quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Receita para um relacionamento saudável



Cientistas de alguma universidade importante da Europa, pesquisaram, pesquisaram... e chegaram a uma conclusão, no mínimo, curiosa: a receita do relacionamento saudável. Consiste em medidas exatas de comportamentos, para que não se desgaste o relacionamento a dois.


Aos dados: o “eu te amo” não deve ser pronunciado mais de 5 vezes por mês, segundo eles, isso pode contribuir para a dependência do outro, causa fundamental dos casos crônicos de ciúmes e esquizofrenia.


Nada de rodízios de carinho. Além de ser limitado duas vezes por semana, deve-se evitar mudanças bruscas no modo como agradamos o cônjuge, pois isso evita o tão propagado câncer de carência de atenção. Mas caso você extrapole (ninguém é de ferro), pode balancear com algumas horas de preocupação com a carreira ou com o risco da bomba atômica do Irã.


O segredo da vida feliz consiste, assim, na burocratização do amor. É leitores, burocracia é chata, mas necessária, uma gestão bem feita pode estabelecer o perfeito controle da situação. Sendo assim, beba essas palavras, caso não queira viver.

domingo, 20 de novembro de 2011

Da camiseta



Receio em pedir de volta a camiseta. Medo. Daqueles medos que se tem de saber a verdade por que mais que seja ela ruim. Fingir que é boa também não adianta nada. Ela foi minha, mas tão tua ao mesmo tempo. E não lembro, mas acho que foi de muitos outros antes de nós. Usávamos eu e tu e às vezes ao mesmo tempo. Mas acabou ficando sem mim. Ficava melhor em ti, confesso. Todo cinza é teu e isso nada vai mudar. Está registrado em ata. Se carregas contigo ou se guardas no fundo da gaveta junto com aquelas que estão furadas, com as mangas rasgadas, talvez comida por traças, manchada de água sanitária ou simplesmente apertada, se mandaram-te queimar ou doar para necessitados ou fizeram-na de pano de chão: não me importo. Só queria certificar que ela passa bem mesmo amassada. 

*Texto de Kaline Rossi

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Perigo à vista


Uma menina num jardim fotografa girassóis com cheiro de jasmim. Em sua memória, a imagem de um móbile de peixes, que ela fotografou ontem, na casa de um amigo seu. Ela tenta ilustrar algo que não tem nome. Se o amor existe, afinal, qual é a sua cor? Sua forma e textura? Se não tem nome, será mesmo que existe? Se não existe, o que existe, então? Aquelas flores bem que poderiam ser jasmins disfarçados de girassóis. E aqueles peixes... ah, se fossem pas-as-ri-nhos! Se é amor, pode ter nome, cor e forma que a imaginação permitir. E pode se alterar com os dias... Crescer, se intimidar, ficar de longe e criar uma saudade só para ter o gostinho do reencontro. Pode ir embora só para forçar um beijo mais forte de despedida. E, na noite do dia seguinte, ele vai perguntar: como foi seu dia hoje? Ela vai falar que fez fotos de nove balões voando. Uma parte é mentira, a outra é um convite para voarem juntos. Quando perguntar sobre o dia dele, ele vai falar de política e economia só para calcular, do jeito certo, um sentimento que dispensa cifras e regras. 

[...]

Quando ele abriu os olhos, ela já estava com a mão na chave quase ligando o carro. Ele demorou a voltar ao mundo real e notar que o cheiro de jasmim vinha de um canteiro miúdo e não daquele jardim para o qual foi transportado enquanto a beijava. Tocava qualquer música do Queen, que também podia ser Beatles, The Doors ou Led Zeppelin. E foi apenas um drink de morango com abacaxi, meio sem açúcar, com uma vodka meio aguada, que a fez fechar os olhos e se deixar bailar, enquanto ele brincava com os cabelos e tentava lembrar o nome da música. E ela foi capaz de passar o dia inteirinho lembrando o segundo em que aqueles lábios se tocaram pela primeira vez. “Tudo está nos olhos” – ele pensava. Mesmo sendo capaz de evitar prováveis mal-entendidos (mesmo lembrando que: o que atrapalha um relacionamento é o anterior), ela soube: está tudo perdido. Tentou transverter tudo em literatura para ver se aquele sentimento se imprimia e fugia por entre os dedos e seguia para o mundo da terceira pessoa, daqueles que vão e não voltam nunca mais, até serem reencontrados, por acaso, na gaveta do esquecimento. Mas, o máximo que conseguiu foi traçar algumas poucas linhas em que “ele” e “ela” são os mesmos, com a simples ilusão de que é capaz de dividir, decifrar e decidir. 

*da série de inacabadas.