Ela queria se apaixonar porque o amor é assim, é uma questão de querer. Ficava horas isolada ouvindo seus pensamentos, e não precisava muito para convencer seu coração a entrar de encontro com essa querência.
Não era capricho. Só quis amá-lo. Não se importou de sentir-se
asfixiada ao lembrar do sorriso dele, das mãos que percorriam seu
corpo e nem daqueles olhos graúdos que se fechavam quando a beijava à
boca.
Gostava do coração batendo, entoando sonetos. Gostava dos olhos cheios
de saudade, gostava do cheiro da lembrança que a acalmava, de tê-lo em
pensamentos todos os dias ao acordar. De ficar com o olhar perdido diante as situações mais inusitadas, dos pequenos deslizes, desastres que cometia quando a mente vagueava em busca dele.
Naqueles abraços ela se encontrava, encontrava cada pedaço que pensava ter perdido em algumas situações. A tristeza entrava em estado de calefação quando era anunciado um encontro entre aquelas duas almas, a dela, que julgava estar perdida há tempos, com a dele. Ele encontrou o âmago perdido dela. Aos poucos, o interesse dela não era pegar algo que lhe pertencia, mas sim, de vê-lo e estar com ele. Nesses encontros, viu como o ser é transcendente, principalmente quando se ama.
Queria sentar ao lado dele e contar as coisas que tinha visto, das
experiências vividas e observadas, apresentar-lhe suas teorias, mas a
vontade quando estava próxima a ele, ultrapassava o desejo de falar e se
contentava muito mais em ouvi-lo, de observar cada expressão facial e
de apreciar cada brincadeira.
O cabelo negro espalhado pelo lençol branco da cama, fones de ouvido e
os olhos de um castanho profundo perdidos nos pensamentos.Eram dele
aqueles sorrisos dados em meio a tormenta da sua vida, dos dias
nublados. Gostava de lembrar que já deitou ao lado dele e se entregou,
entregou-se como nunca tivera feito antes.