraçava cada pedacinho daquele automóvel e caminhava pela minha mente despertando sentimentos adormecidos.
Minha vontade era ir para um lugar longe, distante de tudo, queria ficar sozinho ouvindo aquela musica triste. Estava deprimido, queria pegar aquele carro e voar para longe das minhas lembranças, fugir de mim mesmo.
Queria contemplar aquela escuridão infinita da noite e esquecer as tempestades que varreram todos os alicerces da minha emoção. Aquela rua era asfaltada de lembranças que brincavam em cada curva comigo.
Parei em lugar nenhum, senti as gotas caçoarem em seu pequeno trajeto rumo ao chão. Aquela chuva era diferente, ela não regava, não produzia vida, ao contrário, estava esvaziando uma grande parcela dela. Os soluços tornaram grandes trovões que ecoavam no vazio em meu peito.
Provei o gosto amargo de cada migalha contida no âmago das minhas lembranças, mastiguei e cuspi fora tudo aquilo que me fazia querer desistir, era ladrões ensinados por mim mesmo a apanhar a minha alegria.
Lembrei que quando estou fraco então sou forte, pois a fraqueza desperta diante da humilhação pessoal e espiritual a regeneração. Olhei para todos aqueles fantasmas que a pouco possuíam meu corpo e absorvi a primeira remessa de vida nova. Não importava agora se eu estava em lugar nenhum, a estrada que me levou até ali, agora nunca mais seria usada.