segunda-feira, 30 de maio de 2011

Pedras no peito

Em um quarto vazio.
A chuva caindo como que querendo anunciar o presságio de algo ruim. A mal-iluminação, a situação e o aperto no peito.
Mesmo que conseguisse afastar aquele peso, não saberia se era o melhor a se fazer.
Alguns de seus velhos cadernos - há muito tempo evitara escrever, afinal, isso só aumentava seu estado de torpor - achados, espalhados á sua frente, todos preenchidos com escritas mal organizadas, desenhos sem sentido e riscos rústicos.
A velha caneta - e a tinta que parecia nunca acabar - tudo encontrado no mesmo lugar, como se tivesse encontrando a paz que parecia sempre querer fugir de sua vida.
Se você esforçar-se somente um pouco e repousa-se sobre a pequena seus olhos, notaria o seu semblante sombrio. Enxergaria seu quase imperceptível desespero gritante.
Ela queria se livrar de tudo aquilo e nunca conseguiu, não consegue e provavelmente não conseguirá.
Suas mãos, trêmulas, vasculhavam seus cadernos á procura de folhas em branco, e quando as encontrou começou o seu discurso sem hesitação:

Hoje, eu morri novamente
Com o toque das
minhas pálpebras
Com o suspiro e a respiração
que somente existem para lágrimas.
As lamúrias constavam mais de mil anos
em meu apodrecido peito.
Eu quis novamente viver
E o custo da escolha foi o meu retorno ás origens...
Aquelas que me separei e mandei embora.
Meu sentir - já tão debilitado - Outra vez ajoelha-se implorando
á mim para sua extinção.
Toco uma última vez na face dessa
desordem
e a deixo á mercê de suas próprias displicências.
Adequa-se á outra - maldita -
não existe mais apego em mim
E eu continuo debruçando sobre meu caos melancólico.
Sobreviverei.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Manual da nova vida solitária

Primeira parte.

"Eu passei na frente do prédio dela / Mas pensei: eu nunca vou por aqui / Fiquei feliz em só passar na frente do prédio dela / I just believe in love"

Funciona assim: um dia você decide que já deu e resolve mudar; de emprego, de ideal, de projeto acadêmico, de localidade. Você acha que assim, e com algum esforço, também vai conseguir tirar o ser sobrehumano colado no peito. Pode até ser. Mas lembre-se de evitar as bandas da sua antiga localidade. Eu, por exemplo, não gostava da Filomedusa quando morava em Rio Branco... Bastou ouvir uma única vez, agora que estou longe e não posso ver de perto vez em quando, pra resolver que é a melhor banda no arquivo do meu iPod. Por que? Algumas letras imitam a vida. Ou o contrário.

"Fiquei feliz em só passar na frente do prédio dele" [leve adaptação].

domingo, 15 de maio de 2011

eu esperei


Eu esperei pelo seu beijo. Logo eu que nunca fui de esperar por nada nem ninguém. Sempre tão decidida com aquilo que queria ou deixava de querer. Sempre ação e não reação. Mas por você eu esperei. Por um sinal, qualquer tipo que fosse, que mostrasse que você se importava, que estava ali para mim. Mas nada. Então eu esperei. Esperei que você tocasse a minha mão. Esperei que me sussurrasse algo no ouvido. Esperei que não fosse embora. Esperei que você me pedisse para ficar. Esperei, e ainda estou a esperar. E acredite, eu me odeio por isso.